O número de brasileiros que usam a internet alcançou 70% da população em 2018, o que equivale a 126,9 milhões de pessoas. Com tanta gente conectada, as plataformas digitais passaram a ser uma opção para resolver um grande problema do país: o desemprego. Sites de cadastro de currículos, redes sociais e até mesmo um “Tinder” do emprego têm ajudado candidatos em busca de vagas e empresas na procura por profissionais.

Há 25 anos, por exemplo, a busca por um emprego começava com a impressão de um currículo, para entrega em mãos nas empresas. As vagas eram procuradas nos classificados dos jornais e, em muitas vezes, nos avisos de “precisa-se”, colados em paredes de alguns lugares. E o networking era boca a boca, com amigos, vizinhos, familiares e parentes próximos, que espalhavam a “notícia” e também comentavam sobre oportunidades conhecidas. A tecnologia trouxe uma revolução.

“Hoje é muito mais rápido, mais dinâmico você buscar emprego, mas também é mais complexo porque você tem um mar de possibilidades. Às vezes você vai procurar e nem sabe se a vaga realmente existe, se de repente não é um chamariz para vender um outro serviço. E há casos em que a mesma vaga é replicada em inúmeros sites e a pessoa que não tem tanto domínio de tecnologia pode ficar prejudicada”, avalia a job hunter Tais Targa, especialista em recolocação profissional. Portanto, embora praticidade e velocidade sejam aliadas, é preciso optar por sites e plataformas reconhecidas.

Uma das mais famosas é o LinkedIn, fundado em 2003. Apesar de ser voltado para os negócios, ele é uma rede social e, assim como no Facebook, interagir com outros usuários é imprescindível.

"Hoje vejo o quanto é produtivo postar conteúdos, textos e compartilhar notícias dos temas que me interessam. Eles geram tráfego para o meu perfil, interações com pessoas de referência na minha área, além do precioso networking, que é sempre útil na carreira", analisa Felipe Oslaj, especialista de parcerias de uma empresa de programa de fidelidade e recompensas. Usuário da rede desde 2014, os quatro últimos empregos, incluindo o atual, foram resultados de busca ativa e sondagens de recrutadores e empresas de Recursos Humanos via LinkedIn. "É prático porque funciona como um motor de buscas: a empresa anuncia a vaga e direciona para o próprio site, para outros, como o Vagas, ou aceita as candidaturas simplificadas ali mesmo”, explica. As recomendações de vagas apresentadas constantemente na página principal, geradas através do cruzamento de informações do perfil e das atribuições exigidas para a oportunidade, também ajudam. Para quem busca um emprego, facilita o caminho. E para quem está de olho em uma mudança de ares, é um termômetro de como anda o segmento em que a pessoa atua. “Os contatos de headhunters e coordenadores de recursos humanos são constantes, quase semanais. E entrevistas já fiz mais de 15, devido à presença ali”, revela Felipe.

Já a psicóloga, palestrante, consultora de carreira profissional e mercado de trabalho, Daniela Leluddak, destaca o fim das barreiras geográficas como outra grande vantagem dos meios digitais. “A internet conectou tudo e está ajudando significativamente as pessoas a buscarem não só um emprego, mas trabalho. Alguém que mora em Londrina, por exemplo, pode hoje fazer trabalhos para o mundo inteiro", pontua Daniela, sugerindo que os perfis podem ser um grande espaço para a exposição de portfólios e outros materiais de divulgação.

Imagem ilustrativa da imagem A busca digital por emprego

Plataformas digitais poupam tempo para RH

Para os departamentos de Recursos Humanos das empresas, o uso de plataformas digitais poupa tempo. “Antes era preciso esperar que os candidatos viessem em busca da vaga, após um anúncio. Hoje continuamos recebendo currículos e candidaturas, mas muitas oportunidades nem são divulgadas, porque já preenchemos após uma busca e seleção feita pelo próprio RH, que têm à disposição um banco de dados grande e que pode ser pesquisado por palavras-chave específicas. Dá para criar padrões de currículos dentro da necessidade da vaga, reduzindo esse tempo de seleção. Com isso os resultados são mais rápidos e objetivos”, argumenta a gerente de RH, Fátima Silva, que destaca ainda a busca por fornecedores. “Quando precisamos de um serviço terceirizado também agimos da mesma forma. E aí empresas ou profissionais liberais que têm uma presença digital forte acabam saindo na frente em uma busca por referências”, complementa Fátima.

E como fazer para aproveitar adequadamente os recursos digitais disponíveis? Tais Targa dá duas dicas importantes. “A primeira é ter um perfil atualizado. Às vezes a pessoa está procurando emprego, você entra no perfil do LinkedIn dela e não tem foto, não tem descrição da última experiência e ela não entra lá para checar a caixa de mensagens. A segunda é ter o perfil bem preenchido. É fundamental descrever as experiências profissionais e não apenas colocar o cargo. Quanto mais informações você preencher, mais você irá se destacar e estar presente nas buscas. E não economize nas palavras-chave, já que é através delas que você pode ser encontrado”, orienta Tais. Daniela Leluddak chama a atenção para outro detalhe fundamental. “Um dos grandes erros de um candidato é não falar a verdade”, aponta. Portanto, nada de incluir informações falsas ou exageradas no perfil, afinal, checar a veracidade dos dados hoje em dia também tornou-se bem mais fácil, graças à tecnologia.

Para a Fátima, é preciso estar atento aos requisitos das vagas. “Alguns candidatos vão disparando candidaturas para todo o tipo de vaga disponível, sem uma leitura completa, apenas porque é rápido e prático. Então leia sobre a oportunidade com atenção, refine a busca, confira se você realmente se encaixa nos pré-requisitos da vaga e, só então, se candidate. Pega muito mal quando abrimos um perfil e ele não tem nada a ver com o que é exigido”, aconselha. E ela complementa. “Sugiro ainda uma boa pesquisa sobre a empresa. É muito importante saber sobre esse local no qual você tem interesse, como ele funciona, quais os ramos de atuação, e esse tipo de informação geralmente aparece no próprio site, nas redes sociais e até na descrição da vaga, então é fácil de achar. E ter esse conhecimento faz a diferença na hora de conversar com o recrutador, traz um destaque para o candidato”, alerta Fátima.

Para o futuro, inteligência artificial e big data devem trazer ainda mais impactos sobre o mercado de trabalho. “Temos visto áreas de recursos humanos de grandes empresas saindo do comodismo e usando essas ferramentas para buscar talentos que realmente tenham a ver com o negócio. Então as empresas estão se adaptando e a gente também precisa se adaptar, atualizar e se preparar para o mundo contemporâneo. Estude sobre as empresas em que gostaria de trabalhar, que tenham a ver com seu propósito, com seu objetivo de vida. Acredito que as redes proporcionam uma clareza maior, tanto de autoconhecimento de nós mesmos como profissionais, como das empresas que estão buscando bons profissionais”, aconselha Daniela. Tais Targa aponta outra novidade: o vídeo currículo. “Está bastante em voga. Veja o quão inovador é você gravar um vídeo sobre você, compartilhar e, em poucos minutos, cinco, 10 pessoas da mesma empresa poderem conhecer um pouco da sua história”, destaca.

.
. | Foto: Visual Generation/iStock

'Tinder do emprego' ajuda candidatos a encontrar vagas

Fundada em Fortaleza (CE), a startup Goowit, que leva o mesmo nome de sua rede social, promove uma combinação de desempregados com vagas de empresas que estão contratando funcionários. A plataforma virtual quer facilitar a recolocação profissional no Brasil, em um ambiente de recrutamento que agrega desenvolvimento humano e profissional.

Cada candidato tem seu perfil mapeado por meio de um algoritmo de inteligência artificial, para facilitar a combinação e procura por parte da empresa. O usuário da rede social ainda deve receber acesso a mentoria de carreira, trilha de aprendizagem baseada no desenvolvimento de competências, conexões estratégicas com profissionais e empresas de diferentes áreas até vagas segmentadas de acordo com o seu perfil.

Há parcerias com o LinkedIn, para compartilhamento das vagas cadastradas no sistema, e com a Udemy, uma das maiores plataformas de educação a distância do mundo, para indicação de cursos para o desenvolvimento da trilha de aprendizagem. Para os usuários que estiverem em busca de emprego, o acesso é gratuito, e o site da rede social é mantido pelo pagamento de mensalidades pelas empresas interessadas em contratar profissionais.

.
. | Foto: Folha Arte