Com 6.384.957 inscritos em 2019, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é a segunda maior prova de admissão ao ensino superior do mundo. Neste ano, será aplicado após a quarta troca de comando do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), autarquia técnica do MEC (Ministério da Educação) que realiza o Enem, em poucos meses. “Não é sensato mudar de titular tantas vezes”, opina Claudia Costin, professora e diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Todavia, a prova deve transcorrer normalmente, na opinião da especialista.

Imagem ilustrativa da imagem Gigante, Enem exige preparação intelectual e emocional
| Foto: Folha Arte
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Costin explica que o Enem é baseado em um banco de questões pré-testadas e que “tudo está transcorrendo de acordo com o calendário”. Fora novas medidas para economizar recursos, “periféricas”, como definiu Costin, a prova não terá mudanças significativas neste ano. “Trata-se de um uso mais adequado das folhas de prova e como vão lidar com a questão da identificação biométrica, que impacta no custo, mas não impacta na qualidade da prova.”

Para a diretora pedagógica do Curso Pré-Vestibular e Ensino Médio Sigma, Silvia Helena Carvalho, a preparação dos estudantes para uma avaliação desse porte tem de ser pensada de maneira cognitiva, intelectual, física e emocional. E é no emocional que está o principal gargalo, porque se trata de um exame extenso que pode mudar o futuro do jovem. “Várias crises que os jovens têm em relação à incerteza do futuro deles, que está em jogo por meio dessa prova, acabam impactando de uma forma muito ruim para eles”, afirma. A preparação deve ser pensada em questões contextualizadas, habilidades de criticidade e formação de alternativas para a resolução de problemas. “É a significação deles, não é só conteúdo por conteúdo. A prova do Enem já tem essa abordagem há alguns anos. Cobra-se uma análise crítica a partir desse conteúdo. Uma visão interdisciplinar, questões de geografia com matemática, por exemplo.”

O novo presidente do Inep, Alexandre Lopes, assumiu oficialmente no dia 20 de maio, após a demissão de Elmer Coelho Vicenzi. O cargo foi antes ocupado por Marcus Vinicius Carvalho Rodrigues. Até janeiro, a presidente do órgão era Maria Inês Fini, responsável pela autarquia durante a gestão de Michel Temer. Questionamentos do ponto de vista material e de conteúdo foram levantados sobre a prova. O primeiro, relacionado à gráfica que fazia a impressão do Enem e que pediu falência. Trouxe uma pergunta a Lopes uma pergunta inusitada: “vai ter o Enem?” À imprensa, ele disse que o cronograma do exame será mantido. O contrato para a impressão das provas com uma nova gráfica foi firmado no dia 21 de maio.

A logística preocupa Ocimar Alavarse, especialista em avaliação e professor da USP (Universidade São Paulo). “A impressão do Enem não é simples, é um volume grande. É cercada por alguns cuidados, contra vazamento de provas. Nenhuma empresa pode dar garantia absoluta, mas a que estava imprimindo o Enem, em tese, estava garantindo isso.” A aplicação das provas está agendada para dois domingos: 3 e 10 de novembro.

Em relação ao conteúdo, uma comissão que avaliaria previamente os itens da prova foi formada após o comentário que Bolsonaro teceu em relação a uma questão do Enem de 2018, em que o dialeto transexual era citado como forma de contextualização de um evento linguístico. Isso suscitou falta de credibilidade do exame, de acordo com Alavarse. “Pense se o reitor da universidade questiona o vestibular que seleciona os alunos para a universidade que ele dirige. Pensa em um aluno que vê o responsável em última instância pelo exame fazendo questionamentos.”

O Inep não informou à reportagem se essa comissão chegou a exercer atividade até o momento. Costin argumenta que a ideia da comissão parece ter surgido para agradar eleitores, já que, se de fato ela agisse, caracterizaria uma quebra da segurança da prova. “Eu tenho a impressão de que isso é cortina de fumaça. Foi mais ligado a atender expectativas de parte dos seguidores do presidente. Mas ninguém mais fala disso e isso quebraria o sigilo da prova, o que é muito arriscado e não acredito que vai acontecer”, opina.