As lojas de material de construção tiveram o melhor resultado da pesquisa por setores do comércio com crescimento no faturamento de 32,37% nos quatro primeiros meses do ano
As lojas de material de construção tiveram o melhor resultado da pesquisa por setores do comércio com crescimento no faturamento de 32,37% nos quatro primeiros meses do ano | Foto: Lis Sayuri /17-12-2014

Depois de um ano de incertezas e restrições nas atividades econômicas devido à pandemia, o varejo paranaense vive, em 2021, um período de retomada, segundo aponta a Pesquisa Conjuntural da Fecomércio PR (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná). Os dados do primeiro quadrimestre deste ano mostram crescimento de 12,88% nas vendas do varejo no Estado quando comparados com o mesmo período de 2020. Neste cenário, entre todas as regiões do Estado, Londrina se destaca, com alta de 29,43% nas vendas do comércio varejista.

O estudo indica também uma mudança nos hábitos de compra da população, que deixou de priorizar o gasto com vestuário e calçados e passou a investir mais no conforto do lar. Um indicativo desse novo perfil de consumo é o desempenho das lojas de material de construção, que tiveram o melhor resultado da pesquisa por setores do comércio, com crescimento no faturamento de 32,37% nos quatro primeiros meses do ano sobre igual período de 2020.

Administradora do Depósito Alvorada, em Londrina, Camilla Cristina Pereira confirmou o aquecimento das vendas de materiais de construção em torno de 30%. O fluxo de consumidores na loja, disse ela, começou a aumentar no início da pandemia, em março do ano passado, e as vendas seguiram em uma crescente durante todo o ano. “As pessoas ficaram mais tempo em casa e sentiram a necessidade de fazer reformas. Teve muita gente também que não viajou e acabou usando o dinheiro que seria gasto na viagem com reformas e construções”, comentou.

O setor entrou em 2021 mantendo os bons resultados, mas em junho observou uma leve queda. “Está aumentando bastante o valor dos materiais de construção, tanto o bruto quanto os acabamentos. Foram altas de 7%, 10%, chegando até 15%. Alguns itens que não haviam tido reajuste no ano passado, aumentaram de preço agora, tudo de uma vez. Sentimos uma leve queda no faturamento no mês passado, imaginamos que seja por conta disso, mas ainda não sabemos se é uma tendência ou se foi um mês atípico”, disse Pereira.

Outros setores que registraram aumento no faturamento acima de 20% foram óticas, cine-foto-som, móveis, decorações e utilidades domésticas, autopeças e concessionárias de veículos. Na outra ponta, entre os que mais acumularam perdas, estão as livrarias e papelarias, com baixa de 22% no faturamento, calçados, com queda de 7,93%, e vestuário e tecidos, que registrou redução de 3,13%.

Proprietário de uma rede de papelarias em Londrina, Alvaro Loureiro Junior contabilizou perdas três vezes maior do que o percentual apontado pela pesquisa da Fecomércio PR. Segundo ele, a queda no faturamento superou os 60% nos primeiros meses deste ano. “Se eu tenho alguma venda hoje, é de material de escritório e de brinquedos. Estamos tendo prejuízos no setor. Estamos passando por uma dificuldade imensa. Não existe consumo e não existe venda.”

Loureiro Junior, que tinha oito lojas na rede, agora conta com seis. Duas filiais tiveram de ser fechadas em razão da forte queda nas vendas. Uma das lojas fechou as portas em fevereiro e a outra, em abril. “A situação está bem delicada para o setor, para quem depende da venda de material escolar. Damos os anos de 2020 e de 2021 como perdidos, não existe mais a possibilidade de recuperação.”

VARIAÇÃO MENSAL

Para a Fecomércio PR, os resultados positivos no primeiro quadrimestre evidenciam a retomada econômica e a variação positiva de 5,07% nas vendas em abril na comparação com março é resultante da reabertura do comércio após decretos estaduais e municipais mais rígidos, que determinaram a restrição de horários e atividades do comércio em março.

Em relação a abril de 2020, a alta observada no estudo foi de 46,28% no varejo, com crescimento em quase todos os setores, já que nos dois primeiros meses de pandemia houve a paralisação de grande parte das atividades do comércio sem que as empresas tivessem tempo de se preparar para as vendas on-line. De abril do ano passado para abril de 2021, apenas o setor de supermercados teve queda, de 1,70%. A avaliação da Fecomércio PR é de que no ano passado, o medo do desabastecimento levou muita gente a estocar alimentos. Neste ano, o consumo de alimentos e bebidas se normalizou.

REGIÕES

No acumulado de janeiro a abril, todas as regiões pesquisadas apresentaram crescimento, com destaque para Londrina, onde as vendas aumentaram 29,43%. Na sequência, figuram a Região Oeste (10,68%), Sudoeste (10,55%), Curitiba e Região Metropolitana (9,52%), Ponta Grossa (7,88%) e Maringá (4,99%).

Segundo o coordenador de Desenvolvimento Empresarial da Fecomércio PR, Rodrigo Schmidt, o resultado expressivo apresentado por Londrina pode ser explicado por uma análise setorial. “Os setores que tiveram maior crescimento foram aqueles em que Londrina mais se destacou, que são o de material de construção, ótica, cine-foto-som, móveis e decorações”, observou o coordenador da Fecomércio PR.

Schmidt destacou ainda que a região dá sinais de recuperação em setores que não tiveram desempenho tão favorável, como o de calçados, que aponta para um reaquecimento na comparação entre abril de 2020 e abril de 2021. "Claro que ainda existem vários problemas. Para a recuperação econômica deslanchar mesmo, o mercado de trabalho precisa retornar. Mais pessoas empregadas vão consumir mais e girar a economia. Tudo depende de uma questão presencial, de as pessoas poderem estar circulando e consumindo nos estabelecimentos”, ressaltou.

PERSPECTIVAS

Um crescimento da economia como um todo, apontou Schmidt, só virá com o avanço da imunização da população. “Na medida em que menos pessoas sejam infectadas e adoeçam e que a gente consiga vislumbrar uma melhora no quadro da pandemia a médio prazo, os próprios comerciantes se sentirão mais seguros para fazerem investimentos e contratarem pessoas.”