Empresas investem em iniciativas para o bem-estar dos funcionários
Programas de Qualidade de Vida do Trabalhador reduzem o estresse, promovem a integração das áreas e o engajamento na empresa
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 01 de julho de 2019
Programas de Qualidade de Vida do Trabalhador reduzem o estresse, promovem a integração das áreas e o engajamento na empresa
Aline Machado Parodi - Grupo Folha

Cada vez mais as empresas estão inserindo práticas de QVT (Qualidade de Vida do Trabalhador) nos seus planejamentos e gerenciamento de recursos humanos. Os dados estatísticos dos resultados destas práticas ainda são escassos, mas fala-se em redução de custos com saúde, com diminuição dos níveis de estresse e doenças ocupacionais como a Síndrome de Burnout, que segundo estimativa da Isma-BR (Internacional Stress Management Association no Brasil) atinge cerca de 30% dos mais de 100 mil trabalhadores no País.
Em Curitiba uma empresa aposta em aulas de ioga na hora do almoço para reduzir o estresse da equipe e, em Londrina, uma cadela da raça golden retriever, foi “contratada” para deixar o ambiente de trabalho mais leve. Em pouco tempo, as duas iniciativas já começam a apresentar resultados positivos.
O Sicoob Ouro Verde contratou em outubro do ano passado uma nova funcionária com a missão de tornar o ambiente de trabalho mais leve e ajudar no relacionamento entre os colaboradores. Nove meses depois, Mel, de 1 ano de idade, está atingindo as metas. Ela cumpre expediente de oito horas, com direito a folgas nos fins de semana, feriados e no dia do aniversário, como todo os funcionários do Sicoob, participa de reuniões e eventos da cooperativa.
A introdução do animal de estimação no ambiente de trabalho faz parte do programa FIC (Felicidade Interna do Cooperativista). A ferramenta, elaborada pelo Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), aborda nove dimensões: bem-estar psicológico, padrão de vida, educação, saúde, meio ambiente, cultura, governança, uso do tempo e vitalidade comunitária.
A chegada da Mel alterou a rotina dos funcionários, que antes costumavam ficar fora do escritório no horário do almoço ou faziam poucas pausas, agora procuram ficar mais nas áreas de convivência da empresa para passar mais tempo com ela. O Sicoob criou um grupo de voluntários para cuidar das necessidades da golden, como alimentação e passeios, mas qualquer um pode passear com ela. A analista de Comunicação e Marketing Flávia Lemes Bussadori conta que antes da chegada da golden costumava levantar pouco da sua mesa e quase não fazia pausas, mas agora circula mais entre os setores. “A Mel traz um sentido de casa”, disse.
A cadela promoveu a integração entre os funcionários. Pessoas que não se falavam passaram a conviver mais por causa da Mel. “Ela vira assunto das conversas, aproxima as pessoas e facilita o engajamento”, afirmou Maísa Palma Hangai, analista de Desenvolvimento Humano e Organizacional. O animal também é uma válvula de escape para os momentos de estresse.Segundo ela, antes para aliviar a pressão o pessoal costumava levantar para tomar um café, agora procura a Mel para brincar.
Hangai conta que sempre que precisa dar aquela respirada funda procura Mel e vai para o terraço com ela. “Já fui para o sol escovar o pelo dela. Isso ajuda a reduzir o batimento cardíaco. Resolve meu dia”, comenta.
O gerente de Desenvolvimento Humano e Organizacional, Julio Cezar Cruz da Trindade, explica que a cadela passou por período de adestramento que focou na relação com as pessoas. “O treinamento ensinou ela a não ser tão agitada, por estar em um ambiente corporativo. Mas ela cria as suas afinidades. Às vezes, escolhe alguém para ficar deitada embaixo da cadeira”, conta. Ele afirma que já é perceptível a integração das equipes e a leveza no ambiente após a “contratação da Mel”.
Apesar da iniciativa despertar interesse das demais agências do Sicoob e até mesmo de outras empresas, Trindade ressalta que a proposta não é para qualquer organização. “Começa pela cultura da empresa que precisa ser mais aberta e inovadora. A valorização das pessoas está no DNA da cooperativa e entendemos que as pausas não comprometem o trabalho”, disse.
O Sicoob também possuiu outras iniciativas voltadas para o bem-estar do funcionário como um ambiente de descanso, licença-maternidade estendida – a mulher fica os quatro meses normais de licença, recebe as férias na sequência e, após a licença, o retorno é gradativo fazendo com que ela volte a jornada completa após um ano -, grupos de corridas e acompanhamento nutricional. “É preciso dar condições para as pessoas atingirem as metas com qualidade de vida”, frisou Trindade.

CONCENTRAÇÃO NO TRABALHO
Desde o ano passado, a ROIT Consultoria e Contabilidade, de Curitiba, abriu espaço na sala de treinamento para aulas de ioga. O gerente de marketing Paulino Fernandes Marques contou que uma colaboradora trouxe a ideia e a diretoria gostou e colocou a proposta em prática. As aulas ocorrem duas vezes por semana no horário do almoço.
Marques disse que já se percebe uma redução do desgaste das equipes no dia a dia. “Há uma motivação maior de quem pratica”, contou. Além das aulas de ioga, os funcionários também têm acesso a sessões de massagem, que são oferecidas todos os dias da semana. Com três anos de fundação, a empresa sempre incentivou a prática de atividades físicas como a ginástica laboral. Na unidade de Brasília, a empresa vai implantar sessões de acupuntura, de acordo com gerente de Marketing.
O assistente contábil Diego Murilo dos Santos é um dos que aderiram a prática da ioga. Ele conta que desde que começou já sentiu melhoras no corpo e na concentração. “Consigo focar mais nas coisas”, disse. Antes das aulas, ele costumava dar uma volta no horário do almoço, agora mudou a rotina e afirma que alterou até os hábitos alimentares.
Segundo ele, o horário das aulas ajuda a lidar com a pressão diária. “Quando você tem uma manhã carregada, o ioga muda a energia e você volta para o segundo tempo mais tranquilo”, comentou.
O professor de ioga Clayton Zana Constante, conhecido como K2, faz uma analogia das aulas no intervalo do trabalho como uma pessoa que está se afogando. “A pessoa está se afogando e daí consegue tirar a cabeça para fora, dá um respiro e consegue voltar. As aulas são como esses respiros”, comparou K2.
Ele cita que os benefícios são físicos e emocionais. As técnicas de ioga trabalham os problemas e males na coluna provocados por horas de trabalho sentado. As técnicas de respiração ajudam no relaxamento e na concentração. “É um atenuante no sentido de diminuição de atestados médicos”, explicou o professor.
No lado emocional, ele afirmou que há expansão da criatividade, foco e concentração. “Há acréscimo no desenvolvimento da oralidade e da forma de se relacionar com os outros. Há uma percepção melhor do ambiente de trabalho”, disse. Segundo K2, o ioga é a prática do momento no meio corporativo.

