Rio de Janeiro - Aproximadamente 13 milhões de brasileiros afastados do trabalho voltaram às suas ocupações desde maio até a primeira semana de setembro, segundo informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no fim de setembro.

Ao mesmo tempo, o número de brasileiros em home office seguiu estável, estimado em 8,3 milhões, mas teve queda percentual de 13,4% em meio à alta na população ocupada e não afastada do trabalho.

Isso sugere que os empregos que estão retornando são os de menor qualificação, sem condições de trabalhar remotamente, ou ainda um sinal da flexibilização da economia pelo país, pois caiu também o percentual de pessoas afastadas do trabalho devido ao distanciamento social.

Na primeira semana de setembro, eram 3,4 milhões de brasileiros (4,2%) nessa situação, ante 16,6 milhões (19,8%) em maio.

Segundo especialistas ouvidos pela Folha, os empregos em home office são os de melhor qualificação, com remunerações maiores, o que fez com que o trabalho remoto virasse um novo indicador da desigualdade no mercado de trabalho brasileiro.

"O home office não é para qualquer um, é para determinadas ocupações e setores", afirma João Luiz Maurity Saboia, da UFRJ.

Com o retorno gradual da economia e o  auxílio emergencial diminuindo, os brasileiros vão retomando a procura por trabalho, o que pressiona a taxa de desocupação.
Com o retorno gradual da economia e o auxílio emergencial diminuindo, os brasileiros vão retomando a procura por trabalho, o que pressiona a taxa de desocupação. | Foto: iStock

Maria Lucia Vieira, coordenadora da pesquisa, destacou que a recuperação do emprego no país vem se dando especialmente entre os trabalhadores informais ou por conta própria, justamente os que normalmente recebem salários menores e possuem menor qualificação. "Foram os mais atingidos pela pandemia", disse Vieira.

Ana Beatriz Moraes, economista do Ibmec, apontou que é necessário torcer para que o aquecimento da economia consiga tirar a população da zona do desemprego.

"O retorno da atividade econômica em um primeiro momento está relacionado à flexibilização de medidas relativas à pandemia", afirmou a professora.

Nos últimos meses, o Brasil promoveu a reabertura gradual do comércio, com shopping centers, bares e restaurantes voltando a funcionar, o que motivou a retomada de alguns postos de emprego. Apesar disso, a população que gostaria de trabalhar continuou estável com relação a maio, na casa das 27,3 milhões de pessoas.

A pesquisa aponta ainda que aproximadamente 17,1 milhões de pessoas fora da força gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego em razão da pandemia ou por não encontrar ocupação próximo de onde moram.

Ao mesmo tempo, aumentou a população desocupada no país. Isso ocorreu porque quem até então estava fora da força de trabalho voltou a procurar trabalho com a flexibilização do distanciamento social.

"As pessoas retornam ao mercado de trabalho, vão em busca de emprego e ocupação", disse Vieira.

Na metodologia do IBGE, é considerado desempregado quem está na fila do emprego em busca de ocupação. Por isso, com o retorno gradual da economia e o auxílio emergencial diminuindo e com data para encerrar, os brasileiros vão retomando a procura por trabalho, o que pressiona a taxa de desocupação.

No início de setembro, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que o auxílio emergencial será reduzido para R$ 300 por quatro meses. A quantia representa metade da concedida nos primeiros cinco meses do programa.

Na primeira semana de setembro, a população desocupada ficou em 13 milhões de pessoas, considerável estável pelo IBGE, mas com redução de 700 mil brasileiros na comparação com o fim de agosto.