Pais de deficientes ouvem com frequência, já no nascimento da criança, muitas informações negativas. De que o filho não vai andar, não vão falar, será dependente e só dará trabalho. As palavras de pessimismo mostram que o caminho é a exclusão social, mas graças ao trabalho em equipe de profissionais qualificados e empenhados em dar autonomia, dignidade e inclusão ao deficiente, as portas das escolas, do mercado de trabalho estão de abrindo. Um exemplo em atividade é o "Dia D", promovido pela Secretaria Municipal de Trabalho e Renda (SMTE) e que atualmente oferece 69 vagas para pessoas com deficiência: mental e intelectual, cadeirantes, surdez, cegueira, nanismo, por exemplo.

Grandes empresas da cidade estão com vagas abertas e o trabalhador pode entrar no site, escolher sua vaga e enviar o currículo. A ação organizada com empresas inclui A.Yoshii, Colégio Maxi e Hospital Evangélico. De acordo com a SMTE, a ação pretende preencher as vagas até o fim de outubro e além disso, constantemente há uma média de 10 a 15 vagas para deficientes semanalmente. Com um mural exclusivo na internet, prédio com acessibilidade - rampas e elevador, o objetivo da secretaria é promover a inclusão no mercado de trabalho.

'EU COOPERO COM A INCLUSÃO' CHEGA A LONDRINA

Por meio de convênio assinado com a Apae Londrina, a Sicredi União PR/SP ativou o programa "Eu Coopero com a Inclusão" na Regional Norte da Cooperativa. Atualmente, o programa ativo desde 2015, funciona nas cidades de Maringá e Nova Esperança e conta com 32 colaboradores oriundos das Apaes dessas cidades, todos registrados e com salários condizentes com as funções que exercem. Entre elas, estão atendimento ao público, primeiros encaminhamentos dentro das agências, auxílio nos caixas eletrônicos e nas rotinas administrativas.

Para Taiane do Nascimento Andrade Boccato, Coordenadora de Desenvolvimento Social da Sicredi, a inclusão vai além do trabalho, a experiência abrange outras áreas a partir dessa oportunidade
Para Taiane do Nascimento Andrade Boccato, Coordenadora de Desenvolvimento Social da Sicredi, a inclusão vai além do trabalho, a experiência abrange outras áreas a partir dessa oportunidade | Foto: Divulgação

Em Londrina, o programa irá inserir 16 colaboradores nas sete agências da cidade. A psicóloga Taiane do Nascimento Andrade Boccato, coordenadora de Desenvolvimento Social da cooperativa, informa que os futuros colaboradores, que estão sendo selecionados pela Sicredi União PR/SP, passarão por sete meses de treinamento. Ao mesmo tempo, também os colaboradores das agências passarão por sensibilização para acolher os novos colegas de trabalho. “Eles são extremamente responsáveis com o trabalho, pontuais e dedicados. Eles valorizam essa oportunidade e se dedicam ao que fazem”, avalia Boccato.

A psicóloga alerta que ainda existe resistência das famílias para integrar seus entes, uma vez que temem que sejam desrespeitados por todo o histórico já vivido. "É um processo difícil porque precisam abrir mão do BPC- Benefício de Prestação Continuada. A experiência que vivem vai além do trabalho, pois participam de exposições, viagens e, inseridos na sociedade, deixam os familiares gratificados, pois por muito tempo viveram em um contexto de exclusão social", afirma.

O interventor da Apae, Carlos Alberto Mariocato, comemora a celebração do convênio. “Conheço o programa e sempre quis que ele estivesse disponível também em nossa cidade. É uma grande alegria ter mais essa oportunidade para inserir nossos alunos no mercado de trabalho”, comentou.

Regiane Medeiros Rosa, diretora administrativa; e Wilmara Cayres Rios, diretora pedagógica da Apae, informam que, atualmente, 20 alunos da Apae de Londrina trabalham em locais conveniados, como supermercados e a Santa Casa. A instituição atende a 330 alunos. Para aderir ao programa é necessário estar matriculado na Apae, ser maior de 18 anos e que a família esteja engajada no processo.

COLABORADORA CONQUISTOU OPORTUNIDADES

Débora Cantonil é deficiente intelectual e colaboradora do Sicredi desde 2015, começou na área de brindes e hoje atende ao público
Débora Cantonil é deficiente intelectual e colaboradora do Sicredi desde 2015, começou na área de brindes e hoje atende ao público | Foto: Divulgação

A colaboradora Débora Cantonil é deficiente intelectual e está na agência Sicredi desde 2015. Começou na área de brindes institucionais, trabalhos manuais e à medida que foi se desenvolvendo foi ganhando novas oportunidades. Hoje atua no atendimento ao público e uma de suas maiores conquistas foi a compra da casa própria. Cantonil mora na Vila Guardiana, Distrito de Mandaguaçú e atua na agência Maringá-Centro. Durante a pandemia, os colaboradores fizeram atividades artísticas porque não podiam ir pra agência. Ao final da atividade, a Sicredi montou uma exposição com os trabalhos deles.

POLÍTICAS EMPRESARIAIS COMBATEM A DISCRIMINAÇÃO

Marcelo  Madarász "Inclusão deve ir muito além de pessoas com necessidades especiais ou grupos minoritários, devemos acolher o Outro e este Outro inclui pessoas com modelos mentais diferentes"
Marcelo Madarász "Inclusão deve ir muito além de pessoas com necessidades especiais ou grupos minoritários, devemos acolher o Outro e este Outro inclui pessoas com modelos mentais diferentes" | Foto: Marcos Suguio/ Divulgação

Para psicólogo, Diretor de Recursos Humanos para América Latina da empresa Parker Hannifin desde 2014, Marcelo Madarász, há empresas que verdadeiramente abraçam causas importantes porque acreditam na construção de um mundo melhor e, portanto mais justo, com igualdade de oportunidades e criam mecanismos para que justiça exista, por exemplo, por meio de políticas de cotas ou de metas de contratação de grupos considerados minoritários ou em situação de desvantagem.

Entretanto, há empresas que embora não tenham este movimento de reflexão e elevação de nível de consciência, promovem campanhas porque isto é politicamente correto e pega bem, faz com que fiquem bonitas na foto. "No primeiro grupo estão as empresas que refletiram sobre seu propósito e decidiram fazer algo conectado com sua verdadeira essência. Os líderes que abraçam esta causa da diversidade e inclusão, normalmente fizeram o seguinte percurso de evolução: do eu para o nós, para todos nós e para todos possíveis. Trilharam esta jornada: sobrevivência, impulsos, controle, pertencimento, conquistas, harmonia, totalidade e unidade.

Conselheiro da Academia Europeia da Alta Gestão, Embaixador do Comitê de Gente e Gestão da Associação Brasileira dos Profissionais de Recursos Humanos (ABPRH), membro do Comitê Estratégico de Recursos Humanos da Amcham e articulista da Gestão RH, coach e palestrante, Madarász está atento ao tema. "Temos visto cada vez mais os temas Diversidade e Inclusão nas pautas das organizações e este fato nos convida a algumas reflexões importantes", diz.

Segundo o gestor com Carreira em Recursos Humanos construída nas empresas Thomson, Camargo Corrêa, Nokia, Natura e Parker, recentemente circulou nas redes sociais e em grupos de whatsapp um post com um adulto perguntando a uma criança se em sua escola existiam crianças negras, orientais, com necessidades especiais, ao que a criança respondeu: na minha escola tem crianças. Em que momento da educação das crianças, alguém ensinou que há diferenças? “Como disse Mandela,” ninguém nasce odiando uma pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. “Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”

E questiona: "O que exatamente foi e continua sendo ensinado e passado de geração para geração? Como existiram distorções ao longo da história e alguns grupos foram e continuam sendo vítimas de preconceitos, escravidão, segregações?" Para Madarász , hoje temos as consequências destes eventos, tanto em termos de racismo e outras formas de segregação, como na necessidade de correções de rotas e é exatamente neste contexto que surgem as cotas com todas as polêmicas que acompanham o debate.

Para ele, cada um destes itens mereceria um aprofundamento. "Como gestor de pessoas, reflito profundamente sobre a inclusão de todos e esta inclusão deve ir muito além de pessoas com necessidades especiais ou grupos minoritários, devemos acolher o Outro e este Outro inclui pessoas com modelos mentais diferentes, inclusive muito diferentes dos meus. Esta á a verdadeira construção de um mundo melhor permitida a partir do fato que a verdadeira riqueza virá justamente desta diversidade. Temos muito a aprender uns com os outros. Que as organizações possam fazer este importante papel social", conclui.

Serviço:

Vagas da Prefeitura de Londrina para deficientes estão no Portal Londrina

Conheça o programa de inclusão da Sicredi

Imagem ilustrativa da imagem Empresas investem cada vez mais na inclusão

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