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MERCADO DE TRABALHO 5m de leitura

Gestão da carreira: um desafio em tempos de crise

A coach Bia Nóbrega fala sobre gestão de carreira em tempos difíceis e como os profissionais podem aproveitar as oportunidades de crescimento

ATUALIZAÇÃO
17 de agosto de 2020

Walkiria Vieira - Grupo Folha
AUTOR

Pandemia, crise financeira, desemprego, home office, retração econômica, demissões, redução de jornada, de salário, auxílio emergencial, estratégias de sobrevivência são parte da cartilha atual de todo trabalhador. Seja ele o empregador ou o empregado. O mundo foi pego de surpresa e poucos foram os setores não afetados. Do ponto de vista da coach  Bia Nóbrega toda e qualquer crise demanda das empresas alguns ajustes em seu design organizacional e por vezes eliminação de alguns níveis de gestão.

 Autora do livro “Autocoaching: 29 dias para dar um upgrade na sua vida”, – DVS Editora, Bia Nóbrega é graduada em Psicologia pela USP, pós-graduada em Administração de Empresas pela FGV-SP, pós-MBA em Conselho pela Saint Paul Escola de Negócios e ESMT – European School of Management and Technology, além de mentora, palestrante, conselheira e executiva há mais de 22 anos na Área de Recursos Humanos em empresas líderes em seus setores.

A coach explica que o significado original da palavra carreira aponta para a ideia de caminho/estrada por onde passavam os carros "Carreira é como uma jornada metafórica de um indivíduo que por meio da aprendizagem, do trabalho e de outros aspectos da vida. Já a gestão de carreira é algo muito sério e que não pode ser delegado a terceiros, como era feito no passado, quando alguns responsabilizavam o chefe, a empresa ou a área de recursos humanos. Cada dia fica mais evidente que as empresas podem criar condições ou oferecer oportunidades de desenvolvimento e de aprendizado, mas quem deve cuidar do seu destino e da sua carreira é você mesmo", enfatiza. Acompanhe a entrevista da especialista para a Folha de Londrina. 

"Cada dia fica mais evidente que quem deve cuidar do seu destino e da sua carreira é você mesmo", enfatiza Bia Nóbrega.
 

Num momento de crise, como agora, como fazer gestão da carreira dentro de uma empresa?

O momento de crise é atípico e, como tal, demanda especial atenção para que possamos aproveitar as oportunidades que surgirão.E, mais do que em outros momentos, é necessário tomar para si a responsabilidade por sua carreira: ampliar autoconhecimento (saber quem se é, onde se está atualmente e onde deseja estar no futuro), reconhecer seus pontos fortes e blindá-los, conhecer seus pontos mais fracos e gerenciá-los (buscando melhorá-lo e/ou delegá-lo e/ou desenvolvendo um sistema de apoio), identificar oportunidades de carreira alinhadas as seus pontos fortes e interesses e ter um plano de conquista destas oportunidades.

A  gestão de carreira é mais do interesse do funcionário ou da empresa? Ou seria do interesse de ambos?

A gestão de carreira deve ser de total interesse do funcionário para que tenha uma jornada alinhada a seus valores e motivações (o que é importante para você e te move),  a seu propósito (aquilo que nasceu para fazer neste mundo e que resultará em seu legado maior e único) e que, consequentemente, traga maior significado e realização.E, embora seja de interesse da empresa ter profissionais qualificados em suas posições de trabalho e, a forma mais rápida e barata de fazê-lo é via encarreiramento de profissionais que já estejam na empresa, a gestão de carreira não deve ser delegada à empresa. Claro que agarrar as oportunidades de desenvolvimento e de aprendizado é sábio mas terceirizar a responsabilidade jamais.

Você considera a versatilidade mais importante que a especialidade de um funcionário neste momento?

Dada a rápida progressão tecnológica, estamos em uma economia “humanizada” na qual os valores humanos, habilidades e competências são fonte de diferenciação mais do que o conhecimento técnico. Todavia, obviamente, precisamos dominar nossa especialidade técnica como ponto de partida, a base. Para decolar, entretanto é necessário preparar as nossas competências para nos destacarmos.Portanto, a versatilidade tende a trazer maior resultado neste cenário.Para isso persiga o seu desenvolvimento comportamental ao mesmo tempo que faça continuamente o “upskilling” - recapacitação em sua área de atuação – e o “reskilling” – capacitação em novas áreas.

 Você diz que nem tudo se resume a "crescer na carreira". Isso se aplica a este período de crise ou a todos os períodos da relação empresa/funcionário?

O conceito de “crescer na carreira” está historicamente atrelado a crescimento vertical. Todavia nas últimas décadas, até por conta de várias crises, ficou claro que o que todos desejam é “mobilidade de carreira” que traga crescimento pessoal e profissional significativo. E realmente subir já não é, e nem voltará a ser, o único movimento a se fazer.Uma mudança na carreira, em qualquer sentido, pode abrir um novo mundo de possibilidades e trazer a satisfação tão desejada.

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Como manter o foco no trabalho num momento em que as preocupações financeiras, com a saúde e a família crescem em função da pandemia?

A pandemia nos lembrou que o bem estar depende de muito mais variáveis do que aquelas que costumeiramente manejávamos. Para manter o foco no trabalho sim, é necessário, antes cuidar da saúde – e de forma ampla: saúde física (alimentação, exercícios físicos, acompanhamento médico e cuidados com sono), saúde emocional, saúde mental, saúde social, saúde espiritual (relação consigo mesmo e o Universo) e saúde financeira. Uma vez tendo a saúde sendo cuidada, é possível focar o trabalho de forma organizada e disciplinada: o que fazer, quando, por que, para quem, de que forma (onde e como). Ter uma rotina, com momentos de pausa e prazer, com tentações afastadas e comprometimento com entregas de qualidade e no prazo.

A iniciativa do colaborador em oferecer ideias e soluções pode ser acolhida com bons olhos? Mas como fazer isso sem ser invasivo?

Gestores sábios e inspiradores verão com bons olhos os colaboradores protagonistas que tomam a iniciativa, identificam oportunidades e/ou problemas, desenvolvem soluções e oferecem ajuda indo além. Claro que, para não parecer invasivo, precisa cuidar da forma para que não seja ou pareça de apontamento dos erros alheios, crítica às decisões e/ou ações passadas ou ainda “arrogante” .O ideal é sempre falar com base em dados, trazendo o próprio inconformismo e o ponto de vista sem julgar ou criticar o ponto de vista alheio, que por ser de “outro ponto de vista”, por si só é distinto.

Que outros profissionais - por exemplo: psicólogo, coach, empresa terceirizada de treinamento - podem ser importantes para a empresa e seus colaboradores? Lançar mão de outras ferramentas é importante?

Como profissional de Desenvolvimento Humano e Organizacional acredito, fortemente, que a depender da necessidade o profissional, deve sim buscar ajuda especializada. Na disciplina “Coaching de Carreiras”que ministro, apresento esses conceitos para diferenciar as técnicas.  Coaching, segundo a ICF (International Coach Federation), é um processo de acompanhamento reflexivo e criativo feito em parceria com os clientes, objetivando inspirá-los a maximizar o seu potencial pessoal e profissional. Mentoring, segundo o Global Mentoring Group, é o processo desenvolvido por alguém com experiência em determinado assunto (Mentor) para apoiar uma pessoa (Mentee) a atingir determinado objetivo, que ele, Mentor, já atingiu e sabe como ajudar outros a atingirem. Treinamento, segundo Wexley e Hinrichs, é um processo de aprendizado que auxilia o profissional a atingir a eficiência exigida no seu trabalho mediante o desenvolvimento de hábitos apropriados de pensamentos, ações, atitudes, comportamentos, conhecimentos e técnicas.” Psicoterapia, é um processo no qual se busca as causas e os padrões comportamentais que possam estar impedindo o cliente de ter uma vida mais feliz.

Endereços de contato:

Site de  Bia Nóbrega

https://www.youtube.com/autocoaching

Instagram: @bia.coaching

Twitter: @bianobrega3

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