A loja de roupas de Jéssica Nunes sempre foi bastante movimentada, mas com as vendas caindo devido à pandemia, a empresária teve que se apressar e adotar algumas medidas para manter o fluxo de receita. O primeiro passo foi investir tempo e esforço nas redes sociais, que funciona como uma vitrine para os produtos da loja em época de isolamento social.

Imagem ilustrativa da imagem Vendas no varejo físico caem 4,4% no primeiro trimestre
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Até pouco tempo atrás, os consumidores ainda precisavam passar no estabelecimento para buscar as peças adquiridas com as vendedores via WhatsApp. Mas agora, a loja também começou a trabalhar com entregas de moto em Londrina, Cambé e Ibiporã. A compra chega no mesmo dia e o pagamento pode ser feito por link de plataformas de pagamento, Pix ou máquina de cartão.

Aproveitando o processo montado para as entregas, o negócio também começou a vender para outras cidades, estados e até países com envios por Correio. "Fizemos um envio para os EUA. Foi o nosso primeiro envio internacional", comemora Nunes.

"Começamos com isso depois pandemia. Já havia demanda, mas como o fluxo na loja era grande não conseguíamos tempo para parar e cuidar dessa parte. Como o comércio fechou por meses, inclusive nos finais de semana, que sempre foram dias bons para a venda, a gente precisou sentar e pensar o que fazer", conta a empresária.

Por enquanto, a nova modalidade de vendas está apenas permitindo que a loja mantenha o patamar de vendas. "Como é algo novo, procuro não divulgar já de cara com todo o peso para conseguir dar conta da demanda", explica Nunes. Mas a ideia no futuro é que a estratégia se torne uma fonte de receita adicional.

As vendas no varejo em lojas físicas caíram 4,4% no primeiro trimestre deste ano contra igual período do ano passado, apontou um novo levantamento feito pelo SpendingPulse, da Mastercard. Em março, a queda foi de 7% em relação a igual mês de 2020.

Segundo o gerente geral da Mastercard Brasil, Estanislau Bassols, o movimento foi impulsionado pela mudança de hábitos do consumidor diante da pandemia do coronavírus. "Uma série de estabelecimentos já está nascendo online porque o hábito de compras mais voltadas para o ecommerce é permanente. E isso se torna ainda mais evidente quando olhamos a queda no varejo físico", afirmou Bassols à Folha de S. Paulo.

A tendência, segundo o executivo, é que cada vez mais negócios nasçam ou migrem completamente para o online ao longo dos próximos meses.

Ainda segundo o SpendingPulse, em termos de vendas totais do varejo no primeiro trimestre, todas as regiões apresentaram desempenho inferior às vendas observadas em igual período de 2020. O Centro-Oeste caiu 7,1% na comparação, seguido por Sul (5,6%), Sudeste (4,1%), Nordeste (3,9%) e Norte (0,3%).

"O comércio online conquistou espaços tanto em relação às pequenas quanto às grandes empresas. Uma coisa que já conseguimos prever sobre esse movimento é que pelo menos 20% das migrações que vimos para o e-commerce é permanente", disse Bassols.

E-COMMERCE

Em relação às vendas no e-commerce, o levantamento da Mastercard registrou um avanço de 91,6% no primeiro trimestre deste ano contra iguais três meses de 2020. Em março, na mesma base de comparação, o avanço foi de 84,7%.

Em comparação com o mesmo período do ano passado, os setores de eletrônicos e de farmácia foram destaque, com aumento de 134,1% e 102,4%, respectivamente.

CONCORRÊNCIA

"Com o comércio fechado e as vendas paradas, aqueles que não tinham estrutura de vendas on-line começaram do zero para aumentar suas vendas e quem já tinha investiu nesse segmento para poder melhorar suas vendas", relata Ângelo Pamplona, diretor comercial da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina). "Aquele que não tem nada, está sofrendo as consequências", ele acrescenta.

A recomendação da entidade é partir para este canal de vendas, mas investir em um site e uma logística bem estruturada para não ter problemas no pós-venda. "Hoje, assim como é fácil comprar na internet, é fácil as pessoas reclamarem na internet", alerta Pamplona.

O diretor comercial também lembra que na internet a variedade de produtos e preços é "ilimitada", e o concorrente do comerciante local pode estar até mesmo em um grande marketplace nacional. "Você tem produtos de todos os preços e para comprar o mesmo produto tem que fazer uma boa pesquisa. Se a oferta não for tão atrativa quanto de outros concorrentes, acaba não vendendo."

Plataforma on-line com lojistas de shopping

A mudança do comportamento do consumidor já vinha acontecendo com a digitalização, mas a pandemia acelerou este processo, afirma um shopping da cidade. Diante do cenário, o empreendimento passou a oferecer canais complementares de vendas para os seus lojistas.

O shopping disponibilizou uma plataforma on-line por onde os consumidores podem comprar os produtos das lojas do shopping. O assistente de compras da plataforma auxilia o cliente via WhatsApp durante todo o processo. Ao final, ele escolhe a modalidade de entrega que preferir: drive-thru, locker (armário com senha) ou delivery em um raio de até 30 km com taxa de R$ 10.

"O consumidor de forma geral está mais habituado a comprar de forma online e preza pela praticidade de poder retirar seu produto quando pode, no horário que é mais apropriado, ou mesmo recebê-lo em casa", aponta Diego Peralta, superintendente do Catuaí Shopping Londrina. "Hoje o Catuaí Online já comercializa, por meio da Assistente de Compras, o equivalente ao faturamento de uma loja satélite, que é uma loja de grande porte, porém menor que as lojas âncoras”, completa, referindo-se à plataforma.