Equipes multigeracionais como alicerces do futuro do trabalho
PUBLICAÇÃO
domingo, 18 de fevereiro de 2018
Magaléa Mazziotti<br> Reportagem Local
Projeções e estudos mostrando o quanto a relação com o trabalho está sendo alterada se multiplicam toda a semana. Tal qual a associação desse contexto ao comportamento das gerações nascidas a partir dos anos 80 (geração Y) e, principalmente, nas décadas subsequentes, em função da tecnologia que os mais novos dominam de forma natural e da série de paradigmas abalados por eles como o tempo de permanência na organização e a busca por pertencer a equipes compatíveis com seus valores e propósitos. É o chamado "mundo Vuca". A referida sigla deriva das palavras em inglês (Volatile, Uncertain, Complex e Ambiguous), cuja tradução descreve o contexto volátil, incerto, complexo e ambíguo são prerrogativas da era atual.
Só que da ponta dos profissionais especializados em garimpar talentos para as grandes organizações, a percepção é de que independentemente da data de nascimento todos os "empregáveis neste mundo VUCA" vêm demonstrando um interesse por oportunidades atreladas a projetos com propósitos compatíveis com os próprios princípios. E é nesse sentido que reside o valor das chamadas equipes multigeracionais, uma espécie de denominador comum deste momento da história da humanidade e do trabalho, no qual várias gerações convivem, com diferentes níveis de vivência, formação cultural e de conhecimentos tecnológicos. Pois é dessa diversidade que origina a força capaz de trazer resultados inovadores para organizações que, assim como os seus colaboradores, também lidam com condição permanente de se reinventar para prosseguir no mundo VUCA.
"Nada mais é preto e branco, quem insistir em querer viver na certeza vai sentir um sofrimento sem fim frente ao modelo VUCA que está aí. É preciso desapegar da segurança, daquela visão clássica que tínhamos de trabalhar por anos a fio e depois se aposentar no modo ocidental de estagnar o aprendizado e a participação nas demandas da sociedade. Precisamos ter prazer contínuo em sermos produtivos, em aprender a aprender para passar a incorporar novas habilidades, dar conta de novas demandas e sentir bem-estar diante dessa complexidade", esclarece o consultor de inovação e transformação digital das organizações, Gilson Paulo Manfio. Nascido em 1965, o que o inclui no início da geração X, entre baby boomers e a Y , ele traz na sua trajetória profissional o exercício do desapego e da adaptabilidade tão imprescindíveis ao mundo VUCA.
Até 40 anos, Manfio trilhou uma bem sucedida carreira acadêmica. Graduou-se em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), depois fez mestrado e doutorado na área de microbiologia sistemática e genética. Uma oportunidade na indústria, na área de microbiologia, levou Manfio a unir pesquisa à produção. O apetite por experimentar coisas novas atrelado ao interesse dele por tecnologia, mais a política da empresa de fomentar a inovação em seus colaboradores por meio de ciclos, abriu uma nova frente profissional. Em 11 anos na Natura, ele completou cinco ciclos, migrando da área de microbiologia, para inovação e desenvolvimento de produtos. Depois foi para o programa de inovação aberta da empresa com universidades e centros de pesquisas, ainda passou por teoria de redes e tecnologia digital. O esmero dessa trajetória levou Manfio a prosseguir na carreira de gerente executivo de transformação digital em outra companhia. "As pessoas não são uma coisa só. Um ambiente que pede que o colaborador se reinvente a cada ciclo é fantástico para estimular a inovação, assim como derrubar rótulos. O limite não está na geração em que cada um nasceu, mas dentro de cada ser humano, tal qual o nível de conhecimento tecnológico, que limita muito menos do que a adaptabilidade ao tempo liberado para outras atividades a partir da inevitável automatização que estamos vivenciando naquilo que a máquina faz melhor e com mais precisão", destaca. "Quem não quer fazer parte do time dos frustrados com essa revolução que será ainda mais acentuada na próxima década, deve se capacitar para aquilo que máquina não consegue fazer, ou seja, o melhor da inteligência humana que abrange o trabalho criativo e relacional", acrescenta. Para isso, ele indica deixar de vez a posição de mero expectador de tudo que está acontecendo e se autocapacitar. "É preciso se reciclar continuamente, trazer provocações para o próprio ambiente de trabalho usufruindo do conhecimento aberto que foi democratizado pela internet, com excelentes plataformas de ensino à distância, em conteúdos de open university disponíveis gratuitamente. Conectado à rede, qualquer um pode aprender sobre inglês ou inteligência artificial com os lastros de instituições de ensino respeitadas no mundo todo", garante, afirmando ser um entusiasta desse futuro que se avizinha.