Imagem ilustrativa da imagem Startup londrinense conecta interessados em trabalharem com permutas
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Quando decidiu vender a sua parcela societária em um plano de saúde voltado para animais de estimação, o londrinense Luciano Costa, 43, ainda não imaginava que a pandemia da Covid-19 agravaria a crise financeira no Brasil ao mesmo tempo em que destravaria transformações nas relações comerciais e na lógica de consumo em diversos setores. Em um contexto de crescimento na desvalorização da moeda nacional, decidiu apostar em um modelo de negócios já consolidado nos Estados Unidos e na Europa, mas ainda pouco difundido no Brasil. Através de um amigo, conheceu a lógica das permutas multilaterais, uma forma de comprar sem utilizar dinheiro e, assim, driblar os efeitos da inflação. À frente da Aceito Permutas, plataforma digital que nasceu em outubro do ano passado e funciona com uma moeda própria, Costa diz que está otimista já que o método possui a capacidade de reduzir custos fixos aos empresários enquanto colabora com a preservação do fluxo de caixa.

“Geralmente a permuta é entre duas pessoas e nesse caso não, envolve outros membros da plataforma. Tudo é feito como se fosse uma plataforma bancária. Cada empresa recebe um limite de crédito para a compra e o cliente recebe o comprovante”, explicou.

Em média, cada empresário associado possui limite de R$ 12 mil por ano para comprar e fornecer. No entanto, empresas de maior porte já estão alcançando quantias até três vezes acima deste valor, explicou. O custo fixo para ingressar na Aceito Permutas é de R$ 150 por mês e a plataforma é remunerada com 5% sobre cada compra efetuada. Por outro lado, para fomentar o ambiente de negócios entre os membros, a startup limita a entrada de apenas três empresas de cada segmento, exceto no caso de postos de combustíveis, farmácias e supermercados, devido à alta demanda por estes produtos. Ao mesmo tempo, somente os associados conseguem visualizar quem está oferecendo ou solicitando serviços ou produtos. “Buscamos entender qual é o porte desta empresa, se ela tem condições de consumir dentro da plataforma e se este volume está equilibrado com o poder de fornecimento. Prezamos pelo equilíbrio entre todos os clientes”, explicou.

Dono de um restaurante há cinco anos e em meio a uma mudança de endereço, o empresário Márcio Ferreira da Cruz, 40, encontrou os serviços que precisava na plataforma. "Processo de mudança você gasta muito e todos os materiais da reforma que eu utilizei, paguei com cascalhos", contou em referência ao nome da moeda criada pela Aceito Permutas. Além dos serviços, sua esposa acabou utilizando os créditos na obtenção de sua habilitação em uma auto-escola. "As taxas que têm que pagar normal, mas o valor das aulas na auto-escola paga em Cascalho, mas eu até procuro usar em algo que vai agregar para a empresa. E quando entra o crédito eles já vêm consumir rapidamente. Estou bem satisfeito com a parceria.", contou.

De acordo com o empreendedor Luciano Costa, o volume de negócios teve início com R$ 5,5 mil no primeiro mês, saltando para R$ 15 mil no segundo e R$ 25 mil no terceiro. Atualmente, 80 empresas de Londrina e outros municípios da Região Metropolitana já estão utilizando a Aceito Permutas. Restaurantes, barbearias, oficinas mecânicas, academias de ginástica, fotógrafos, contadores, prestadores de serviços em geral e profissionais liberais, como advogados. O modelo de regulamentação perante à Junta Comercial mínimo exigido pela plataforma é o MEI (Micro Empreendedor Individual).

“O cenário econômico ruim acaba sendo favorável para nós. O principal objetivo é fazer com que o empresário utilize para comprar produtos que fazem parte do dia a dia dele. Hoje o associado consegue promover alguns investimentos na empresa dele que ele não conseguiria com o dinheiro físico: iluminação, infraestrutura, comunicação”, explicou.

Questionado se a plataforma possui responsabilidade solidária sobre imprevistos, Costa explicou que não. Entretanto, este risco é reduzido por conta de uma curadoria feita logo no início. Além disso, muitos empresários têm aderido à Aceito Permutas após “uma indicação de quem já faz parte”, comemorou.

Já sobre os próximos passos, Costa afirmou que a startup vai dar início à sua operação em Maringá em maio. O objetivo é levar a plataforma para municípios que possuem mais de 250 mil habitantes através de um modelo de licenciamento.