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De acordo com uma pesquisa recentemente divulgada pela Enlight, consultoria especializada em diversidade, o número de mulheres em cargos de liderança no Brasil cresceu de 6,3% para 7,3%, entre 2017 e 2018, o maior aumento desde 2015. De acordo com o consultor empresarial e colunista da Folha de Londrina, Wellington Moreira, a representatividade das mulheres poderia ser ainda maior e isso não ocorre por um fenômeno: o teto de vidro. Esse é o motivo. "Algumas áreas muito valorizadas, em determinadas empresas, não são confiadas às mulheres pelo receio de que não estejam tão comprometidas por conta das tarefas que conciliam, como o cuidado com os filhos.

Moreira dá um exemplo: "A necessidade de viajar pode ser um empecilho". cita. Por outro lado, o consultor explica que o binário homem versus mulher não deve ser encarado com essa rigidez. "A trajetória de cada um, homem ou mulher, é muito individual e a competência e os resultados é que são determinantes", sustenta. Entre as competências a destacar, Moreira aponta que os empregadores consideram as mulheres mais intuitivas, flexíveis e dispostas a lidar com a mudança e tolerantes. "A maioria ascende à posição de liderança muito jovem, antes de se casar".

O estudo da consultoria McKinsey de 2017 mostrou que empresas cujas equipes executivas apresentam maior diversidade de gênero têm lucratividade 21% acima da média. "Se há diversidade étnica, os lucros são 33% maiores", é um outro dado apresentado pela pesquisa. Experiências profissionais mostrando como a diversidade é positiva são prova disso.

Maria Madalena Ramos, gerente do Pronto Atendimento da Unimed: “A partir do momento em que a empresa confiou no meu trabalho, eu disse sim e aceitei novos desafios”
Maria Madalena Ramos, gerente do Pronto Atendimento da Unimed: “A partir do momento em que a empresa confiou no meu trabalho, eu disse sim e aceitei novos desafios” | Foto: Gustavo Carneiro

Em Londrina, a gerente do Pronto Atendimento da Unimed, Maria Madalena Ramos, 54 anos, atua há 23 na empresa. Sua trajetória teve início como Enfermeira do Setor de Ambulâncias. Passados seis anos, foi promovida a Gerente de Contas Médicas, esteve à frente do Serviço de Atendimento Domiciliar e há um ano assumiu a nova responsabilidade. "Todas as etapas foram importantes para o meu crescimento profissional e a partir do momento em que a empresa confiou no meu trabalho e no meu potencial, eu disse sim e aceitei novos desafios porque estava preparada". Maria Madalena lidera 130 colaboradores e 90 médicos. "Eu faço o que gosto e estou sempre me motivando". Para os que têm perfil e estão começando, sugere: "não tenham medo, dediquem-se e aprendam, busquem conhecimento."

A advogada Vânia Regina Silveira Queiroz, 61 anos, é a primeira mulher a assumir a presidência da OAB - Ordem dos Advogados do Brasil, Subseção Londrina. Eleita no final de 2018, Vânia Queiroz representa 7.300 advogados inscritos e explica que foi uma decisão bem amadurecida. "Nós, mulheres, sabemos as montanhas que temos que remover e não sou feminista, mas luto pelo reconhecimento das mulheres e sou uma incentivadora delas", diz.

Vânia Regina Silveira Queiroz, presidente da OAB-Londrina: “Luto pelo reconhecimento das mulheres e as incentivo”
Vânia Regina Silveira Queiroz, presidente da OAB-Londrina: “Luto pelo reconhecimento das mulheres e as incentivo” | Foto: Jonas Pereira/ Divulgação

Na sua opinião, a ascensão a cargos de liderança acontece naturalmente, quando o desempenho profissional chama a atenção no meio de trabalho. "Foi exercendo ativamente a profissão de advogada que paralelamente passei a me dedicar à Ordem. O cargo de presidente é motivo de muito orgulho e representa respeito, cidadania na liderança da Mulher. É o protagonismo da mulher com a superação de uma sociedade que avançou na emancipação feminina", afirma.

Ela também considera que a situação da mulher hoje é muito diferente e que seu papel avançou nas últimas décadas: "Hoje transito no cargo de presidente respeitando as lideranças masculinas e colaboradores, sem jamais perder as minhas características de mulher, consciente de que quebramos velhos paradigmas no curso de 60 anos de liderança masculina na OAB/Londrina. O olhar feminino pode trazer forte colaboração e fixar o trabalho da mulher como uma das principais transformadoras da sociedade, acreditando que o País pode ser mais equalitário e sem preconceitos arcaicos"
"De um pneu, fiz dois"

Proprietária do Auto Center Bandeirantes, Sandra Souza, 54 anos, começou sua jornada profissional como vendedora de pneus. Era seu primeiro emprego, onde atuou por 18 anos na unidade até que essa encerrasse atividades - iniciou solteira e encerrou a sua participação casada e com as três filhas. "Eu era a melhor vendedora, sempre me destaquei". Com o término do contrato de trabalho, o empreendedorismo moveu Sandra. "Primeiro abri um lava-rápido, fui evoluindo, incluí a mecânica, fiz de um pneu dois e decidi abrir a empresa", resume.

Sandra Souza, empresária:“Sempre tive vontade de vencer, de ser alguém na vida e lutei contra as adversidades, eu tiro de letra lidar com todos”
Sandra Souza, empresária:“Sempre tive vontade de vencer, de ser alguém na vida e lutei contra as adversidades, eu tiro de letra lidar com todos” | Foto: Gustavo carneiro

Compras, atendimento, negociação. Sandra é figura sempre presente em todos os setores, tem uma relação horizontal com seu pessoal e é responsável por 60 colaboradores, a maioria homens. "Eu nasci no sítio, sempre tive vontade de vencer, de ser alguém na vida e lutei contra as adversidades, eu tiro de letra lidar com todos", alegra-se. O marido Luiz Carlos somou forças à empresa, cuida da parte operacional do setor de mecânica, a filha recém-formada em Direito, Ana Beatriz, uniu esforços à família. Bruna, a do meio, comanda a outra empresa da família, também especializada em pneus, inaugurada há três anos. Já Nayra, a mais velha, é piloto comercial de uma grande companhia área. "Eu me realizo no meu trabalho e acredito que possa inspirar outras pessoas". Já inspira, Sandra!