Técnico diz que governo quer evitar comprar trigo
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quarta-feira, 29 de março de 2000
Vânia Casado
De Curitiba
A equipe econômica do governo não quer se comprometer com a compra do trigo, para garantir liquidez na comercialização. A intenção é que as forças de mercado promovam escoamento da produção e o governo só entra como regulador do processo. Essa é a interpretação do chefe do Centro de Pesquisa do Trigo, da Embrapa de Passo Fundo (RS), Benami Bacaltchuk, em relação à demora na divulgação do preço mínimo do trigo e das regras que possam estimular a cultura no país.
O estabelecimento do preço mínimo só é válido se o governo for o principal comprador. Mas como ele pretende que os produtores recorram aos mecanismos de comercialização disponíveis no mercado como CPRs, Bolsas de Mercadorias e Contratos de Opção, não está muito preocupado em divulgar logo esses valores. Aliás, somente no ano passado que o preço mínimo para o trigo foi divulgado de forma antecipada, disse Bacaltchuk. Em outros anos, a definição do preço mínimo quase coincidiu com o período de colheita, acrescentou. Isso representa uma sinalização que o mercado deve procurar mecanismos para se auto-sustentar, resumiu.
No Paraná, o mercado está garantindo a comercialização. Segundo Bacaltchuk, a indústria se reuniu e revelou disposição em comprar o trigo no período de safra. Alguns moinhos sinalizaram que podem pagar em torno de R$ 200,00 a tonelada. Os técnicos consideram esse preço como razoável para o produtor com produtividade acima de 2.000 quilos por hectare. Abaixo disso, a cultura dá prejuízo, avaliou. Os produtores com baixa produtividade precisam ter uma remuneração mínima de R$ 220,00 a tonelada.
Para Bacaltchuk, se o governo tivesse divulgado os valores do preço mínimo e do valor de custeio antes, certamente a área plantada com milho safrinha seria menor. Ou então se ocorrer uma geada forte nos próximos dias,certamente os produtores assustados em perder o milho poderão migrar em massa para o plantio de trigo, acredita Bacaltchuk.
Em função disso, a área plantada com trigo esse ano no País deve ser a mesma do ano passado. No Paraná, onde o produtor tem a opção de plantar o milho safrinha, as lavouras de trigo devem ocupar em torno de 715.000 hectares, a mesma área do ano passado. Já no Rio Grande do Sul, a situação é mais complicada. Lá, os produtores não tem a opção de plantar o milho e a área não deve se expandir muito. No ano passado, foram plantados em torno de 400.000 hectares e esse ano a cultura não deve ultrapassar 450.000 hectares.
No Paraná, a Superintendência do Banco do Brasil já está liberando o crédito de custeio para o plantio de trigo. A previsão é aplicar até R$ 80 milhões até junho. Na falta de estabelecimento do preço mínimo e do valor básico de custeio, o crédito está sendo liberado com base em análise do preço histórico do trigo. As contratações estão saindo em média tendo como base o valor de R$ 200,00 a tonelada para o custeio, que empata com o valor que os moinhos estão dispostos a pagar.