O mercado de TI (Tecnologia da Informação) teve um boom durante a pandemia da Covid-19, após um aceleramento do processo de transformação digital nas empresas. Muitas vagas foram criadas - inclusive com oportunidades fora do Brasil -, mas ainda falta mão de obra qualificada para dar conta nesse mercado em expansão.


Em Londrina, a estimativa é que apenas duas empresas multinacionais, a indiana TCS (Tata Consultancy Services) e a francesa Atos, tenham mais de mil vagas na área. A informação é do diretor de Ciência e Tecnologia do Codel (Instituto de Desenvolvimento de Londrina), Roberto Moreira.



“Londrina tem muitas empresas, então, esse número é muito maior. Hoje a cidade tem com certeza mais de mil vagas abertas, mas são vagas que precisam de mão de obra qualificada”, explica Moreira.



Tentando dar conta dessa demanda, o Codel/Idel (Instituto de Desenvolvimento de Londrina) lançou algumas ações visando a qualificação de londrinenses. Uma delas é o programa Empregatech, que oferece gratuitamente aulas sobre Java, Javascript, HTML e CSS, além de computação básica e inglês para jovens entre 17 e 25 anos. O foco, como explica Roberto, é “capacitar diretamente para essas vagas em aberto”.



A administração também vai oferecer, via Secretaria Municipal do Trabalho, Emprego e Renda e em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), mais de mil vagas para ensino focado em TI.


E, pensando a médio e longo prazos, o projeto Letramento Digital deve atender 2 mil estudantes da rede municipal. O intuito é o desenvolvimento de habilidades digitais e a inclusão social por meio da Educação Tecnológica. “Estamos também idealizando outras ações para dar uma resposta a essas vagas em aberto”, pontua o diretor da Codel.


MUTIRÃO
Recentemente, a Prefeitura de Londrina realizou um mutirão para preencher 110 vagas da empresa TCS. Segundo Roberto, foi uma primeira experiência e trouxe muitos interessados.

Geralmente, a contratação de TI ocorre pelo Linkedin, que é uma mídia social focada em negócios e emprego, ou por meio de hunters (caçadores, em português), que procuram talentos na área.

“Elas [empresas] não utilizam a Secretaria do Trabalho. A gente sabe e tenta mudar essa cultura. Uma pessoa para ser descoberta por uma empresa de TI tem que ter um Linkedin ou um perfil ativo nas redes sociais”, explica Moreira.

A tendência é que em breve seja realizado mais um mutirão, agora com vagas para a francesa Atos. “A gente pretende criar essa cultura de divulgar as vagas via Secretaria do Trabalho”.


FORMAÇÃO
O professor Wladimir Marcondes de Barros, 40, atua há 13 anos na área de programação e é proprietário da WMBarros, que oferece treinamento em TI desde 2015 em Londrina. Ele acredita que o mercado sempre esteve aquecido, mas agora tem ficado em evidência.

“Eu vejo que agora, por essa alta demanda, elas [as empresas] estão realmente recorrendo para outros meios, e não somente presos às parcerias [com faculdades]. Eles entraram em contato, falei com eles. Devido à grande necessidade e a falta de mão de obra qualificada, estão procurando pessoas e abrindo até mesmo exceções para quem não tem faculdade, que era uma coisa que eles exigiam”, explica Barros.

"Devido à grande necessidade e a falta de mão de obra qualificada, estão procurando pessoas que não tem faculdade, que era uma coisa que eles exigiam”, explica  professor Wladimir Marcondes de Barros
"Devido à grande necessidade e a falta de mão de obra qualificada, estão procurando pessoas que não tem faculdade, que era uma coisa que eles exigiam”, explica professor Wladimir Marcondes de Barros | Foto: Douglas Kuspiosz


Nesse cenário, o profissional que possui qualificação e tem um bom portfólio acaba se destacando no mercado. “E aí entra um cenário ‘oceano azul’, porque essa mão de obra qualificada não vai ter assim tão fácil. Tem esses estudos [dizem] que vai ficar muita vaga em aberto em até cinco a dez anos na área de programação”, acrescenta.

Assim como Roberto Moreira, o professor vê que as multinacionais oferecem muitas vagas em Londrina, mas a demanda tem crescido em outras empresas menores.

“Tem algumas empresas que os donos conhecem a gente e já vêm direto: ‘Mande seus melhores alunos’”, ressaltando que, no município, o profissional que atua em todas as frentes - análise, front-end, back-end e banco de dados - acaba saindo na frente.

Segundo Moreira, as empresas também veem com bons olhos o profissional que migra para o TI. Ou seja, ter a formação em outra área e ter experiência também pode agregar na busca por uma vaga de emprego.

PROFISSIONAIS
O londrinense Gustavo Begtsom Ribeiro, 19, é uma das pessoas que viram na programação uma nova possibilidade profissional. Ele estudava Biologia, mas percebeu que não era o que gostaria para sua carreira. “Resolvi me aventurar pela área de TI, logo nos primeiros momentos eu já me identifiquei com a área”, conta, pontuando que estuda há cerca de seis meses na escola de Barros.


Recém-contratado por uma empresa de Londrina para atuar como trainee de suporte, Ribeiro acredita que o setor de tecnologia vem crescendo “exponencialmente” nos últimos anos, principalmente devido ao acesso fácil à internet, aos novos modelos de negócio e até mesmo pelo trabalho remoto.


“Existem muitas vagas sendo abertas para essa área, algumas mais exigentes que outras, mas é certo que esse número vai aumentar ainda”, acrescenta.



“Como suporte eu tenho a incumbência de fornecer assistência e resolver eventuais problemas em sistemas operacionais, especialmente sistemas relacionados ao setor de postos de combustíveis e supermercados. Posso também tirar dúvidas relacionadas aos sistemas e outras tecnologias da informação”, completa o programador.

Vinicius Ricieri decidiu empreender e criar o Dix Sistema, voltado à gestão empresarial, e já possui cerca de 400 clientes em todo o Brasil
Vinicius Ricieri decidiu empreender e criar o Dix Sistema, voltado à gestão empresarial, e já possui cerca de 400 clientes em todo o Brasil | Foto: Douglas Kuspiosz

Outro aluno que passou pela escola é Vinicius Ricieri, 36. Mas, ao invés de procurar emprego em uma empresa da cidade, ele decidiu empreender e criar o Dix Sistema, que é utilizado para a gestão empresarial. Hoje, a empresa possui cerca de 400 clientes em todo o Brasil.


Ricieri conta que decidiu estudar programação há três anos. Ele tem uma empresa na área de comunicação visual, o que já garantia uma proximidade com o meio da tecnologia. “Eu sempre gostei da área”, resume.



O sistema foi desenvolvido ao longo de um ano e meio. A colocação no mercado e a comercialização levou algum tempo, mas a empresa tem crescido nos últimos meses. “Demorou para chegar os primeiros dez clientes, mas depois despontou”, diz. “Para mim foi sensacional. Posso dizer que a programação mudou minha vida.”

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