Em 2020, com a chegada da pandemia de Covid-19, houve uma corrida de clientes aos supermercados. Uma parte deles, alarmada com as notícias, muitas delas infladas por fake news, passou a estocar grandes quantidades de alguns produtos, com medo do desabastecimento. Na época, além do álcool em gel, os consumidores lotavam os carrinhos com fardos de papel higiênico. Agora, com a tragédia climática no Rio Grande do Sul, a bola da vez é o arroz.

É certo que o estado gaúcho é o maior produtor do cereal no país, responsável por 70% de toda a produção nacional. Mas antes mesmo que os agricultores pudessem vir a público dizer que não há motivo para preocupações, já havia consumidores levando para casa grandes quantidades de arroz, provocando a baixa dos estoques nos supermercados. Comportamento que levou algumas redes varejistas a restringirem a compra para, aí sim, evitar a escassez.

A limitação de vendas do arroz foi adotada em algumas redes supermercadistas do país. Em Londrina, em pelo menos uma delas havia a restrição de 12 unidades por CPF. Além do arroz, em algumas capitais da Região Sudeste há relatos de supermercados que estabeleceram limites também para outros produtos que, nos últimos dias, passaram a ser comprados em quantidades acima da média, como feijão, óleo de soja e leite.

Em nota, a Abras (Associação Brasileira de Supermercados) afirmou que, até o momento, os estoques e as operações de abastecimento do varejo estão normalizados e recomendou que os clientes não comprem além da necessidade para garantir o acesso contínuo do produto.

No Paraná, a Apras (Associação Paranaense de Supermercados) também informou não haver risco de desabastecimento e que a decisão de limitar a quantidade de produtos para venda é feita de maneira individual e baseada na realidade do estoque, logística e abastecimento de cada supermercado.

Nesta semana, o governo federal anunciou a importação de até um milhão de toneladas de arroz. Segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o objetivo com a medida é evitar a escassez do produto no mercado brasileiro.

Os produtores gaúchos, no entanto, garantem que não vai faltar arroz no prato dos brasileiros em razão das enchentes. Segundo o Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz), 82,9% das lavouras já foram colhidas. Restam em torno de 150 mil hectares.

A Federarroz (Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul) destacou a boa qualidade e produtividade do que já foi colhido até agora, o que garante o abastecimento do mercado nacional. Em nota divulgada no site da Federação, o presidente da entidade, Alexandre Velho, disse que o estado gaúcho tem um bom volume de arroz e mesmo que haja dificuldades na colheita do que ainda está no campo, a rizicultura do Rio Grande do Sul tem condições de ultrapassar os sete milhões de toneladas nesta safra.

No momento, informou Velho, o problema é de logística, principalmente na ligação com o interior do estado. "Mas a ligação com os grandes centros, através da BR-101, está normal. Temos bastante arroz para deslocar para as regiões centrais do Brasil. Então, não existe qualquer problema com relação ao abastecimento ou uma necessidade urgente de importação. O Brasil é um grande produtor de arroz, a área aumentou aqui no Rio Grande do Sul, assim como em outros estados produtores. Então, não existe motivo algum para nós termos qualquer alerta com relação a problemas de abastecimento com relação ao arroz", avaliou. A preocupação agora, disse Velho, é auxiliar os produtores, esperar as águas baixarem para poder acessar as lavouras e, assim, quantificar os estragos.

Sobre as preocupações acerca de um possível aumento nos preços do produto, o mercado e especialistas dizem que ainda é cedo para mensurar a pressão inflacionária da tragédia climática. O cereal segue cotação internacional e seu preço atual está em patamar reduzido.(Com Folhapress)