O analista comercial Vinicius Menegaldo, que planeja fazer um mochilão pela América do Sul pela primeira vez. Em vez de comprar dólar (moeda) desde já, ele prefere realocar recursos em fundos de investimento estrangeiros e ações na bolsa de valores porque a rentabilidade é maior
O analista comercial Vinicius Menegaldo, que planeja fazer um mochilão pela América do Sul pela primeira vez. Em vez de comprar dólar (moeda) desde já, ele prefere realocar recursos em fundos de investimento estrangeiros e ações na bolsa de valores porque a rentabilidade é maior | Foto: Ronny Santos/Folhapress

São Paulo - O turista que planeja uma viagem internacional para quando a pandemia acabar tem opções para se proteger de variações cambiais e inflacionárias até o dia de fazer as malas. A compra gradual da moeda estrangeira, fundos atrelados à sua flutuação e títulos que acompanham a inflação asseguram ao investidor-viajante que não haja desvalorização de seu capital até a hora do embarque.

Henrique Castro, professor de finanças da FGV, recomenda que o dinheiro seja guardado em algum produto que acompanhe a flutuação da moeda americana, como fundos cambiais. "Se o dólar se valoriza frente ao real, o investimento rende mais; se acontece o contrário, o valor que você tem ali, em reais, pode cair, mas o em dólar continua sempre o mesmo."

Isso nada mais é que uma versão oferecida por bancos e corretoras para a boa e velha compra de dólares na casa de câmbio. A diferença é que não há moeda física, o que pode incorrer em algum tipo de risco de roubo ou extravio, e que não é necessário sair de casa para fazer a aquisição – ponto positivo na pandemia. Em ambos os casos, porém, o turista deve estar atento a custos, sejam tarifas de performance ou de custódia no primeiro caso ou o spread da casa de câmbio no segundo.

Para os fundos, há ainda de se observar a liquidez do investimento. Em alguns casos pode levar dias até que o investidor possa sacar o dinheiro. Eduardo Becker, professor de finanças na Saint Paul Escola de Negócios, chama atenção para os fundos tesouro Selic, que acompanham o desempenho da taxa e são vistos como um dos mais seguros do mercado. "A ideia aqui não é ganhar dinheiro, mas preservar o que você já guardou até a data da viagem", afirma.

Nesses títulos, o viajante deve saber, incide imposto de renda, de maneira regressiva (a taxa varia entre 22,5% e 15% sobre o lucro, dependendo do tempo que o dinheiro fique aplicado). Quanto à compra de dólar, os especialistas recomendam que ela ocorra aos poucos, para que o preço seja diluído, ora pagando um pouco mais, ora pagando um pouco menos.

"Assim o viajante tira o peso de chegar próximo da data de embarque e ter de desembolsar uma quantia muito grande", diz Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. Segundo ele, essa estratégia é mais segura e se faz necessária levando em consideração instabilidades econômicas e políticas do Brasil.

Becker, da Saint Paul, recomenda, ainda, que o turista acrescente 30% do valor calculado para os gastos de viagem para despesas extras, para não ser pego de surpresa no destino. É uma margem de segurança. Há também quem use o mercado financeiro para tentar aumentar – e não só proteger – seu capital e depois usá-lo na viagem. A estratégia só é recomendada àqueles que aceitem risco, porque pode haver perda de dinheiro.

Com planos de fazer um mochilão pela América do Sul após ser imunizado contra o coronavírus, o analista comercial Vinicius Menegaldo, 29, investe em fundos atrelados a moedas estrangeiras e em ações da bolsa de valores. A viagem que havia sido planejada para o ano passado teve de ser postergada por causa da pandemia, e Menegaldo adotou a estratégia para que o dinheiro continue rendendo.

No roteiro de um mês que inclui Chile, Peru e Bolívia, estima que poderá gastar R$ 15 mil. Ele descartou a compra antecipada de dólar porque calculou que poderia ter mais lucro movimentando suas aplicações. No fundo estrangeiro, gerido por especialistas de sua corretora, ele diz que suas reservam ficam protegidas de uma súbita desvalorização do real.

Além disso, uma eventual queda do dólar não necessariamente implicaria desvalorização de seu patrimônio porque o lucro das empresas vinculadas ao fundo pode ser maior, compensando a diferença cambial. No mercado de renda variável, diz, tem conseguido aumentar a reserva de caixa da viagem com um rendimento de aproximadamente 10% ao ano – acima dos fundos de renda fixa atrelados à taxa Selic, que no dia 5 de maio subiu de 2,75% para 3,5% ao ano.

Ele sabe, entretanto, que a sua estratégia é arriscada. "Existe um risco controlado. Se o dinheiro investido desvaloriza 50%, é preciso dobrá-lo para conseguir recuperar as perdas, o que é mais difícil."