Rio de Janeiro - O número de brasileiros que não trabalham ou trabalham menos do que gostariam bateu novo recorde em abril. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), já são 28,4 milhões de pessoas, o equivalente a 24,9% dos brasileiros em idade para trabalhar.

É o maior número da série histórica da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, iniciada em 2012. Na comparação com o trimestre encerrado em janeiro, houve crescimento de 3,9%, ou 1,06 milhão de pessoas.

O coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, destacou, porém, que o mercado de trabalho mostrou sinais de reação, com estabilidade na população ocupada e melhora, pela primeira vez em 16 trimestres, no número de brasileiros com carteira assinada.

"É um primeiro sinal de recuperação do mercado. Se isso vai se firmar, não dá para garantir", disse ele. "O ponto negativo, que ainda vai durar por um tempo, é esse volume de pessoas na subutilização", ponderou.

O índice de subutilização é composto por pessoas que estão procurando emprego, trabalhadores subocupados (que trabalham menos horas do que gostariam) e desalentados, aqueles que gostariam de trabalhar mas não procuraram emprego no período.

Os contingentes de pessoas subocupadas e desalentadas também bateram recorde no trimestre encerrado em abril. No primeiro caso, foram 7 milhões de trabalhadores, 3,3% a mais do que no trimestre anterior. No segundo grupo, são 4,9 milhões, alta de 4,3%.

Azeredo frisa que o desalento afeta principalmente mulheres, pretos e pardos, o que gera necessidade de formulação de políticas públicas para trazer esse grupo de volta ao mercado de trabalho.

No trimestre encerrado em abril, a taxa de desemprego no País foi de 12,5%, alta em relação aos 12% verificados no trimestre encerrado em janeiro. Ao todo, segundo o IBGE, 13,2 milhões de brasileiros procuraram emprego no período, 4,4% (ou 552 mil pessoas) acima do trimestre anterior.

"O aumento da desocupação ainda está muito relacionado à sazonalidade, nos meses de fevereiro e maio ainda tem a dispensa de temporários", disse Azeredo. "O choque é o aumento da carteira assinada", continuou.

No trimestre encerrado em abril, 33,1 milhões de pessoas tinham carteira de trabalho no País, estável em relação ao trimestre encerrado em janeiro, mas alta de 1,5% com relação ao mesmo período do ano anterior. São 480 mil pessoas a mais com carteira no País.

Foi o primeiro aumento nessa base de comparação desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015. "É uma surpresa, depois de 13 trimestres com queda e 3 com estabilidade em relação ao mesmo período do ano anterior", comentou o coordenador do IBGE.

De acordo com ele, os postos com carteira assinada foram gerados principalmente em São Paulo e ocupados principalmente por trabalhadoras. São postos nos setores de educação, serviços de informações e serviços financeiros, entre outros. Indústria e construção ainda não mostraram avanço.

O número de trabalhadores ocupados no trimestre foi 92,4 milhões de pessoas, estável em relação ao trimestre anterior e 2,1% superior ao mesmo período de 2018. Isso significa que o número de ocupados cresceu 1,9 milhão.

Cerca de metade, 939 mil pessoas, foram trabalhadores por conta própria, principalmente no setor de transportes, o que indica que são motoristas de aplicativo. O restante foi dividido entre os novos trabalhadores com carteira assinada e os sem carteira.

"Se tivermos o foco na subutilização, a situação é negativa. Por outro lado, tem um processo de reação no mercado", frisou Azeredo. "Seria uma luz no fim do túnel? Vamos ter que esperar as próximas divulgações para saber."

De acordo com o IBGE, a renda do trabalhador ficou em R$ 2.295, estável em relação ao trimestre encerrado em abril e também ao mesmo período do ano anterior. Com o aumento no número de ocupados entre 2018 e 2017, a massa de rendimentos subiu 2,8%, para R$ 206,8 bilhões.

Nesta quinta (30), o IBGE informou que a economia brasileira recuou 0,2% no primeiro trimestre do ano, confirmando que a economia está estagnada. Foi o primeiro recuo em dois anos. O elevado desemprego contribuiu para desacelerar o consumo das famílias, que vinha se recuperando nos últimos dois anos.