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Economia 5m de leitura

Vendas no varejo físico caem 4,4% no primeiro trimestre

Com movimento em queda, lojistas precisam apostar em outras estratégias para manter o fluxo de receita

ATUALIZAÇÃO
28 de abril de 2021

Mie Francine Chiba - Grupo Folha
AUTOR

A loja de roupas de Jéssica Nunes sempre foi bastante movimentada, mas com as vendas caindo devido à pandemia, a empresária teve que se apressar e adotar algumas medidas para manter o fluxo de receita. O primeiro passo foi investir tempo e esforço nas redes sociais, que funciona como uma vitrine para os produtos da loja em época de isolamento social. 

 

Até pouco tempo atrás, os consumidores ainda precisavam passar no estabelecimento para buscar as peças adquiridas com as vendedores via WhatsApp. Mas agora, a loja também começou a trabalhar com entregas de moto em Londrina, Cambé e Ibiporã. A compra chega no mesmo dia e o pagamento pode ser feito por link de plataformas de pagamento, Pix ou máquina de cartão.

Aproveitando o processo montado para as entregas, o negócio também começou a vender para outras cidades, estados e até países com envios por Correio. "Fizemos um envio para os EUA. Foi o nosso primeiro envio internacional", comemora Nunes.

"Começamos com isso depois pandemia. Já havia demanda, mas como o fluxo na loja era grande não conseguíamos tempo para parar e cuidar dessa parte. Como o comércio fechou por meses, inclusive nos finais de semana, que sempre foram dias bons para a venda, a gente precisou sentar e pensar o que fazer", conta a empresária.

Por enquanto, a nova modalidade de vendas está apenas permitindo que a loja mantenha o patamar de vendas. "Como é algo novo, procuro não divulgar já de cara com todo o peso para conseguir dar conta da demanda", explica Nunes. Mas a ideia no futuro é que a estratégia se torne uma fonte de receita adicional.

As vendas no varejo em lojas físicas caíram 4,4% no primeiro trimestre deste ano contra igual período do ano passado, apontou um novo levantamento feito pelo SpendingPulse, da Mastercard. Em março, a queda foi de 7% em relação a igual mês de 2020.

Segundo o gerente geral da Mastercard Brasil, Estanislau Bassols, o movimento foi impulsionado pela mudança de hábitos do consumidor diante da pandemia do coronavírus. "Uma série de estabelecimentos já está nascendo online porque o hábito de compras mais voltadas para o ecommerce é permanente. E isso se torna ainda mais evidente quando olhamos a queda no varejo físico", afirmou Bassols à Folha de S. Paulo.

A tendência, segundo o executivo, é que cada vez mais negócios nasçam ou migrem completamente para o online ao longo dos próximos meses.

Ainda segundo o SpendingPulse, em termos de vendas totais do varejo no primeiro trimestre, todas as regiões apresentaram desempenho inferior às vendas observadas em igual período de 2020. O Centro-Oeste caiu 7,1% na comparação, seguido por Sul (5,6%), Sudeste (4,1%), Nordeste (3,9%) e Norte (0,3%).

"O comércio online conquistou espaços tanto em relação às pequenas quanto às grandes empresas. Uma coisa que já conseguimos prever sobre esse movimento é que pelo menos 20% das migrações que vimos para o e-commerce é permanente", disse Bassols.

E-COMMERCE

Em relação às vendas no e-commerce, o levantamento da Mastercard registrou um avanço de 91,6% no primeiro trimestre deste ano contra iguais três meses de 2020. Em março, na mesma base de comparação, o avanço foi de 84,7%.

Em comparação com o mesmo período do ano passado, os setores de eletrônicos e de farmácia foram destaque, com aumento de 134,1% e 102,4%, respectivamente.

CONCORRÊNCIA

"Com o comércio fechado e as vendas paradas, aqueles que não tinham estrutura de vendas on-line começaram do zero para aumentar suas vendas e quem já tinha investiu nesse segmento para poder melhorar suas vendas", relata Ângelo Pamplona, diretor comercial da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina). "Aquele que não tem nada, está sofrendo as consequências", ele acrescenta.

A recomendação da entidade é partir para este canal de vendas, mas investir em um site e uma logística bem estruturada para não ter problemas no pós-venda. "Hoje, assim como é fácil comprar na internet, é fácil as pessoas reclamarem na internet", alerta Pamplona.

O diretor comercial também lembra que na internet a variedade de produtos e preços é "ilimitada", e o concorrente do comerciante local pode estar até mesmo em um grande marketplace nacional. "Você tem produtos de todos os preços e para comprar o mesmo produto tem que fazer uma boa pesquisa. Se a oferta não for tão atrativa quanto de outros concorrentes, acaba não vendendo."

Plataforma on-line com lojistas de shopping

A mudança do comportamento do consumidor já vinha acontecendo com a digitalização, mas a pandemia acelerou este processo, afirma um shopping da cidade. Diante do cenário, o empreendimento passou a oferecer canais complementares de vendas para os seus lojistas.

O shopping disponibilizou uma plataforma on-line por onde os consumidores podem comprar os produtos das lojas do shopping. O assistente de compras da plataforma auxilia o cliente via WhatsApp durante todo o processo. Ao final, ele escolhe a modalidade de entrega que preferir: drive-thru, locker (armário com senha) ou delivery em um raio de até 30 km com taxa de R$ 10. 

"O consumidor de forma geral está mais habituado a comprar de forma online e preza pela praticidade de poder retirar seu produto quando pode, no horário que é mais apropriado, ou mesmo recebê-lo em casa", aponta Diego Peralta, superintendente do Catuaí Shopping Londrina. "Hoje o Catuaí Online já comercializa, por meio da Assistente de Compras, o equivalente ao faturamento de uma loja satélite, que é uma loja de grande porte, porém menor que as lojas âncoras”, completa, referindo-se à plataforma.

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