A indignação e o sentimento de impotência marcaram o depoimento de aposentados e pensionistas que compareceram nesta sexta-feira (30) à agência dos Correios no Centro de Londrina para tentar entender os descontos indevidos em seus benefícios pagos pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Eles são algumas das milhares de vítimas da fraude envolvendo contratos não autorizados, como empréstimos consignados, seguros e cartões de crédito, que têm corroído silenciosamente a renda de quem vive com o mínimo. O atendimento presencial nos Correios para consultar e contestar descontos indevidos começou nesta sexta em todo o Brasil.

João Ribeiro Neto, 67, aposentado, só percebeu que algo estava errado quando recebeu menos da metade do valor esperado em seu pagamento de abril. “Veio só R$ 980. Depois eu vi que estavam descontando quase R$ 500. E eu nem sabia que tinham feito um empréstimo no meu nome. Estou correndo atrás até agora pra entender o que aconteceu”, lamenta, com os papéis nas mãos. “É difícil. Esses quinhentos reais fazem muita falta.”

'Estão tirando o dinheiro que não é deles'

Também aposentado, Ironi Pereira Castro, 62, conta que percebeu algo errado ao notar que seu benefício não acompanhava os reajustes do salário mínimo. Ele não sabe o valor exato dos descontos, mas desconfia de irregularidades. “Minha filha tentou entrar no sistema pra mim, mas não conseguimos. Pede senha, trava tudo. Eu só sei que estão tirando dinheiro que não é deles”, desabafa. “A gente é simples. Vai lá, pega o pagamento, paga as contas. Aí vem um pilantra e leva o dinheiro do remédio, da comida”, relata.

Silvania Soares, 58, pensionista e empregada doméstica, diz que há mais de 20 anos sofre descontos mensais por um seguro residencial que nunca contratou. “Minha casa está caindo aos pedaços. Nunca teve reforma, pintura, nada. E, todo mês, tiram R$ 30 por um seguro que eu nem sei qual é. Mais R$ 25 de um cartão de crédito que eu nunca usei. São R$ 55 que, para eles, não é nada, mas, pra mim, é muito”, afirma.

Viúva, Silvania conta que o filho morreu aos 19 anos e deixou a pensão para sustentá-la, mas que continua trabalhando na casa das pessoas para complementar a renda. “Eu nunca peguei uma agulha que não fosse minha. E agora tenho que ver o rico roubando do pobre. Acho um absurdo. Tem que mudar essa lei”, cobra.

'Fiquei revoltado'

Hélio Campoli, de 86 anos, aposentado desde 1989, descobriu os descontos graças a uma dica da filha. “Quando vi a folha cheia de desconto, fiquei revoltado. A gente trabalha a vida inteira, e no fim da vida ainda tem que passar por isso”, afirma. “Se fosse eu que tivesse feito isso, já estaria preso. Mas como é gente grande, ninguém faz nada.”

Airton Manzano Garcia, 62, também aposentado, foi aos Correios por desconfiança. “A gente nem tira extrato [bancário], né? Mas, com essa história toda, resolvi vir ver se não estavam tirando, também. É um absurdo a gente ter que gastar tempo e energia pra correr atrás de uma coisa que é nossa por direito. Trabalhei a vida toda pra ter uma aposentadoria e ainda tenho que vigiar se não tão lesando a gente.”

Diante da dificuldade de acesso ao aplicativo Meu INSS e da lentidão no atendimento telefônico do número 135, os segurados vêm nos atendimentos presenciais nos Correios uma alternativa. “Aqui nos Correios foi uma chance de se defender. Se não fosse isso, eu estaria perdido”, resume Ironi Pereira Castro.

SERVIÇOS

Nas agências dos Correios, aposentados e pensionistas poderão:

* Consultar existência de desconto;

* Requerer contestação de descontos não autorizados;

* Reconhecer autorização de algum desconto;

* Consultar resultado da contestação (após 15 dias);

* Analisar e contestar documentação apresentada pela associação;

* Imprimir protocolo com orientações para o 135 e o Meu INSS.

A parceria entre os Correios e o INSS prevê protocolos rigorosos de segurança, com atendimento feito exclusivamente por profissionais treinados em unidades próprias dos Correios. Todos os dados dos beneficiários são tratados com base na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), garantindo confidencialidade e rastreabilidade.

A lista completa das unidades habilitadas está disponível no site dos Correios.

(Com INSS)

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