Brasília O novo diretor-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Silvio Crestana, afirmou ontem que não haverá descontinuidade ou ruptura dos projetos desenvolvidos pela empresa. ''Há diferenças entre a agricultura familiar e o setor comercial, mas vamos levar em conta estas diferenças e trabalhar para todos os públicos'', afirmou, em sua primeira entrevista desde que assumiu o cargo, em janeiro.
Crestana procurou amenizar os comentários que circularam na época em que o ex-presidente Clayton Campanhola foi afastado do comando na empresa. Na ocasião, os rumores eram de que o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, teria feito a troca para privilegiar a agricultura comercial. ''A agricultura familiar tem uma enorme importância para o País e a agricultura empresarial também é muito importante, principalmente para a balança comercial.'' Ele enfatizou que a Embrapa é uma empresa pública. ''Nós recebemos demandas que vêm desde os movimentos sociais até a agricultura empresarial e precisamos atender a todos'', comentou.
O novo diretor-executivo da Embrapa, José Geraldo Eugênio França, classificou como ''fábula'' a diferenciação entre agricultura familiar e empresarial. Ele afirmou que a estatal tem cerca de 200 projetos de pesquisa de transferência de tecnologia destinados à agricultura familiar e que todos serão mantidos na nova gestão. França citou o estudo do Ministério do Desenvolvimento Agrário que indica que a agricultura familiar responde por 30% do Produto Interno Bruto da Agropecuária, que soma no total R$ 510 bilhões. ''A agricultura familiar não é importante em termos de exportação, mas é fundamental para abastecimento do mercado interno'', disse.
Outra prioridade será a transferência de tecnologia para outros países. Crestana, que integrou a comitiva oficial do governo que esteve nesta semana na Guiana e Suriname, lembrou que muitos países não têm nenhum conhecimento sobre as novas tecnologias agrícolas. Outro país candidato a ser beneficiado é Moçambique.
O novo presidente da Embrapa defendeu mais recursos para a estatal. O orçamento deste ano, incluindo despesas com custeio, folha de pagamento e pesquisa é de R$ 900 milhões. Ele disse que o ideal seria um orçamento de R$ 1,2 bilhão.
Diante do dilema de falta de recursos, Crestana convocou a agricultura comercial a investir em pesquisa. ''A agricultura de grande escala precisa investir em pesquisa, mesmo que não seja com a alocação direta de recursos para a Embrapa. Neste caso, a Embrapa pode fazer pesquisas complementares'', afirmou Crestana.
Ele elogiou seu antecessor, Campanhola, que conseguiu manter o orçamento da Embrapa livre dos bloqueios orçamentários que a equipe econômica impôs à maior parte da administração pública. ''Foi um grande feito da gestão anterior'', disse. Crestana, afirmou, ainda, que serão mantidas as pesquisas com variedades geneticamente modificadas. ''Mas a continuidade das pesquisas com transgênicos será feita dentro dos limites estabelecidos pela lei e em consonância com a política do governo Lula'', comentou.
Em relação à ferrugem da soja, os diretores da Embrapa informaram que ''não há solução à vista'' e que a oferta de sementes tolerantes ao fungo deve levar ainda 3 ou 4 anos. Na safra 2003/04, o ataque da ferrugem resultou em prejuízo de cerca de US$ 2 bilhões à cadeia produtiva. Para a Embrapa, os prejuízos serão menores em 2004/05, pois medidas pontuais foram adotadas para cultivo da safra atual.