Hotéis de Londrina e região estão negociando com o poder público e com prestadores de serviços para tentar sobreviver em meio à pandemia, que provocou uma brutal baixa na ocupação dos estabelecimentos.

Apesar das dificuldades, em todo o Estado é possível destacar uma série de ações desenvolvidas pelos hotéis para enfrentar este período, que afetou de maneira muito importante o turismo de negócios e as viagens de lazer.

Hotéis têm procurado seguir todos os protocolos de segurança contra o coronavírus, o que inclui medir a temperatura dos hóspedes e redobrar os cuidados com a limpeza
Hotéis têm procurado seguir todos os protocolos de segurança contra o coronavírus, o que inclui medir a temperatura dos hóspedes e redobrar os cuidados com a limpeza | Foto: iStock

A Ameh (Associação dos Meios de Hospedagem de Londrina e região) reivindicou que o pagamento de impostos e de tarifas de energia elétrica e água seja adiado para o próximo ano, sem a incidência de juros.

“Ainda estamos esperando uma definição. Não sabemos quando tudo isso vai acabar”, destacou Fabiane Vezozzo, presidente da Ameh e diretora do Bourbon Hotel.

De acordo com ela, todos os empresários do setor estão tendo de tirar dinheiro do próprio bolso hoje para manter os hotéis em funcionamento. “Para se pagar, um hotel precisa ter de 30% a 40% de ocupação”, destaca.

Como o turismo de negócios e os eventos sociais estão praticamente parados, uma das saídas seria o turismo rural na região. “Seguimos todos os protocolos para que o hóspede e funcionários tenham a máxima segurança. Eles podem se hospedar tranquilos”, frisou.

Entre as medidas adotadas no Bourbon, por exemplo, está a limpeza constante das áreas comuns, a disposição de álcool em gel em diversos pontos do hotel, o maior espaçamento das mesas do bar e do restaurante e a adoção do sistema a la carte em detrimento do bufê.

A média de ocupação do hotel ficou em 11% no período de março a agosto deste ano. No mesmo período do ano passado, sem a pandemia, o índice foi quase cinco vezes maior, 53%.

Dos 64 funcionários, dez foram dispensados. Entre os 54 que ficaram, 19 estão com o contrato de trabalho suspenso e 35 seguem trabalhando. A taxa de ocupação atual é de 20%.

DEMISSÃO

O SindHotéis (Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares) estima que a crise provocada pelo coronavírus já tenha provocado a demissão de 60% dos funcionários de hotéis de Londrina e de mais 57 cidades da região.

“Tivemos hotéis tradicionais, como o Hotel Coroados, que não conseguiram reabrir e encerraram as atividades. Se o governo não prorrogar o auxílio às empresas que vence neste 31 de agosto, as demissões serão ainda maiores”, declarou Alzir Bocchi, presidente do sindicato patronal da categoria.

Um representante da federação nacional dos hotéis está em Brasília, em contato com o governo federal, para que o auxílio às empresas seja prorrogado até janeiro de 2021.

Hoje, Alzir calcula que os hotéis em Londrina e região estejam, no máximo, com 20% de ocupação. Segundo ele, a preocupação com o futuro é imensa, já que não há uma perspectiva de retomada do turismo de negócios, vocação que impulsiona a ocupação dos hotéis. “Que negócios serão feitos na pandemia? Estamos de mãos atadas.”

QUEDA

A gerente do Villalba Hotéis, Lorrayne Ramos, calcula que o fluxo de clientes caiu 90% desde o início da pandemia, em comparação ao mesmo período do ano passado. O hotel, onde 90% dos hóspedes são clientes corporativos, chegou a ficar fechado por quase um mês em abril.

Alguns funcionários foram colocados de férias e, em outros casos, o hotel aderiu ao programa do governo federal que subsidia o salário dos funcionários durante a suspensão do contrato de trabalho. O afastamento dos colaboradores foi feito de maneira revezada.

A preocupação agora é que o programa federal de auxílio ao setor, que vence no final do mês, não seja prorrogado. O custo gasto com prestadores de serviços, como internet, energia elétrica e direitos autorais, segue sem subsídios. “Deveria haver uma contrapartida por parte deles.”

O hotel fica ao lado de um shopping. “O shopping segue fechado aos finais de semana. Recebíamos muitas famílias de cidades da região. Além disso, o turismo de negócios e os eventos, como formaturas e casamentos, foram prejudicados.”

Para tentar superar a crise, o hotel implantou, há pouco mais de um mês, o serviço de work-room, pelo qual o cliente paga para utilizar um quarto como escritório. “Divulgamos, mas infelizmente não pegou. Creio que é porque haja muitos escritórios de co-working em Londrina.”

Com a pandemia, a reformulação no hotel foi geral. Entre as mudanças, a quantidade de mesas do salão foi reduzida em mais de 50% e houve diminuição dos itens do café da manhã, já que alguns fornecedores exigem demanda mínima para vender ao hotel.

INOVAÇÃO

Cicero Vilela, diretor de marketing e vendas de uma rede hoteleira, citou a adoção de cardápio de room service via televisores  como uma  inovação
 
Cicero Vilela, diretor de marketing e vendas de uma rede hoteleira, citou a adoção de cardápio de room service via televisores  como uma inovação   | Foto: Divulgação

Hotéis vêm inovando para atrair clientes durante a pandemia. Uma rede com unidades em Curitiba, Maringá, Cascavel e Guaíra começou a disponibilizar cardápio de room service via televisores nos quartos, prática que figura entre todas as medidas de prevenção, como, por exemplo, medição de temperatura corporal de todos que acessam os hotéis. Em caso de alteração, a pessoa é encaminhada ao serviço de saúde.

“A retomada do fluxo de clientes depende de alguns fatores, como a disponibilidade de voos e a situação da pandemia em cada destino”, destacou Cicero Vilela, diretor de marketing e vendas da Rede Deville, que conta com nove hotéis nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.

Segundo ele, a unidade de Curitiba deverá reabrir em setembro, a de Guaíra não chegou a fechar e as de Cascavel e Maringá reabriram em junho.

SEBRAE-PR DISPONIBILIZA MANUAL DE CONDUTAS

O Sebrae Paraná, em parceria com outras entidades, elaborou um manual de condutas seguras para serviços de hospedagem que está disponível gratuitamente. “O que o cliente quer é se sentir seguro. Então esse manual ajuda como preparar o negócio para receber os clientes”, afirmou Leda Terabe, consultora do Sebrae.

Ela destaca que, a princípio, o empresário deve se atentar à legislação municipal para fazer as readequações necessárias com foco na prevenção do coronavírus.

Dependendo do tipo de consultoria, o Sebrae presta o serviço gratuitamente ou com custo. “Damos apoio à gestão do negócio, desde a questão financeira, estratégica, de mercado, se a empresa está presente em todos os meios, além da busca de alternativas para atrair o público”, listou.

Uma das tendências trazidas pela pandemia foi o aquecimento do turismo regional, já que muitos ainda se sentem inseguros em viajar de avião ou percorrer grandes distâncias. “Existe um universo a ser explorado, seja no turismo rural ou de aventura na região”, conclui.