Tradener faz primeira importação independente de gás boliviano
Dentro desse contrato, o Paraná poderá receber até 300 mil m³ (metros cúbicos) de gás por dia e Santa Catarina até 630 mil m³
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 20 de outubro de 2022
Dentro desse contrato, o Paraná poderá receber até 300 mil m³ (metros cúbicos) de gás por dia e Santa Catarina até 630 mil m³
Vítor Ogawa - Grupo Folha
A empresa paranaense Tradener, primeira comercializadora de energia livre do Brasil, acaba de consolidar os dois primeiros contratos do mercado livre de gás natural do país para importar gás boliviano da empresa YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos). Passado os períodos de teste de fornecimento de uma operação vinda da Bolívia com a concessionária Compagas (Companhia Paranaense de Gás), do Paraná, acaba de ser assinado um novo contrato com a empresa. Um outro contrato também foi firmado com a SCGÁS (Companhia de Gás de Santa Catarina).
Dentro desse contrato o Paraná poderá receber até 300 mil m³ (metros cúbicos) de gás por dia e Santa Catarina até 630 mil m³. “No Paraná estamos puxando atualmente de 120 mil m³ a 180 mil m³. Para comparar, em Pitanga produzimos de 10 mil m³ a 15 mil m³ por dia, onde a capacidade pode chegar até 90 mil m³.”
Ambos os contratos seguem o modelo interruptível. “Fizemos um contrato interruptível, porque a Bolívia não tem gás firme para entregar a outros interessados, pois tem contrato com a Petrobras e com a Argentina e praticamente vende todo gás que tem para eles. Este ano houve um pouco de sobra do gás que não venderam para a Argentina e um pouco de sobra de gás que não foi vendido para a Petrobras, porque neste ano não foi utilizado na geração de energia térmica no Brasil", afirmou o presidente da Tradener, Walfrido Avila. "Eles cederam essa diferença e a gente está vendendo isso nas duas distribuidoras do Sul, na Compagas e na SCGÁS. A ideia é vender também para o Rio Grande do Sul, para São Paulo e para o Mato Grosso do Sul, onde o gasoduto passa. Estamos trabalhando só nessa área do mercado livre que é a energia que vem do gasoduto.” O volume de gás disponível no contrato firmado pela Tradener é de 2,0 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. A principal área de influência e atendimento contratual para os novos interessados, segue o traçado do gasoduto Brasil-Bolívia, que passa pelos Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Para o presidente da Tradener, Walfrido Avila, esses novos contratos são um marco para o mercado de gás paranaense, de Santa Catarina e todo o Brasil. “É um momento importante para as empresas e para a abertura de mercado de gás no Brasil. Estamos certos de que o mercado livre de gás, assim como aconteceu no setor da energia elétrica, trará novos players e contribuirá para a criação de novos empregos e no desenvolvimento de profissionais. A Tradener vê com muita responsabilidade a negociação firmada com a Compagas e a SCGÁS”, ressalta. Para Avila, esses novos modelos de contratação trazem um excelente ganho de competitividade para o mercado nacional.
Avila ressaltou que é o primeiro contrato de importação independente de gás boliviano do Brasil, que só foi possível após a promulgação do novo Marco Regulatório do Gás Natural (Lei 14.134, de 2021). Antes disso, a importação só era realizada pela Petrobras. “A gente já olhava esse mercado e participamos da licitação da ANP (Agência Nacional de Petróleo) e fomos vencedores para explorar o poço de petróleo e gás perto de Pitanga, que já está totalmente operacional. Esse poço ficou 50 anos na mão da Petrobras sem que ela fizesse a exploração. Começamos a fazer isso e vimos a possibilidade de fazer importação via Gasbol (Gasoduto Bolívia-Brasil), trazendo da Bolívia." Ele ressaltou que a empresa entrou em tratativa com o pessoal da YPFB e fez um teste há um mês de todos os pontos para fazer a importação até que a empresa boliviana concordou.
A Tradener está dialogando com as distribuidoras que estão sofrendo com a falta de gás neste momento. “É melhor tratar com elas primeiro, para depois partir para o mercado livre, para a gente se acostumar com este tipo de mercado e com o preço praticado. Como lidamos com o hedge cambial em dólar (como estratégia de proteção para outros ativos ou operações), tudo isso tramita dentro da Receita Federal e é preciso regularizar tudo dentro das normas. Fomos felizes e a partir deste mês e até o fim do ano a expectativa é que aumente a quantidade de gás de forma compatível com o mercado.”
Ele ressaltou que o novo marco legal permite fazer importação e vender a consumidores livres e às próprias distribuidoras. “As novas regras permitem uma competição maior e têm como resultado um preço final menor. As empresas independentes podem manter o preço ou mesmo diminuí-lo. Com isso, os distribuidores ficam em posição melhor de negociação para distribuir o gás para o mercado cativo que eles atendem.”
Sobre o custo desse gás bolivianos ele afirmou que não pode divulgar por questão de contrato. “Normalmente esse valor é abaixo do valor regulado que as empresas têm comprado. O mercado livre é sempre mais barato, não muito, mas é um pouco abaixo. O valor varia de acordo com o brent (petróleo bruto)." O preço do GNL em abril deste ano estava em US$ 30/MMBtu (m milhão de Unidades Térmicas Britânicas). A regra geral é que 1m³ de gás natural contém cerca de 1000 BTUs. Esse valor é sem considerar o transporte e custos de regaseificação. "No caso do poço de Pitanga, nós estamos vendendo em reais com reajuste em IPCA (Índice de preços no consumidor), ou seja, é mais vantajoso comprar de Pitanga, desde que utilizando o gasoduto. Com o transporte utilizando o caminhão o preço sai bem mais caro. Ele ressaltou que, no momento, sua empresa não pode utilizar o gasoduto que chega a Londrina, porque há outra empresa operando a estrutura e, por contrato, não pode utilizá-la. “Mas assim que o contrato terminar e a nossa empresa puder aumentar a capacidade, há a possibilidade da gente fornecer também usando essa estrutura.”
A Tradener surgiu em 1998, logo que o mercado de gás foi aberto. “Estamos há 24 anos no mercado. A empresa nasceu para comercializar energia no mercado livre e hoje atua na compra e venda de energia para clientes livres. Participamos de leilões regulados e fazemos exportação e importação de energia do Brasil para Argentina e Uruguai desde 2006. Atendemos a Cammesa (Compañia Administradora del Mercado Mayorista Eléctrico) e a UTE (Administración Nacional de Usinas y Trasmisiones Eléctricas), do Uruguai.
A empresa é uma das maiores comercializadoras independentes de energia elétrica e gás natural do país, com foco nos consumidores livres de energia elétrica e produtores independentes. Foi a primeira empresa do Brasil autorizada pela Aneel a comercializar energia com consumidores livres e geradores no ambiente de contratação livre.
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