O jornalista londrinense, empreendedor e palestrante Murillo Leal, 28 anos, abriu mão do emprego formal e não se arrependeu
O jornalista londrinense, empreendedor e palestrante Murillo Leal, 28 anos, abriu mão do emprego formal e não se arrependeu | Foto: Anderson Coelho



Ter algo a dizer e fazer disso um instrumento de geração de renda. Diretamente proporcional à expansão do mercado de eventos, existe a demanda por profissionais que atendem por palestrantes e são donos de uma capacidade de despertar o interesse e reter a atenção do público tão impressionante quanto a de um astro pop. Essas "estrelas dos palcos corporativos" transcendem o conhecimento adquirido na vida, mesclando formação acadêmica, profissional e pessoal, e empregam com maestria a vontade e talento de compartilhar tanto conteúdo para a própria geração de renda.

E tão pertinente quanto a máxima de que o mercado se autorregula, é o retorno que tais profissionais têm para medir se "estão no caminho certo, pois o termômetro é a procura por seus serviços. Cada apresentação serve de oportunidade para medir se a entrega alcançou às expectativas ou as superou, uma vez que quem os contrata ou paga ingresso para assisti-los desembolsa valores condizentes à percepção de custo-benefício do conteúdo explanado. O jovem jornalista londrinense, empreendedor e palestrante Murillo Leal, 28 anos, trafega muito bem sobre esses pilares, a ponto de em 2017 figurar na listas dos 15 "voices" ou influenciadores do ranking elaborado pelo Linkedin Brasil, por conta de um texto que teve mais de 3 milhões de visualizações em uma semana e gerou o convite da plataforma para ele produzir conteúdo (no Linkedin ele cravou uma base de 280 mil seguidores em 2017). O conteúdo em questão foi para o blog que ele e sua então esposa criaram, em 2015, para escrever sobre relacionamento e casamento. Tal qual o texto, o despretensioso blog arrebatou mais de 200 mil seguidores em dois anos. "A partir disso, os convites para palestras intensificaram a ponto de eu considerar que o avião tinha se tornando meu endereço principal, em 2017", admite.

Antes de integrar ao pacote de serviços que atualmente ele e sua empresa de gerenciamento de conteúdo, consultoria e serviços digitais, a Staff Digital, disponibilizam, Leal teve uma trajetória semelhante a muitos estudantes e recém-formados em Comunicação Social, acumulando experiência em agências e veículos de comunicação, inclusive, no Grupo Folha. "Meus amigos costumam dizer que já vivi uns 40 anos, mas acredito que o interesse que consigo despertar no conteúdo que produzo e, mais recentemente no que transmito em cursos e palestras, têm a ver com a minha inquietação logo no início da carreira sobre o propósito de tudo que faço ou vou fazer. As duas perguntas que sempre me acompanham é por que estou fazendo e o que estou fazendo", aponta.

Tal percepção, não só é compartilhada por Leal, mas integra parte do que o mercado busca e valoriza, tanto que integrou parte das orientações dele no Festemp (Festival de Empreendedorismo) da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). A palestra está disponível no canal: https://www.youtube.com/watch?v=pNnp9pg5ZHM.

Negociação e renda

Para se dedicar à Staff Digital e aos trabalhos em conformidade com seus propósitos, Leal precisou abrir mão do emprego em uma produtora e da condição de assalariado e não se arrependeu, nem perdeu dinheiro. "O jornalismo vive um momento de transição e de baixa remuneração em partes porque os modelos de negócios tradicionais não geram as mesmas receitas. Nesse caminho, aumentei de duas a quatro vezes os meus rendimentos mensais. Claro que essa variação tem a ver com a sazonalidade e a jornada de quem é patrão de si mesmo é sempre maior", revela.

Tratar a carreira de palestrante como um negócio é peça-chave para quem quer galgar um espaço definitivo neste mercado promissor. Dados da ABDT (Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento), indicam que 89% das empresas brasileiras de médio e grande porte contratam palestras todos os anos. O cachê médio é de R$ 5 mil, mas tal cifra não detalha se esse é o ganho bruto ou líquido. Segundo Leal, a negociação é bem variável, de R$ 200 a R$ 6 mil, assim como as condições de pagamentos (normalmente, 50% de sinal e 50% depois ou em até 30 dias) e se as despesas de transporte e hospedagens ficam a cargo do contratante ou palestrante. Há de se levar em conta o custo dos tributos pagos para a emissão da nota fiscal dos serviços prestados e, quando envolve viagem, o tempo do deslocamento, uma vez que esse é o ativo de qualquer profissional que negocia sua força de trabalho.

Ainda conforme dados do setor, a evolução do valor dos cachês dos palestrantes praticamente dobrou desde 2007 e segue crescente, acompanhando a profissionalização desse segmento, que quintuplicou desde a década de 90. Além disso, na ponta de cima do mercado de profissionais de palestras, o grupo "de elite", que recebe cifras de dois dígitos para ministrar palestras, saltou de 20 profissionais de renomes para quase 200, na última década.

Três décadas de sucesso


A longevidade profissional de quem envereda pelo segmento de palestras e cursos tem no estudo e reciclagem de conhecimento a pedra fundamental. Que o diga o engenheiro agrônomo, analista de mercado e sócio-fundador da AgRural Commodities Agrícolas (empresa especializada em assessoria de comercialização de commodities agrícolas) Fernando Muraro Jr.

O analista e palestrante acumula mais da metade dos 50 anos de vida realizando um trabalho consolidado na formação de produtores rurais e traders para melhor negociarem as principais commodities brasileiras, por meio de planejamento e análise de mercado (vendas futuras na BM&F Bovespa). A carreira como palestrante teve início em 1996, quando ainda era funcionário da Cotriguaçu Cooperativa Central de Cascavel. "Passei cinco anos da minha vida vivendo só de palestra. Na época, a sensação era de que eu vivia no mundo e passeava em casa, tamanha a procura", recorda. Além dos ganhos financeiros e da satisfação em fazer parte do amadurecimento do agronegócio brasileiro, ministrar palestras para o analista também o ajudou a melhorar a atuação profissional. "É inacreditável como formatamos melhor o conhecimento, quando temos a responsabilidade de passar para frente, ainda mais para um público que vai negociar a partir das suas instruções". Tamanho impacto na vida e nos ganhos alheios, fez com que ele e sua equipe desenvolvessem o curso anual de Comercialização de Soja e Milho da AgRural, que na semana passada chegou a 15ª edição, atraindo produtores de todas as regiões brasileiras. "A complexidade do mercado tornou fundamental uma jornada maior, embora seguimos adaptando o conteúdo para palestras e outros meios de compartilhar conhecimento", explica. Aliás, para Muraro Jr., o segredo de seguir sendo requisitado se resume a "estudar, estudar e estudar".