O governo do Paraná ainda não divulgou um balanço dos impactos da Covid-19 na economia do Estado, mas estimativas apontam que o isolamento social de 30 dias imposto logo no início da pandemia poderia resultar em uma perda de R$ 36 bilhões na produção, o equivalente a 4,6% do valor total em um ano. A redução do rendimento do trabalho formal chegaria a 4,2% e cerca de 128 mil paranaenses perderiam renda. Cálculos indicam ainda a possibilidade de fechamento de 17 mil firmas, sendo as micro e pequenas as mais afetadas. Até junho, 50 mil pessoas já haviam perdido o emprego.

Os cálculos fazem parte de um estudo elaborado pelo engenheiro civil e professor do Departamento de Economia da UEL (Universidade Estadual de Londrina) Umberto Antonio Sesso Filho e pelo professor de economia da UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná) Paulo Rogério Alves Brene a pedido da Seti (Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná). No trabalho, os docentes analisam a estrutura produtiva do Estado e apontam os setores estratégicos para a retomada econômica do Estado.

As estimativas dos prejuízos à economia, disse Sesso, se confirmariam caso não houvesse qualquer intervenção do governo, mas com as medidas adotadas para amenizar os impactos da pandemia, os números devem ser um pouco menos expressivos. Para a retomada econômica, ele aposta em dois pontos chave. Resgatar as microempresas, que tiveram dificuldade de acesso às linhas de crédito disponibilizadas pelo governo federal em razão da burocracia, e investir em novos produtos e serviços. “As oportunidades sempre vão surgir. Sempre tem alguém perdendo, mas tem alguém ganhando também.”

Imagem ilustrativa da imagem Universidades apontam soluções para retomada econômica no Paraná
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“Geralmente, os municípios querem geração de emprego qualificado com nível salarial mais alto. Mas no período pós-pandemia, a nossa estratégia é gerar emprego e depois qualificar. E ao mesmo tempo em que eu gero emprego no Estado, posso gerar fora também”, afirmou Brene. Além de fortalecer o agronegócio, um setor pouco impactado, mas que pode ser potencializado com a industrialização, o professor defende também os investimentos nos setores bastante afetados pela pandemia, como alojamento, transporte e alimentação. “Mesmo que os mais impactados não possam se recuperar no mesmo nível, que pelos menos não demitam.” Os recursos disponibilizados pelo governo, ressaltou Brene, vão auxiliar em duas linhas principais, que são a capitalização das empresas por meio do financiamento, e o avanço tecnológico.

Outros dois estudos foram realizados por três docentes do Departamento de Economia da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa). Augusta Pelinski Raiher e Alysson Luiz Stege fizeram um relatório sobre os aglomerados industriais e Alex Sander Souza do Carmo realizou uma análise comparativa da inserção internacional dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As informações serviram de subsídio para a elaboração da Política Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, proposta pela Seti, que deverá disponibilizar R$ 60 milhões para investimentos em ações para alavancagem da economia do Estado, realizadas em parcerias entre empresas e universidades ou outros órgãos paranaenses de ciência e tecnologia.

Em relação às aglomerações industriais, Raiher e Stege identificaram as potencialidades do Estado para orientar as políticas focadas na cadeia produtiva de cada aglomerado. “Se já são aglomerados, têm uma competitividade. Se conseguir gerar mais emprego para manter o encadeamento no Paraná, significa também a manutenção da renda. A gente observa que temos um potencial enorme que podemos fomentar, movimentar e incentivar. Além da atividade produtiva voltada à indústria, analisamos também o setor de serviços”, disse Raiher. O trabalho voltado aos aglomerados positivos e aos embriões com potencial para se tornarem positivos, explicou a docente, traz resultados a médio e longo prazo.

Em relação à inserção internacional do Paraná, Carmo analisou os dados do comércio exterior entre 2015 e 2019 e fez uma comparação com os dados de São Paulo e os outros dois estados da Região Sul do País. A principal conclusão do estudo é que a inserção do Paraná é muito centrada em produtos de baixa tecnologia ou commodities e apenas 17% dos itens exportados são de alta tecnologia, que são os mais rentáveis. “A intenção é tentar mudar um pouco a realidade e deixar mais equilibrada. Literaturas mostram que exportar produtos de maior valor agregado gera um encadeamento maior na indústria, com taxas maiores de crescimento, mais emprego e renda, melhorando as condições de vida da população e tornando o Estado mais rico. O Paraná deve tentar atrair empresas que produzem alta tecnologia”, propõe.

Edital será lançado até novembro

A partir dos relatórios elaborados pelos docentes, foram concebidos quatro grandes programas, que irão financiar 12 projetos. As linhas de ação contemplam a inovação e a formação empreendedora, apoio às micro e pequenas empresas e aos microempreendedores individuais por meio da expertise existente nas universidades, capacitação e auxílio aos grandes negócios e integração da universidade e grandes empresas, buscando gerar pesquisa e desenvolvimento. A Seti também quer fomentar a interação e apoio aos municípios paranaenses na gestão e qualificação de pessoal para desenvolvimento de projetos e captação de recursos, conectando os gestores municipais aos conselhos de desenvolvimento no sentido de capacitá-los para a execução dos projetos.

“Tudo vai ser por editais. Vamos financiar a atuação das empresas e universidades por concorrência pública e o comitê executivo (criado dentro da Seti) será o órgão de análise e demanda das potencialidades e de liberação do financiamento”, explicou o superintendente da Seti, Aldo Nelson Bora. Segundo ele, os R$ 60 milhões seriam um investimento inicial para financiar os 12 projetos por 24 meses. O lançamento do edital deve acontecer até novembro. “A gente tem a expectativa de conseguir atingir os 399 municípios pela capilaridade das universidades. A perspectiva é tornar permanente esse programa, fazendo dele um programa de Estado e não de governo.”

Muitas das ações, destacou Bora, devem começar a ser desenvolvidas imediatamente para que quando a pandemia estiver sob controle as bases já estejam lançadas para “o efetivo reaquecimento dos motores para a retomada”. O superintendente explicou ainda que a Política Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação é apenas uma das medidas de um grande pacote de retomada econômica que será anunciado em breve pelo governador do Paraná.

“As ações serão adotadas em curto prazo, mas em termos de impacto na economia, os resultados virão a médio e longo prazo. A estratégia tem um norte que é o Estado atuar como indutor da integração, do funcionamento da tríplice hélice que é a academia, o setor produtivo empresarial e o governo, como articulador. Esse é o modelo que levou ao desenvolvimento nações tecnológicas mais bem desenvolvidas, como a Coreia do Sul, que fez a conexão entre academia e indústria para o desenvolvimento nacional”, disse o superintendente.