Pandemia, crise financeira, desemprego, home office, retração econômica, demissões, redução de jornada, de salário, auxílio emergencial, estratégias de sobrevivência são parte da cartilha atual de todo trabalhador. Seja ele o empregador ou o empregado. O mundo foi pego de surpresa e poucos foram os setores não afetados. Do ponto de vista da coach Bia Nóbrega toda e qualquer crise demanda das empresas alguns ajustes em seu design organizacional e por vezes eliminação de alguns níveis de gestão.

Autora do livro “Autocoaching: 29 dias para dar um upgrade na sua vida”, – DVS Editora, Bia Nóbrega é graduada em Psicologia pela USP, pós-graduada em Administração de Empresas pela FGV-SP, pós-MBA em Conselho pela Saint Paul Escola de Negócios e ESMT – European School of Management and Technology, além de mentora, palestrante, conselheira e executiva há mais de 22 anos na Área de Recursos Humanos em empresas líderes em seus setores.

A coach explica que o significado original da palavra carreira aponta para a ideia de caminho/estrada por onde passavam os carros "Carreira é como uma jornada metafórica de um indivíduo que por meio da aprendizagem, do trabalho e de outros aspectos da vida. Já a gestão de carreira é algo muito sério e que não pode ser delegado a terceiros, como era feito no passado, quando alguns responsabilizavam o chefe, a empresa ou a área de recursos humanos. Cada dia fica mais evidente que as empresas podem criar condições ou oferecer oportunidades de desenvolvimento e de aprendizado, mas quem deve cuidar do seu destino e da sua carreira é você mesmo", enfatiza. Acompanhe a entrevista da especialista para a Folha de Londrina.

"Cada dia fica mais evidente que quem deve cuidar do seu destino e da sua carreira é você mesmo", enfatiza Bia Nóbrega.
"Cada dia fica mais evidente que quem deve cuidar do seu destino e da sua carreira é você mesmo", enfatiza Bia Nóbrega. | Foto: Divulgação

Num momento de crise, como agora, como fazer gestão da carreira dentro de uma empresa?

O momento de crise é atípico e, como tal, demanda especial atenção para que possamos aproveitar as oportunidades que surgirão.E, mais do que em outros momentos, é necessário tomar para si a responsabilidade por sua carreira: ampliar autoconhecimento (saber quem se é, onde se está atualmente e onde deseja estar no futuro), reconhecer seus pontos fortes e blindá-los, conhecer seus pontos mais fracos e gerenciá-los (buscando melhorá-lo e/ou delegá-lo e/ou desenvolvendo um sistema de apoio), identificar oportunidades de carreira alinhadas as seus pontos fortes e interesses e ter um plano de conquista destas oportunidades.

A gestão de carreira é mais do interesse do funcionário ou da empresa? Ou seria do interesse de ambos?

A gestão de carreira deve ser de total interesse do funcionário para que tenha uma jornada alinhada a seus valores e motivações (o que é importante para você e te move), a seu propósito (aquilo que nasceu para fazer neste mundo e que resultará em seu legado maior e único) e que, consequentemente, traga maior significado e realização.E, embora seja de interesse da empresa ter profissionais qualificados em suas posições de trabalho e, a forma mais rápida e barata de fazê-lo é via encarreiramento de profissionais que já estejam na empresa, a gestão de carreira não deve ser delegada à empresa. Claro que agarrar as oportunidades de desenvolvimento e de aprendizado é sábio mas terceirizar a responsabilidade jamais.

Você considera a versatilidade mais importante que a especialidade de um funcionário neste momento?

Dada a rápida progressão tecnológica, estamos em uma economia “humanizada” na qual os valores humanos, habilidades e competências são fonte de diferenciação mais do que o conhecimento técnico. Todavia, obviamente, precisamos dominar nossa especialidade técnica como ponto de partida, a base. Para decolar, entretanto é necessário preparar as nossas competências para nos destacarmos.Portanto, a versatilidade tende a trazer maior resultado neste cenário.Para isso persiga o seu desenvolvimento comportamental ao mesmo tempo que faça continuamente o “upskilling” - recapacitação em sua área de atuação – e o “reskilling” – capacitação em novas áreas.

Você diz que nem tudo se resume a "crescer na carreira". Isso se aplica a este período de crise ou a todos os períodos da relação empresa/funcionário?

O conceito de “crescer na carreira” está historicamente atrelado a crescimento vertical. Todavia nas últimas décadas, até por conta de várias crises, ficou claro que o que todos desejam é “mobilidade de carreira” que traga crescimento pessoal e profissional significativo. E realmente subir já não é, e nem voltará a ser, o único movimento a se fazer.Uma mudança na carreira, em qualquer sentido, pode abrir um novo mundo de possibilidades e trazer a satisfação tão desejada.

.
. | Foto: iStock

Como manter o foco no trabalho num momento em que as preocupações financeiras, com a saúde e a família crescem em função da pandemia?

A pandemia nos lembrou que o bem estar depende de muito mais variáveis do que aquelas que costumeiramente manejávamos. Para manter o foco no trabalho sim, é necessário, antes cuidar da saúde – e de forma ampla: saúde física (alimentação, exercícios físicos, acompanhamento médico e cuidados com sono), saúde emocional, saúde mental, saúde social, saúde espiritual (relação consigo mesmo e o Universo) e saúde financeira. Uma vez tendo a saúde sendo cuidada, é possível focar o trabalho de forma organizada e disciplinada: o que fazer, quando, por que, para quem, de que forma (onde e como). Ter uma rotina, com momentos de pausa e prazer, com tentações afastadas e comprometimento com entregas de qualidade e no prazo.

A iniciativa do colaborador em oferecer ideias e soluções pode ser acolhida com bons olhos? Mas como fazer isso sem ser invasivo?

Gestores sábios e inspiradores verão com bons olhos os colaboradores protagonistas que tomam a iniciativa, identificam oportunidades e/ou problemas, desenvolvem soluções e oferecem ajuda indo além. Claro que, para não parecer invasivo, precisa cuidar da forma para que não seja ou pareça de apontamento dos erros alheios, crítica às decisões e/ou ações passadas ou ainda “arrogante” .O ideal é sempre falar com base em dados, trazendo o próprio inconformismo e o ponto de vista sem julgar ou criticar o ponto de vista alheio, que por ser de “outro ponto de vista”, por si só é distinto.

Que outros profissionais - por exemplo: psicólogo, coach, empresa terceirizada de treinamento - podem ser importantes para a empresa e seus colaboradores? Lançar mão de outras ferramentas é importante?

Como profissional de Desenvolvimento Humano e Organizacional acredito, fortemente, que a depender da necessidade o profissional, deve sim buscar ajuda especializada. Na disciplina “Coaching de Carreiras”que ministro, apresento esses conceitos para diferenciar as técnicas. Coaching, segundo a ICF (International Coach Federation), é um processo de acompanhamento reflexivo e criativo feito em parceria com os clientes, objetivando inspirá-los a maximizar o seu potencial pessoal e profissional. Mentoring, segundo o Global Mentoring Group, é o processo desenvolvido por alguém com experiência em determinado assunto (Mentor) para apoiar uma pessoa (Mentee) a atingir determinado objetivo, que ele, Mentor, já atingiu e sabe como ajudar outros a atingirem. Treinamento, segundo Wexley e Hinrichs, é um processo de aprendizado que auxilia o profissional a atingir a eficiência exigida no seu trabalho mediante o desenvolvimento de hábitos apropriados de pensamentos, ações, atitudes, comportamentos, conhecimentos e técnicas.” Psicoterapia, é um processo no qual se busca as causas e os padrões comportamentais que possam estar impedindo o cliente de ter uma vida mais feliz.

Endereços de contato:

Site de Bia Nóbrega

https://www.youtube.com/autocoaching

Instagram: @bia.coaching

Twitter: @bianobrega3