Segundo um levantamento realizado pela Liga Ventures, existem hoje no Brasil pelo menos 122 HRTechs, as startups de Recursos Humanos. Conforme o estudo, as HRTechs podem ser definidas como “o conjunto de soluções com base tecnológica que oferecem ao setor de Recursos Humanos oportunidades de inovação, redução de custos, aumento de eficiência e maior inteligência nos processos que envolvem o dia a dia dessas áreas nas empresas”. No Paraná, existem quatro startups mapeadas no estudo.

Abler, de Curitiba: empresas conseguem fechar vagas até 70% mais rápido usando plataforma da startup
Abler, de Curitiba: empresas conseguem fechar vagas até 70% mais rápido usando plataforma da startup | Foto: Divulgação

O setor de RH ainda é bastante “operacional”, diz Ariel Silva, diretor de Tecnologia da ABRH-PR (Associação Brasileira de Recursos Humanos do Paraná). Um exemplo são os processos de recrutamento e seleção. “Com o número de desempregados alarmante no País, para fazer um recrutamento de forma acertada, tem um trabalho muito árduo e operacional. Startups que já trabalham com Inteligência Artificial trazem resultados muito mais ágeis.”

“Esse movimento (das HRTechs) é a grande oportunidade que o profissional de RH e o setor têm de se tornarem mais estratégicos”, diz Silva. Isso porque a tecnologia ajuda a tornar os processos mais ágeis e libera tempo para operações mais estratégicas, que são as que trazem contribuições mais substanciais para o resultado final das empresas.

“O RH é uma área que estava muito mais acostumada a apoiar a inovação que trazer inovação, que ser agente de inovação”, diz Raphael Augusto, diretor de Inteligência do Liga Insights. Para ele, a tecnologia abre muitas oportunidades no setor. Algumas das possibilidades são a identificação do profissional que mais se ajusta à cultura da empresa por meio de Inteligência Artificial nos processos de recrutamento e seleção; o monitoramento de dados para acompanhamento do desenvolvimento dos profissionais; o acompanhamento e o engajamento dos colaboradores com vistas na saúde e no bem-estar.

A Abler, de Curitiba, é uma plataforma de recrutamento e seleção que usa IA (Inteligência Artificial) para indicar aos candidatos as vagas mais indicadas para o seu perfil e às empresas o candidato mais adequado para a sua vaga de acordo com o seu currículo, seus conhecimentos técnicos e o seu perfil comportamental, inferidos a partir de testes. A empresa cresce 31% ao mês. Tem 63 empresas clientes de todas as regiões do País e ajudou mais de 3,5 mil candidatos a entrarem no mercado de trabalho só esse ano.

Abler, de Curitiba: empresas conseguem fechar vagas até 70% mais rápido usando plataforma da startup
Abler, de Curitiba: empresas conseguem fechar vagas até 70% mais rápido usando plataforma da startup | Foto: Divulgação

Segundo Alisson Souza, CEO da Abler, as empresas conseguem fechar vagas até 70% mais rápido usando a plataforma. “Hoje, as empresas ainda costumam receber currículos por e-mail. Isso é muito pouco produtivo e acaba tomando muito tempo”, comenta Souza. O CEO, que trabalhou por sete anos no setor de Recursos Humanos, afirma que as primeiras etapas do processo de recrutamento e seleção são as mais problemáticas. “Criar a vaga, divulgar e depois receber os currículos”, diz.

A SafetyTec, de Curitiba, está inserida no segmento de segurança do trabalho. A startup, incubada na aceleradora da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), oferece uma plataforma que centraliza informações sobre fornecedores de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) de forma mais prática. Além disso, a plataforma permite ter acesso a avaliações de outros clientes sobre a empresa. Isso, segundo o sócio Thiago Evelino, trouxe mais relevância e credibilidade à ferramenta.

SafetyTec, de Curitiba, centraliza informações sobre fornecedores de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) em uma plataforma
SafetyTec, de Curitiba, centraliza informações sobre fornecedores de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) em uma plataforma | Foto: Divulgação

“O Brasil figura como o quarto País onde mais ocorrem acidentes de trabalho”, diz Evelino. Para ele, a ferramenta permite que as empresas tenham acesso mais rápido a informações sobre fornecedores de qualquer lugar do Brasil, além de “dar voz” aos usuários. “As ferramentas digitais nos permitem evoluir baseados em reviews e na experiência do usuário.”

Atualmente, a empresa já conta com 45 fornecedores do Brasil inteiro que colocam informações sobre sua empresa na plataforma da SafetyTec. “Na outra ponta, há milhares de usuários que geram tráfego na página”, completa Thiago Evelino, um dos sócios. A empresa cresceu 64% em – e cresce 6% ao mês.

Irmãos transformaram agência de emprego em plataforma digital

Os irmãos Bruno e Lucas Ortiz tiveram uma agência de empregos em Apucarana por oito anos. Para tornar o negócio mais escalável, transformaram a agência em uma plataforma digital.

A Empregor, voltada aos processos de recrutamento e seleção, foi desenvolvida com foco nas PMEs (Pequenas e Médias Empresas) e já tem mais de 50 empresas cadastradas. “A maioria das plataformas têm um ticket alto, são voltadas para as grandes empresas. E percebemos que a maioria das PMEs fazem contratações de forma arcaica – não têm métricas, passo a passo”, conta Bruno Ortiz. Segundo ele, as pequenas e médias empresas representam mais de 90% de todas as novas contratações no Brasil inteiro. “E as ferramentas são feitas para só as demais 10% de empresas que estão contratando.”

A plataforma ajuda empresas a terem mais assertividade na contratação de funcionários através de métricas sobre o perfil comportamental dos candidatos, obtidas por meio da aplicação de testes. Usando essas métricas, a plataforma também faz aos candidatos recomendações de vagas que têm mais a ver com o seu perfil. Uma segunda ferramenta, ainda em desenvolvimento, usará Inteligência Artificial para informar ao recrutador o percentual de compatibilidade dos candidatos de acordo com os pré-requisitos da vaga.

Setor deverá aquecer com a retomada da economia

O Brasil, na visão de Augusto, tem um grande potencial no desenvolvimento das HRTechs, porque é um País populoso, com grande número de profissionais que passam diariamente por processos de admissão nas empresas. “É uma das áreas como maior possibilidade de aplicação e de colher resultados em curto prazo.”

O mercado das HRTechs no Brasil, no entanto, ainda está em amadurecimento e as empresas estão começando a trazer tecnologia para os seus setores de RH. Um grande desafio está relacionado à autonomia que o setor tem na adoção de soluções tecnológicas dentro das empresas, cuja decisão ainda está muito vinculada ao setor de TI (Tecnologia da Informação). Além disso, o setor de RH está ligado ao mercado de trabalho, que no momento enfrenta alto nível de desemprego. “Muitas soluções acabam ganhando relevância quando o mercado volta a aquecer.”

Mas com a retomada da economia brasileira, a tendência é que mais contratações sejam feitas, lembra Bruno Ortiz, da Empregor. No caso da plataforma criada por ele e pelo irmão, quem quer trocar de emprego também pode ser um usuário da ferramenta.