A sabedoria popular já ensina que a necessidade é a mãe da invenção. Criativos por natureza, os artesãos são capítulo à parte quando o tema é criatividade. Nesse momento de enfrentamento do coronavírus, todo o calendário de feiras e eventos de artesanato foi suspenso.

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. | Foto: iStock

Os bazares que comercializavam seus artigos estão fechados por decreto e as máscaras de proteção individual, por sua vez, desapareceram das prateleiras de farmácias. Pensando na saúde da população e na necessidade de manter alguma renda, a artesã Luciane De Cunto, da DonArteira, passou a investir parte de seu tempo, conhecimento e material, na confecção de máscaras protetoras. "Nessas horas, uma mão lava a outra”, reflete a artesã. "Eu ouvi crítica de que estaria explorando, mas não é isso. O meu preço é acessível, eu tenho material de qualidade comprado para a Páscoa e ficará parado. Por outro lado, muitas pessoas pensaram em fazer as próprias máscaras, não sabem costurar e não dispõem de todas as ferramentas". Antes disso, De Cunto já estava produzindo o suporte de álcool gel. Para colocar na alça da bolsa, no lado de fora da mochila das crianças, mas não imaginava que fosse tomar essa proporção - a ponto de exigir que todos fiquem em casa".

Mais que uma máquina em casa e uma ideia na cabeça, a autônoma explica que a produção de uma peça requer planejamento. Do conhecimento adquirido com cursos, à experiência e maquinário, há empenho. Do molde ao arremate, as peças destacam-se pelo toque personalizado. "Não é qualquer tecido, não é qualquer elástico. Uso tecido 100% algodão e as orientações dos médicos para que tenham forro respirável". Ciente de que muitos profissionais não podem parar, a artesã começou a fazer máscaras para quem segue na ativa e dia desses se viu diante de encomendas nos raros momentos de circulação. "A atendente da farmácia achou linda a minha máscara. Sabemos que a máscara tem uma função muito importante para a nossa proteção, pois ao cobrir nariz e boca, não corremos o risco de levar as mãos a essas partes. Algo costumeiro". A máscara da moça da farmácia, virou um presente e a Luciane pede a Deus que superamos esse momento o quanto antes. Lembra ainda que devem ser lavadas à mão e passadas com ferro.

Imagem ilustrativa da imagem Artesanato para gerar renda
Sacolinhas para álcool em gel e máscaras artesanais feitas por Luciane De Cunto, da DonArteira, de acordo com as especificações técnicas
Sacolinhas para álcool em gel e máscaras artesanais feitas por Luciane De Cunto, da DonArteira, de acordo com as especificações técnicas | Foto: Divulgação

Prevenida com os cuidados diários, mas preocupada com o avanço do vírus, a artesã admite: "Fiquei desesperada, dependo desse trabalho. Assim como eu, outros profissionais da área estão sentindo os prejuízos. São exemplos o grupo Pé Vermelho e o de artesãos que compõem a feira Arte na Praça”, cita.

Luciane costura desde os nove anos de idade e em 2004, transformou o talento em atividade profissional. Lembranças de aniversário, sacolas retornáveis dobráveis, estojos infantis, femininos, masculinos e até roupas de bebê compõem seu mix. "Os macacões com a frase ‘Minha Primeira Páscoa ficarão para o ano que vem". Com motivos variados para as máscaras ou outros artigos, DonArteira se sente reconhecida por seu trabalho,e aceita encomendas para diferentes ocasiões. "Há mocinhas para as quais faço a lembrança de aniversário desde o primeiro aniversário".

A também artesã Leila de Lima também encara a frustração de ter sua produção interrompida. “Estava preparando a decoração do chá de Páscoa de uma paróquia. Acredito que ficará tudo para o ano que vem”. Após 10 dias de cama por contrair dengue, prefere o resguardo e a compreensão. Leila está na categoria de micro empreendedora individual - MEI. “Essa é minha profissão, mas sei que todos já estamos afetados. Vamos precisar ter serenidade e aguardar tudo isso passar.”

Leila de Lima fala da quarentena: "Coelhos ficarão para a Páscoa de 2021"
Leila de Lima fala da quarentena: "Coelhos ficarão para a Páscoa de 2021" | Foto: Divulgação

Voluntárias ação fazem arte como terapia

Aconteça o que acontecer, o trabalho da professora aposentada Missae Nakayama, 73 anos, ficará pronto para a Páscoa. A aposentada faz da costura uma terapia - leva a sério e com prazer. Das 7 às 10h30, já havia feito mais de 20 sacolas de tecido. A costura começa depois da leitura do jornal, que é um ritual para o casal Nakayama. Durante esse período de Quarentena, conforme os aviamentos acabam, a filha Juliana se encarrega de abastecê-la. "Assim eu não saio de casa".

Muito ativa, a professora deixou as atividades externas de lado como a hidroginástica e segue obediente em casa. As canetas personalizadas com fuxico e as sacolas com desenhos alusivos à Páscoa servem para entregar com chocolate e depois usadas conforme a preferência do presenteado. No Natal, Páscoa, Dia dos Professores, Mês das Crianças, a professora sempre se faz presente com suas lembranças. “Sou feliz com o trabalho voluntário que faço há anos". Seu lema é “Fazer o bem, sem olhar a quem”.

A professora Fátima Carvalho de Bernardo e sua mãe, a aposentada Terezinha Melo de Carvalho, também seguem firmes na linha e agulha para alegrar netos, sobrinhos e bisnetos. Feitas de modo artesanal, as raposas que ajudam a compor a contação de “O Pequeno Príncipe”, clássico de Antoine de Saint-Exupéry, ganham forma e cor e são chamadas de “naninhas." Para elas, o artesanato e a costura despertam potenciais como criatividade, coordenação motora, análise matemática dos insumos e diminui ansiedade”, “Existe muito afeto, do feitio até a entrega do presente personalizado”, diz.

85 feiras de maio a dezembro

“Será um longo e tenebroso inverno”. De modo realista, o presidente da Amapev- Associação Metropolitana de Artesanato Pé Vermelho, Aparecido Bidóia, resume como o período de quarentena irá afetar os artesãos. “A suspensão das feiras deixou todos abalados e acredito que não devemos criar expectativas com as vendas pela internet. Podemos nos frustrar porque chocolate e outros artigos que produzimos não são prioridades nesse momento. Ninguém quer gastar e infelizmente há muita desinformação e insegurança por parte do próprio governo”. Bidóia aponta que diretamente, 75 associados serão atingidos pelos cancelamentos e suspensões. “Somos profissionais e mesmo assim a nossa orientação é que todos fiquem em casa e façam a quarentena”, enfatiza. Mas vê um futuro produtivo pela frente. “Já colocamos no papel nosso planejamento: de maio a dezembro, estaremos em 85 feiras institucionais e nas praças de Londrina”.

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