Cláudia Lopes
De Londrina
A privatização do Banestado deve ser tranquila, sem questionamentos jurídicos, na opinião do presidente do banco, Reinhold Stephanes. Ele fez palestra ontem em Londrina sobre ‘A estrutura de gastos do governo e as dificuldades das reformas’. ‘‘O processo no Paraná foi bem conduzido. Não cometemos erros que podem causar problemas maiores, como aconteceu com o Banespa. Algum juiz até pode conceder liminar, mas será de fácil cassação’’, afirmou.
Stephanes não descarta a possibilidade do leilão de privatização do Banestado acontecer antes do leilão do Banespa. ‘‘Mas isso é só uma hipótese. Hoje é mais interessante fazermos a privatização do Banestado depois porque os perdedores do Banespa teriam mais interesse pelo banco do Paraná, que passaria a ser a última boa alternativa do setor.’’
O presidente do Banestado disse que o ideal é que os dois leilões tenham uma diferença de prazo de três meses para que os interessados possam se preparar melhor. ‘‘O mercado está esperando o leilão do Banespa, que estava marcado para maio mas deve acontecer em junho ou julho. Tudo vai depender da discussão judicial’’, afirmou Stephanes. No mês passado, o Ministério Público Federal impetrou uma ação cautelar de improbidade na Justiça Federal pedindo a suspensão de todo o processo de privatização do Banespa.
Embora o leilão do Banestado esteja marcado para o dia 20 de setembro, Stephanes acredita que a venda só deva se concretizar em outubro. ‘‘Setembro é apenas uma data indicativa. Como as regras são rígidas, sempre faltam pequenos detalhes para serem resolvidos’’, disse.
A privatização do Banestado deve arrecadar cerca de R$ 600 milhões, que serão remetidos para o Tesouro Nacional a fim de abater a dívida do Estado. O processo de saneamento do Banestado consumiu R$ 5,4 bilhões, repassados pelo governo federal. Os possíveis compradores são os bancos Itaú, Bradesco, Unibanco e Santander.
Na palestra de ontem, promovida pela Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD/PR), o presidente do Banestado afirmou não acreditar na concretização da reforma tributária brasileira. ‘‘A União, os estados e municípios estão usando tudo o que arrecadam na manutenção de suas máquinas. Todo mundo está mais interessado em arrecadar do que na reforma tributária.’’
A reforma da previdência também não deve ser concluída, segundo Stephanes, que já foi ministro da pasta duas vezes. ‘‘O governo tem receio de mexer nos privilégios da elite. O redutor de até 30% não foi aprovado para quem ganha seis mínimos mas passou para quem ganha R$ 200.’’
Para Stephanes, o presidente Fernando Henrique chamou a população de ‘‘boba’’ ao delegar aos Estados o poder de definir um salário mínimo paralelo ao fixado pelo governo, de R$ 151. ‘‘Isso é besteira. Como os empresários já pagam mais do que o mínimo, os Estados não farão nada. Foi apenas uma forma encontrada pelo presidente de sair desta discussão.’’