São Paulo - O Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) conta que a população brasileira era de 203 milhões de pessoas em agosto de 2022. Nas pesquisas socioeconômicas mais rotineiras do IBGE, a população era estimada em cerca de 214 milhões, em mês equivalente do ano passado. São os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mensal, trimestral e anual. Pela projeção da população do IBGE atualizada em 2020, seríamos quase 215 milhões no ano passado.

A diferença entre os números do Censo e da Pnad pode ser relevante para se pensar alguns aspectos do mundo do trabalho (a situação estaria melhor do que se imaginava) e a taxa de desemprego. São 11 milhões de pessoas a menos, uma diferença de mais de 5% em relação às Pnads.

Além disso, ao menos na revisão da estatística, o país ficou mais rico (aumentou o PIB per capita), embora, claro, o número de pessoas dormindo nas calçadas ou sem comida e salário decentes continue na mesma.

Importante: já estava claro que o país precisaria de muita mão de obra imigrante, em especial com mais qualificação, se a economia voltasse a crescer. Com esses números do Censo, parece que a necessidade será ainda maior. Vai ter de ser assunto de política de Estado.

Por ora, com os dados à mão, os números novos da população podem, sim, ter relevância imediata para se pensar o emprego.

REVISÃO DE FORÇA DE TRABALHO

Por exemplo, os números do Censo devem provocar revisões da taxa de participação na força de trabalho. Isto é, da proporção de pessoas ocupadas ou procurando trabalho em relação à população total em idade de trabalhar (mais de 14 anos, na estatística do IBGE).

Os economistas Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre, FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO), e Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do Ibre, FGV, concordam com a avaliação.

E daí? Essa taxa deve subir, caso não sobrevenham revisões do número de pessoas ocupadas ou procurando trabalho. Em tese, pode vir daí também uma revisão na taxa de desemprego - ainda não é possível saber, com os dados disponíveis.

De qualquer modo, é possível especular, com base nos dados disponíveis, que a situação do emprego é, quantitativamente, melhor: há proporcionalmente mais gente trabalhando.

Como ainda não há dados do novo Censo sobre a população por faixa de idade, se pode apenas especular sobre outras mudanças na interpretação do que se passa com o emprego no Brasil. Por exemplo, se diferença entre Censo e Pnad for maior entre jovens, é provável que a taxa de desemprego seja menor do que a medida atualmente.

TAXAS DE EMPREGO

A diminuição da taxa de participação na força de trabalho depois da epidemia é um assunto que tem sido objeto de discussão de economistas. Essa taxa foi de 61,4% no trimestre encerrado em abril, segundo a Pnad mensal. Em abril de 2019, antes da epidemia, de 63,6%. Desde quando há dados comparáveis, 2012, até 2019, a média foi de 62,9%.

Se a taxa de participação em abril fosse a da média de 2012-2019, haveria mais 2,6 milhões de pessoas na força de trabalho (trabalhando ou, mais provavelmente, procurando emprego).

Esse número pode dizer algo sobre a taxa de desemprego. Com menos gente procurando trabalho e tudo mais constante, a taxa de desemprego cai, por exemplo. É o que tem acontecido neste ano.

O motivo é tema de debate. Mais gente recebendo Bolsa Família maior? Ligeira melhora da situação das famílias, ajudando a tirar gente do mercado de trabalho (até para estudar, por exemplo)?

Enfim, mais gente (em termos relativos à população) trabalhando pode indicar um potencial maior de crescimento da economia.

Quanto à situação geral da vida, fica a questão para demógrafos, sociólogos, antropólogos ou economistas: por que o crescimento da população desacelerou tão rapidamente e é tão baixo? O colapso econômico que começou em 2014 tem algo a ver com isso?