Dados compartilhados pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) mostram um aumento de 20,7% na venda de carros elétricos puros no Paraná. Este crescimento diz respeito aos primeiros seis meses de 2023 comparados com os deste ano.

O avanço mostra como os compradores vêm se interessando cada vez mais pelo modelo, que promete não emitir gases poluentes, baixo custo de manutenção, eliminar poluição sonora, ter consumo 10 vezes menor por quilômetro e alcançar mais de 90% de rendimento - para se ter uma ideia, carros a combustão alcançam um rendimento entre 20% e 30% apenas.

Já o valor de produção do carro elétrico pode variar dependendo do custo de mineração e extração dos componentes da bateria, como o lítio. “Conforme o mercado vai tendo um giro maior, a tendência do custo é reduzir. Mas o lítio é um mineral que, em função das suas reservas e baixa disponibilidade na natureza, não vai durar muito tempo”, analisa o engenheiro elétrico Carlos Henrique Gonçalves Treviso.

Experiência dos compradores

O empresário londrinense Hamilton Ribas tem o carro elétrico Seal, da marca chinesa BYD. No Brasil, o modelo tem valor a partir de R$ 350 mil reais. Mesmo com investimento alto no automóvel, o empresário garante que a compra valeu a pena. “Foi o primeiro carro que eu tive prazer em dirigir. Eu já tive uns esportivos, mas esse com certeza é o que eu mais tenho gostado”, confessa.

Imagem ilustrativa da imagem Venda de carros elétricos cresce 20,7% no primeiro semestre
| Foto: Arquivo Pessoal

O modelo que o empresário tem permite uma autonomia de 400 km a 500 km, o que exige um certo planejamento em caso de viagens longas. “Se eu não planejar uma viagem, eu vou passar por uma grande dificuldade. Por isso, tenho que saber todos os pontos em que posso parar para carregar o carro”, explicou. Ainda que tenha mais pontos positivos do que negativos, Hamilton cita a autonomia do veículo, que não supre toda a necessidade dele.

O tempo de carregamento de um carro elétrico varia de acordo com a capacidade do carro e do carregador. O carro elétrico Seal, por exemplo, tem capacidade de 85 kW. Em carregadores ultra rápidos - de 120 a 140 kWh - seriam necessários de 30 a 40 minutos para o carregamento completo. Já nos de 6 kW, demoraria de 12 a 13 horas.

Além da população em geral, empresas também apostam num futuro repleto de carros elétricos, como a Copel. Ela foi a primeira do setor elétrico a aderir ao Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas). “Mais recentemente, colocamos no planejamento estratégico a descarbonização da frota de veículos como parte dos esforços no combate às mudanças do clima, iniciando pelos modais de maior viabilidade e dando sequência nos estudos para veículos de maior porte e implementados”, explica Gregório Leal Oliveira, gerente de serviços de frota da Copel.

O profissional ainda reforça que não há mais necessidade de deslocamento até os postos de combustíveis, já que os veículos elétricos são carregados dentro dos polos da Copel através dos carports que aproveitam a geração de energia solar.

“Temos veículos de última geração, mais seguros, sem emissão de ruídos e poluentes na atmosfera”
“Temos veículos de última geração, mais seguros, sem emissão de ruídos e poluentes na atmosfera” | Foto: Copel

Problemas e desafios

Mesmo que pareça oferecer apenas benefícios para os consumidores e o meio ambiente, o carro elétrico não é exatamente o que parece. Ainda que durante o uso o modelo não emita poluentes, no processo de produção de baterias há a emissão de CO2 e um alto gasto de água para a extração do lítio, principal componente da bateria. Para se ter uma ideia, são necessários 2,1 milhões de litros para a extração de uma tonelada do elemento.

Quando comparado com a emissão que os carros a combustão realizam, a extração de lítio acaba sendo mais crítica. “O lítio não é encontrado na natureza, ele está no meio da rocha e precisa ser tirado dali. Para isso, além de muita água, é necessário componentes químicos para retirar outros elementos e deixar apenas o lítio”, explica o engenheiro elétrico Treviso. O profissional ainda reforça que, mesmo que não polua os grandes centros, “o carro elétrico está poluindo outro lugar” durante o processo de produção.

A mesma situação acontece quando a bateria precisa ser descartada. Ao ser exposta no meio ambiente, ela volta a poluir e, por enquanto, não há um padrão de reciclagem correta no Brasil. Segundo o engenheiro elétrico, outros problemas também podem acontecer, como quando ocorre algum curto interno, ocasionando um aquecimento excessivo que faz a bateria entrar em combustão e liberar substâncias tóxicas.

Além do impacto negativo no meio ambiente, o engenheiro ressalta alguns desafios que os compradores podem enfrentar, como a dificuldade de recarregar durante longas viagens. Caso o carro descarregue, só um guincho ou um gerador portátil poderiam ajudar. “Não há uma estrutura nas rodovias pronta para isso. Leva tempo, muito tempo. E a pergunta é esse investimento. Será que vai valer a pena? Porque não fica barato. É uma questão estrutural e política”, ressalta. Além disso, o engenheiro pontua que o aumento da presença de carros elétricos pode ser um incentivo para que redes de abastecimento se preparem ou se adaptem à nova condição.

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| Foto: Maria Tereza Nascimento

Outro fator que parece ser positivo, mas traz problemas é o completo silêncio do carro elétrico. Mesmo que seja positivo para diminuir a poluição sonora do trânsito, a falta do barulho pode causar acidentes, principalmente em pessoas com deficiência visual, que se guiam pelo som que os carros emitem.

Prováveis soluções

Na busca de dar um fim devido às baterias que são descartadas, o Centro de Gestão Energética do Parque Tecnológico Itaipu vem desenvolvendo novos projetos de reutilização. Um deles é utilizar essas baterias descartadas como armazenamento de energia renovável. “Ao armazenar energia solar, podemos usá-la em horários que não há sol, assim, ela pode ser empregada para realizar o carregamento de veículos elétricos e reduzir o consumo de energia no horário de pico, por exemplo”, explica Tales Jahn, gestor do centro.

Para eles, o descarte da bateria de lítio já é uma realidade, tendo como única solução a reutilização. “Estamos falando de um volume expressivo de baterias para os próximos anos. Muitas empresas e montadoras procuram alternativas para trazer oportunidades de criação de um modelo de negócio para a comercialização de energia”, avalia.

Futuro

Até 2030, a expectativa é que o mundo tenha 140 milhões de veículos elétricos, segundo artigos estudados pelo engenheiro Treviso. “Então, imagina 11 milhões de toneladas de bateria de lítio. O que nós vamos fazer com isso? E no processo de reciclagem tem que haver desmontagem e retirada dos metais. Tem que ter usinas para isso”, pontua. Para ele, o futuro é incerto e pouco simples, possivelmente um em que as pessoas acabem “se decepcionando com esses veículos elétricos”.

Na visão do engenheiro, o melhor projeto de veículo seria o híbrido, em que é utilizado um motor elétrico de baixa potência para auxiliar a combustão. “Só que eu seria mais ousado. Não usaria só o petróleo, mas o hidrogênio”, apresenta. Nesse caso, para fazer a eletrólise, o hidrogênio também precisaria de energia elétrica. "Realmente, é algo do futuro. Nós até já temos o sistema de energia do gás natural, o que faltaria seria implementar o motor de hidrogênio e usá-lo no lugar do gás natural", explica.

Maria Tereza Nascimento é estagiária

Supervisão: Celso Felizardo