Imagem ilustrativa da imagem Tempo de cautela nos investimentos
| Foto: Shutterstock



A greve dos caminhoneiros, de 21 a 31 de maio, fez um estrago no mercado financeiro nacional. O principal índice da B3, o Ibovespa, chegou nesta quinta-feira (7) ao nível mais baixo desde o início do ano, quando os investidores ainda apostavam numa boa recuperação do País. E os próximos meses serão marcados por incertezas. Eleições presidenciais, guerra comercial entre Estados Unidos e China e a economia norte-americana são fatores que exigem atenção. O mercado reage a cada notícia e os solavancos podem surgir a qualquer hora.

"A greve dos caminhoneiros mostrou uma fragilidade institucional, uma clara sensação de que o governo atual não consegue administrar mais nada", afirma Gabriel Vansolini Soldado, sócio e assessor de investimentos da Bravus (escritório credenciado da XP Investimentos).

Segundo o assessor, o mercado acreditava que o governo do presidente Michel Temer faria reformas estruturais e priorizasse o ajuste fiscal, mas acabou recorrendo a medidas "populistas e segmentadas", como as do acordo feito com caminhoneiros – controle de preços de combustíveis e tabela de frete, por exemplo. "A imagem do governo caiu por terra", declara.

Como as eleições de outubro são consideradas muito imprevisíveis, o mercado está agindo com cautela. "O mercado quer alguém de centro. Mas os candidatos identificados como centro, Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede), estão com dificuldade segundo as pesquisas." Outras opções como Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) são um mistério, na visão dele. "Ninguém sabe o que vão fazer, apesar de o Bolsonaro ter um economista liberal (Paulo Guedes, sócio da Bozano Investimentos) ao lado dele."

Soldado diz que as eleições presidenciais pautam o mercado há meses. "Desde o começo do ano, estamos tomando mais cuidados. Alguns fundos multimercados zeraram posições." Os investimentos desses fundos, de acordo com o assessor, foram para a renda fixa. "Adotamos postura mais conservadora."

A economia norte-americana também é um fator de risco. "O governo Trump (Donald Trump) aqueceu a economia. O desemprego está baixo e o risco inflacionário cresce nos Estados Unidos. Por isso, a tendência é que os americanos subam juros, o que vai enxugar o excesso de liquidez no mundo", alega. Com juros mais altos, parte dos investimentos dos mercados emergentes deve migrar para os Estados Unidos.

Imagem ilustrativa da imagem Tempo de cautela nos investimentos



GUERRA COMERCIAL
Jan Karsten, CEO da GPS Investimentos, empresa responsável por administrar fortunas de 450 famílias brasileiras, está muito preocupado com a guerra comercial entre Estados Unidos e China. "Entendo que essa não é uma questão só dos Estados Unidos e China. Envolve Europa e outros mercados e é uma questão relevante. No nosso entendimento, o isolamento do Trump é um risco relevante", afirma.

Os estímulos na economia dos Estados Unidos e a provável alta de juros por lá também preocupam. "Hoje, uma taxa de juros de 2% ao ano já está precificada pelo mercado. Mas se houver perspectivas de que os juros americanos fiquem acima disso, o mercado reagirá mal", avalia.

O CEO lembra que uma política monetária mais restritiva nos Estados Unidos impacta fortemente no câmbio: o dólar sobe. "A gente viu ao longo deste ano os países emergentes terem suas moedas desvalorizadas e a do Brasil foi uma das que mais se desvalorizaram, seja porque o Brasil é um mercado mais líquido ou porque tem peso maior. Então, o cenário é conturbado e a gente está numa posição, eu diria, de bastante cautela."

Segundo Karsten, para enfrentar o cenário de incertezas, a GPS tomou algumas providências. Fez hedge (seguro) para cobrir posições em renda variável e reduziu prazos de vencimento de papéis de renda fixa. "A nossa aposta é mais que óbvia nas NTN-Bs (títulos do Tesouro que pagam a inflação mais um determinado juro). Hoje, você vê papéis na faixa de inflação mais 5,5% ou 5,6% (ao ano), que no nosso entendimento é um bom nível de retorno."

Outra providência foi reduzir o prazo médio de investimento da renda fixa de sete anos para entre quatro e cinco anos. "Com um prazo de vencimento mais curto você fica mais protegido. Nosso papel, como todo assessor de investimento e gestor de patrimônio, é avaliar o risco e definir o momento em que se assume mais ou menos risco."

BOA HORA PARA COMPRAR AÇÕES
Professor da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Guilherme Ribeiro de Macêdo tem opinião diferente de Jan Karsten e Gabriel Soldado. Ele concorda que o momento exige cuidado, mas o considera propício para investimentos na bolsa. "É em momento de baixa que se entra em renda variável. É bom comprar ações quando o preço delas cai muito. Crises agudas são ideais para a compra desses ativos, desde que se tome os devidos cuidados de acordo com o perfil de cada investidor."

A falta de previsibilidade nas eleições presidenciais é o principal fator a assustar o mercado. "Ninguém tem ideia de quem vai ganhar, se o centrão, a direita ou a esquerda. É muita incerteza." A questão fiscal é outro ingrediente importante. Como ressalta o professor, a greve dos caminhoneiros não é um fato superado. "O Tesouro assumiu a conta de R$ 10 bilhões para subvencionar o diesel. A bolsa cai muito por nossa própria culpa", alega.

Mas os fatores externos não são desprezíveis. "Os juros americanos tendem a aumentar e, como consequência, os nossos também vão aumentar para manter constante o spread (diferença entre o valor que os bancos pagam para captar e para emprestar dinheiro). Os juros aumentam lá e aumentam aqui também."