Imagem ilustrativa da imagem Tendência de interiorização põe Londrina no radar de grandes empresas
| Foto: Roberto Custódio/11-9-2020

Segunda maior cidade do Paraná, Londrina se fortaleceu como polo educacional, de comércio, serviços, saúde e, mais recentemente, TI (Tecnologia da Informação). Na indústria, durante muito tempo o município permaneceu ancorado no agronegócio, mas, aos poucos, novas vocações no setor produtivo começam a despontar. Nos últimos anos, uma leva de empresas de grande porte decidiu se instalar aqui e outras deverão vir em breve. Esse processo de interiorização das companhias é apontado por executivos como uma tendência, impulsionada por uma série de fatores, como política de atração de empresas, ampla oferta de mão de obra e boa qualidade de vida.

Há cerca de um mês, a fábrica de elevadores Atlas Schindler oficializou a transferência das atividades administrativas do grupo para Londrina. A planta industrial funcionava no município há mais de duas décadas e agora, começam a operar na cidade os setores financeiro, de compras e de atendimento, com possibilidade de migração de outros departamentos no futuro.

Presente em mais de 110 países, a expansão das instalações da Atlas Schindler em Londrina demandou um investimento de R$ 7 milhões e há previsão de investimento de outros R$ 10 milhões, com um aumento de 400 postos de trabalho formais, em um primeiro momento. Contar com uma planta industrial já em funcionamento no município foi um fator determinante para que a empresa optasse pelo Norte do Paraná, mas o diretor financeiro do grupo, André Piccinin Gualda, citou outras características que pesaram na decisão. “A cidade de Londrina tem crescido bastante, tem conseguido nos fornecer mão de obra qualificada e isso é muito importante para a gente. E tem toda a infraestrutura necessária de transporte e questões de malha aérea que nos permitem trazer clientes para cá, além da qualidade de vida”, destacou. “A interiorização é uma tendência porque facilita muito. São Paulo é muito mais cara, por exemplo, e a gente acaba tendo até uma ineficiência, às vezes, pelo trânsito”, pontuou Gualda.

Em 2018, a indiana TCS (Tata Consultancy Services), uma das maiores empresas do mundo na área de serviços de TI, consultoria e soluções corporativas, trouxe seu centro operacional para Londrina. Em dois anos, a multinacional empregou mais de 850 trabalhadores e, no momento, está com mais de 300 vagas abertas. Country Head para a TCS Brasil e BFSI Head para a América Latina, Tushar Parikh contou que o grupo analisou várias cidades, em diferentes estados brasileiros, antes de decidir instalar sua unidade em Londrina.

Ganha-ganha

A proximidade de grandes centros urbanos, a estrutura disponível e os talentos saídos das universidades locais foram decisivos para a escolha e o centro operacional em Londrina tornou-se o principal pilar da estratégia de crescimento da companhia. Parikh avalia a chegada do grupo no município como “uma situação ganha-ganha para todos”. A empresa se beneficiou da infraestrutura e mão de obra disponíveis e, em contrapartida, tem investido fortemente na formação e capacitação de talentos. “Fizemos uma grande parceria com diferentes universidades para criar talentos locais, e com a Secretaria Municipal de Educação”, comentou. “Estamos ajudando a criar mais competência em TI.”

Além da Atlas Schindler e da TCS, a empresa de alimentos J.Macêdo anunciou investimentos de R$ 500 milhões para instalar um complexo industrial de manipulação de trigo na Cidade Industrial, cujas obras estão previstas para serem iniciadas neste mês. A empresa promete gerar 1,5 mil empregos diretos e quatro mil indiretos.

O presidente da Codel (Instituto de Desenvolvimento de Londrina), Bruno Ubiratan, ressaltou que o município tem se empenhado na prospecção de novos investimentos para a cidade e tem feito a abordagem dessas empresas, convidando-as a conhecerem as potencialidades do município. “Mostramos a nossa capacidade de fornecer mão de obra, formada nas nossas universidades. Isso é o forte, mas também tem os incentivos fiscais, que são muito importantes e pelos quais as indústrias se interessam bastante.”

Infraestrutura

Para o presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), Fernando Moraes, as obras de infraestrutura e logística planejadas ou já em andamento são um chamariz para as empresas que incluem Londrina na rota de seus projetos de expansão. “Com a duplicação das estradas, a recuperação das ferrovias e a ampliação do aeroporto, Londrina vai se tornar muito atraente. O investimento para implementar e operar uma empresa aqui é menor do que nos grandes centros”, observou.

Moraes também apontou como diferenciais a localização estratégica do município, entre Curitiba e São Paulo e entre o Mato Grosso do Sul e o Porto de Paranaguá, ter como estados vizinhos Santa Catarina e o Rio Grande do Sul e a fronteira com o Paraguai e a Argentina. “Para a cidade, a vinda dessas empresas é muito importante. O PIB de Londrina vinha se enfraquecendo pela falta de indústrias. Essa movimentação fortalece a cidade, trazendo desenvolvimento, emprego, renda e qualidade de vida.”

No caso da J.Macêdo, Londrina entrou na disputa com outras localidades e o município conquistou a empresa cearense com a oferta de um terreno de 380 mil metros quadrados na Cidade Industrial. A reestruturação da lei que rege as doações de terrenos foi uma das primeiras medidas adotadas por Ubiratan ao assumir o comando da Codel. “Os empresários que sentam aqui, entendem o nosso desenvolvimento e tecnologia. O Hub de Inteligência Artificial do Senai é muito forte. Londrina, que era prestadora de serviços e comércio, está se tornando um parque industrial. No ano passado, chegamos perto de R$ 1 bilhão em investimentos”, disse ele, que além das indústrias, comemora a instalação no município dos centros de distribuição do Magazine Luiza e da BRF, dona de marcas como Sadia e Perdigão.

O município também faz a ponte entre os potenciais investidores e o Paraná Competitivo, programa do governo estadual com foco na atração de investimentos para o Estado. “Tem que saber diferenciar quais são os incentivos oferecidos. Em Londrina, eles se resumem à doação de terrenos e isenção de IPTU por dez anos. Na seara estadual, há os incentivos de ICMS. Se Londrina e o Paraná não derem esses incentivos, a empresa vai se alojar em outra cidade e estado que vão oferecer e a gente deixa de gerar empregos que vão movimentar a economia local. Temos que ser muito competitivos e fazermos o máximo”, destacou Ubiratan.

Crescer sem perder a atratividade é desafio para os municípios, diz Fiep

A transformação de uma cidade com foco no comércio e na prestação de serviços em um centro capaz de atrair grandes empresas e indústrias agrega valor ao município e permite diversificar os negócios em sua base territorial, ampliando os segmentos de sua cadeia produtiva. Para uma cidade do interior, esse efeito multiplicador traz excelentes benefícios econômicos, sociais e ambientais, ressaltou o gerente de Assuntos Estratégicos da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), João Arthur Mohr. Entre os ganhos, ele cita a melhoria da qualidade dos empregos, o aumento da média salarial da população e maior qualidade de vida para o trabalhador.

Mohr acompanha empresas interessadas em se instalar ou se mudar para o Paraná e conta que o processo de escolha de um município considera mais de 80 pontos, como disponibilidade de matéria-prima, proximidade com o mercado consumidor, oferta de energia confiável, facilidade de logística para pessoas e cargas, mobilidade urbana e segurança pública. Incentivos fiscais também pesam bastante na escolha. “Quando atrai uma indústria, o município sai ganhando na arrecadação, o PIB (Produto Interno Bruto) aumenta e o prefeito vai ter mais recursos para poder devolver esses impostos em qualidade de vida, entrando em um círculo virtuoso.”

Para permanecer no radar dos investidores, ressaltou Mohr, o desafio do poder público é manter contato permanente com o setor empresarial por meio de entidades representativas para que seja discutida a reorganização da cidade, definindo políticas públicas que conservem a qualidade de vida do município. “A cidade precisa crescer de forma ordenada. Se começa a ter problemas com o trânsito, com a segurança, vai afastar novas empresas e perder investimentos. O planejamento de uma cidade é fundamental para atrair investimentos de qualidade e deve acontecer em conjunto com poder público e privado.”