O número de pessoas idosas representa mais de 16% da população brasileira, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) . Do total de 210,1 milhões de brasileiros, 34 milhões eram idosos, no quarto trimestre de 2019. Com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros, a necessidade de profissionais de saúde especializados na terceira idade é também uma realidade e todos devem estar atentos a essa demanda.

Marcos Cabrera, geriatra: “Vamos ter que avançar muito na oferta de instituições de longa permanência para idosos, cursos de estimulação cognitiva e entretenimento”
Marcos Cabrera, geriatra: “Vamos ter que avançar muito na oferta de instituições de longa permanência para idosos, cursos de estimulação cognitiva e entretenimento” | Foto: Walkiria Vieira

Do ponto de vista do geriatra Marcos Cabrera, a longevidade, é sim, um fator preponderante, mas antes de mais nada é preciso escolher o que gosta antes de pensar só na necessidade do mercado de trabalho. "A atividade profissional corresponde a uma enorme parcela da nossa vida. É muito importante que tenhamos identificação com esta atividade e que busquemos uma profissão que se encaixe às características pessoais". O especialista considera que para quem almeja esse universo, é preciso ponderar. "A área da saúde tem como primazia o cuidado de pessoas. Você tem que ter um mínimo de entusiasmo com essa possibilidade de cuidar de alguém. Uma outra necessidade é a sensibilidade – que pode ser provada , aprendida e aprimorada. E temos que ter em mente que é uma área do conhecimento muito dinâmica, então é necessário também a atualização constante", sustenta.

De acordo com Cabrera, com o maior envelhecimento das pessoas, haverá muito mais doenças crônicas . "E essas merecem cuidados e um grupo de profissionais que contemplem as necessidades e as peculiaridades do indivíduo que envelhece. Existem áreas da saúde que lidam com cuidados e doenças crônicas – como a Medicina , Enfermagem , Fisioterapia, Terapia Ocupacional , Nutrição. Mas além disso, há uma necessidade de serviços voltados para a população que envelhece nas áreas de entretenimento, educação, moradia e, só para exemplificar, precisamos de professores, arquitetos, advogados com formação na área do envelhecimento humano", destaca. Lidar com idosos requer uma formação mais aprofundada, segundo Cabrera, pois exige um conhecimento das peculiaridades do envelhecimento humano. "Isso vai desde conhecer o jeito que um idoso caminha, enxerga, escuta, sente, se emociona, se frustra, se apaixona e também conhecer suas necessidades e principalmente os potenciais dessa faixa etária.

O especialista também aponta que o Mal de Alzheimer pode ser determinante e exigirá mais profissionais na área da saúde pelo fato de as demências aumentarem junto com o envelhecimento populacional - há cuidados específicos que as famílias não conseguem mais absorver. "Nós vamos ter que avançar muito na oferta de Instituições de longa permanência para idosos, em curso de estimulação cognitiva , em possibilidades de entretenimento e na oferta de cuidados para o familiar que cuida", observa. "O mundo atual necessita de informação e preparo técnico. Não será suficiente apenas intuição e sensibilidade, apesar de serem muito importantes", acrescenta.

Assim, do ponto de vista do geriatria, as especialidades em torno da terceira idade podem ser consideradas áreas promissoras uma vez que há uma demanda crescente de profissionais para esta população. "Não só na perspectiva da doença, da incapacidade, dos cuidados mas também para oferecer possibilidades de uma vida mais intensa, mais interessante para essa população que passará cada vez mais tempo na velhice – que pode ser interpretada como uma fase de prazer e possibilidades também", reflete.

Envelhecer com saúde pode ser uma escolha

O fisioterapeuta neuro funcional Alexandro Mattos fala com satisfação de seus pacientes reabilitados e que seguem plenos praticando atividade física. Há pacientes que já passaram dos 90 e quem já entrou na casa dos 100 anos. Compreender o paciente de modo integral é parte do contexto de tratamento e Mattos cuida de seus pacientes tanto na parte de prevenção como na manutenção da qualidade de vida. "A cultura da população mudou para melhor. Alimentação e exercícios são práticas na busca da qualidade de vida". O fisioterapeuta considera ainda que a conscientização seja um dado relevante. "Ir ao cardiologista anualmente, assim como fazer visitas ao nutricionista para ser avaliado é essencial. Além de há muitos profissionais especializados na saúde do idoso, temos uma cidade com serviços direcionados à qualidade de vida e isso se estende ao idoso", reforça. "Manter-se ativo é uma orientação, independentemente do grau de intensidade. O importante é manter a funcionalidade e a mobilidade, respeitando os seus limites. A atividade física melhora o sono, a alimentação, a digestão, o tônus, a hidratação, a autoestima e serve de exemplo para filhos e netos", expõe.

Filha de aluguel: leva, busca e acompanha idosos

A filha de aluguel Juliana Canheti  acompanha a paciente Maria Elvira Savio em consultas médicas, compras e passeios
A filha de aluguel Juliana Canheti acompanha a paciente Maria Elvira Savio em consultas médicas, compras e passeios | Foto: Divulgação/arquivo pessoal

A autônoma Juliana Canheti atua na área de idosos há seis anos e há um passou a oferecer um serviço extra. O de levar, buscar e acompanhar o idoso nos lugares em que precisa ir. Seja uma consulta médica, uma aula de hidroginástica ou um passeio pelo shopping para compras. Canheti conta que já havia ouvido falar da prática em capitais. "Cuido da minha tia Margarida que sofre da Doença de Alzheimer e ao lado de outras amigas que são cuidadoras de idosos formamos o Instituto de Alzheimer em Londrina, onde pude comprovar a necessidade da atividade, desde então somei a esse mercado a minha experiência", relata. Sempre gostei de idosos e minha experiência em clínica de geriatria foi uma grande escola. Deixei a clínica para cuidar da minha tia e sou voluntária no Hospital Universitário e atuo no projeto de canto que vai a hospitais e clínicas de repouso em Londrina.

Muito além de uma motorista, limita-se ao transporte, Canheti salienta que o trabalho de acompanhamento é cobrado por hora. "Acompanho, busco na porta da casa, permaneço junto do idoso o tempo todo de atendimento, desço do carro e o coloco dentro de casa", detalha. Quem pensa que idoso não tem tarefas, engana-se. E para todas elas, Canheti se antecipa: "Faço o acompanhamento em médicos, dentistas, fisioterapeutas, cabeleireiros, mercado e quimioterapia", diz. Além disso, dedica o tempo a necessidades que o idoso também tem como fazer caminhadas, participar de jogos que estimulam o cérebro como quebra-cabeças.

As famílias cada vez menores e comprometidas com seus trabalhos são as que procuram a profissional em cuidar de idosos e fazer o trabalho de transporte e acompanhamento integral. "É uma realidade e quando as pessoas sabem do meu trabalho, ficam satisfeitas, confiam e recomendam. Na prática, transportar um idoso requer além de habilidades específicas, muita empatia. Os reflexos são mais lentos, os passos também, a vontade de conversar pode ser maior e as pernas pesam. É preciso saber se colocar no lugar do mais velho. "Tenho uma paciente de 93 ano e a acompanho na ozonioterapia. Andamos de mãos dadas, abro a porta do carro, ajudo a sentar, a levantar, deitar, conversamos sobre tudo e também já fiz compras e fiz orçamento para ela", conta.