Valorização dos Bitcoins agita mercado de criptomoedas
A volta de Trump à Casa Branca acelerou a alta do ativo digital e expectativa de cotação a US$ 200 mil atrai investidores
PUBLICAÇÃO
sábado, 04 de janeiro de 2025
A volta de Trump à Casa Branca acelerou a alta do ativo digital e expectativa de cotação a US$ 200 mil atrai investidores
Simoni Saris - Grupo Folha

A expectativa pela posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos tem agitado o mercado de criptomoedas. Investidores demonstram forte apetite, fazendo o bitcoin se aproximar novamente da marca de US$ 100 mil. A principal criptomoeda do mundo mais que dobrou de preço nos últimos 12 meses, sendo o ativo com maior valorização em 2024. Analistas acreditam que o retorno do republicano à Casa Branca pode resultar em leis mais flexíveis e políticas econômicas mais favoráveis a esse mercado.
Mas há outras razões que devem continuar impulsionando os Bitcoins. Dois elementos importantes são os nomes escolhidos por Trump para chefiar o Departamento do Tesouro e a Comissão de Valores Mobiliários do país, a SEC, na sigla em inglês, e a possibilidade de as criptomoedas serem adotadas como uma reserva estratégica pelo governo norte-americano a partir do ano que vem.
O bom momento ainda é reforçado pelas projeções extremamente otimistas de que o Bitcoin deverá chegar a dezembro de 2025 cotado a US$ 200 mil. No momento, a criptomoeda está cotada na casa dos US$ 98 mil e uma das principais perguntas feitas por quem ainda não se rendeu à moeda digital é se o investimento vale mesmo a pena.
Como a criptomoeda já subiu bastante, não é muito recomendável investir no ativo quando ele está no topo, aconselham especialistas. Uma forma de conseguir fazer isso com relativa segurança, orientou o head do MB Research, André Franco, seria comprar uma parte e parcelar as compras futuras. “Seria, basicamente, a compra recorrente do Bitcoin, que já é uma recomendação que a gente faz há bastante tempo para as pessoas”, disse.
“A decisão de compra de qualquer ativo depende muito do objetivo e tempo que o investidor está disposto a esperar para colher os possíveis lucros da operação. Para o investidor de muito curto prazo, pode ser que o momento seja de certa cautela ou, no mínimo, de um bom gerenciamento de risco”, afirmou o analista da Foxbit, Beto Fernandes.
O analista lembrou que hoje, quase 100% dos investidores de Bitcoins estão no positivo, posicionados em uma criptomoeda em ascensão. “Isso quer dizer que há espaço para a realização de lucros por parte de alguns investidores no curto prazo”, salientou. “Se a gente pensa em períodos mais longos, a compra acaba fazendo mais sentido. Afinal, as projeções mostram que o BTC (Bitcoin) ainda está dentro dos ciclos históricos de alta.”
Para projeções de prazo mais longo, Fernandes aponta o DCA como estratégia para quem está começando. O Dollar Cost Average é uma tática de negociação que envolve a compra regular do mesmo ativo, independentemente das flutuações de preço. “Neste caso, em vez de fazer uma única compra grande de Bitcoin, o investidor pode dividir este montante em pequenos aportes mensais. Assim, você vai comprar a criptomoeda em seus topos, mas também nos fundos. Depois de um ano, por exemplo, você vai acabar tendo BTC comprado a 12 valores diferentes. Isso cria um preço médio que tende a ‘equilibrar’ a volatilidade do mercado e manter seu ativo bem posicionado.
Franco avaliou que a volta de Trump à presidência dos EUA “muda o jogo da água para o vinho” para os Bitcoins porque cria um cenário regulatório muito mais favorável para o mercado cripto naquele país. “Tudo o que a gente tinha visto até hoje na legislação dos democratas era um cenário bem negativo, uma correnteza contra. Agora, a gente pode ter, com o Trump, uma correnteza a favor”, comparou.
Em outubro, quando ainda era candidato às eleições norte-americanas, Trump também lançou um novo negócio de criptomoedas, o WLFI (World Liberty Financial), que tem 70% do capital nas mãos de membros da sua própria família e de pessoas próximas ao projeto. Em setembro, durante o evento de divulgação da nova plataforma bancária de criptomoedas, o então candidato à presidência dos EUA chegou a afirmar que os desenvolvedores de moedas digitais viveriam “um inferno” se ele não vencesse o pleito.
Quem atua neste mercado trabalha com a expectativa de que a moeda digital continue subindo, mas o head da MB Research acredita que os US$ 200 mil estimados pelo relatório Bernstein talvez estejam “um pouco esticados”. Ainda assim, mesmo que a projeção do documento não se confirme, a expectativa é muito boa. “A gente acredita em uns US$ 150 mil, o que já seria algo bem grande perto do Bitcoin que começou a subir quando o patamar do preço estava próximo de US$ 15 mil, na bacia das almas, no começo de 2023”, destacou Franco.
A promessa de alta rentabilidade em um período curto de tempo deve fazer crescer ainda mais o número de brasileiros que investem nas criptomoedas. Até o primeiro semestre do ano passado, segundo dados divulgados pela Receita Federal, o país contabilizava mais de quatro milhões de pessoas físicas e 92 mil pessoas jurídicas que compraram bitcoins, números inéditos até então.
E apesar de ainda ser vista mais como meio de investimento do que como moeda de troca, tem crescido o número de empresas que aceitam pagamentos em criptomoedas. Há cerca de dez anos, quando o mercado de ativos digitais ainda era relativamente novo, o professor de ioga Bruno Mazetto recebeu de um aluno a proposta de pagamento em criptomoedas. No início, ficou receoso de como a moeda virtual iria se materializar em sua conta bancária, convertida em reais, mas logo viu que era uma transação segura e aceitou a oferta. Posteriormente, outros alunos optaram pela mesma forma de pagamento.
Atualmente, embora a escola não divulgue essa possibilidade, as criptomoedas continuam sendo aceitas para pagamento das aulas de ioga. O valor em real é convertido pela cotação do dia no mercado cripto e assim que o aluno realiza a transação e as criptomoedas vão para a carteira virtual administrada por Mazetto, ele imediatamente transforma as moedas digitais em reais, que vão para a conta da empresa. “A gente não corre esses riscos dentro da empresa, de manter os valores em criptomoedas. Na minha estratégia de negócio não seria interessante deixar a empresa à mercê da volatilidade desse mercado.”(Com Folhapress)
Euforia atinge memecoins, mas é preciso cautela com especulações
A euforia com a valorização dos Bitcoins estendeu-se por todo o cenário cripto, inclusive as memecoins, como o DOGE (Dogecoin), que também tiveram uma rápida valorização recentemente. As memecoins são as criptomoedas desenvolvidas sob a inspiração de piadas que viralizaram na internet e podem ser criadas a partir de um software gratuito. Apesar do aspecto pitoresco, esses ativos ganharam adeptos ao redor do mundo.
Analistas, no entanto, ressaltam que a volatilidade das criptomoedas meme fazem desse um mercado altamente especulativo. “Não tem fundamento nenhum, mas é um dos ativos que mais têm subido no curto prazo. Há muita especulação no mercado, que tem deixado um pouco de lado os fundamentos dos demais ativos, além do Bitcoin, e abraçado muito as memecoins. Mas a relevância delas ainda é algo muito mais especulativo do que alguma coisa com fundamento por trás”, disse o head do MB Research, André Franco.
Se no universo das altcoins já é difícil tentar prever as altas e baixas por meio do monitoramento direto dos valores, estudo e acompanhamento das notícias e até da política, analisando as memecoins, percebe-se que são ainda mais imprevisíveis.
Seus valores podem subir por uma febre na internet, por uma piada de alguma celebridade, por um comentário de uma personalidade influente no mercado ou por anúncios e patrocínios, como fez a equipe da DOGE durante as olimpíadas de inverno de 2014, na Rússia.
“A nível de projeto, as memecoins não oferecem nada. Nenhuma delas tem uma super tecnologia de criação de smart contracts ou escalabilidade de blockchains”, avaliou o analista da Foxbit, Beto Fernandes. O desempenho dessas moedas digitais é muito mais pautado pelo engajamento e humor da comunidade do que por qualquer outro possível fundamento.
Fernandes, no entanto, aponta alguns fatores interessantes a respeito das memecoins. Primeiro, o aspecto bastante democrático das finanças e da criação de conteúdo, uma vez que qualquer pessoa consegue criar uma criptomoeda desse tipo. O analista cita ainda que o amplo desenvolvimento desse ativo acaba servindo como teste de estresse para muitas blockchains. “Uma delas foi a Solana, que no passado sofreu com várias interrupções da plafatorma e hoje, se mostrou resiliente diante da grande quantidade de memecoins que foram criadas em sua rede ao longo deste e do último ano.”
Para investir em memecoins, orientou Fernandes, é importante estar ciente dos riscos desta operação. “Memecoins não têm projeto. Você está dependente do humor e engajamento da comunidade. Isso pode ser bom ou ruim. Então, se você quiser participar do mercado de memecoins, separe valores que não vão fazer falta alguma em seu orçamento ou que não precisarão ser retirados de ativos mais estáveis. A ideia das memecoins é a diversão. O lucro é uma possível consequência.”(S.S.)

