Para justificar sua posição favorável à manutenção da Lei das Muralha, o prefeito Barbosa Neto (PDT) disse ontem que os técnicos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (Ippul) a consideram necessária para garantir a qualidade de vida dos londrinenses. E também que os moradores do entorno dos grandes supermercados da cidade estão sofrendo de depressão e se mudando das casas devido ao barulho causado pelos estabelecimentos.
Durante a entrevista coletiva semanal realizada ontem em seu gabinete, Barbosa afirmou que os estudos do Ippul mostram que Londrina vai se ''transformar numa São Paulo daqui a pouco''. De acordo com ele, a administração municipal está pensando no planejamento urbano ao defender a lei 9.869/05, que criou um grande quadrilátero na cidade no qual não podem ser instalados supermercados com mais de 1.500 metros de área de venda e lojas de material de construção com mais de 500 metros de área de venda.
Questionado sobre seu projeto de lei que incluía os shoppings na Muralha, o prefeito respondeu: ''Eu tenho de ouvir os técnicos do Ippul que elaboraram um estudo que inclui outro grande gerador de tráfego dentro desta lei''. O projeto foi retirado da pauta da Câmara em definitivo pelo vereador Roberto Fú (PDT), líder de Barbosa, o que estremeceu a relação entre eles (leia mais na página 3 de Política). ''Faço uma mea culpa porque eu mudei de posição. Eu também acreditava que a lei era uma muralha que iria beneficiar um ou outro empreendimento'', afirmou Barbosa. Desde que foi aprovada na administração do prefeito Nedson Micheleti (PT), a lei sempre foi vista como uma reserva de mercado em benefício de quem já está instalado no quadrilátero.
Segundo Barbosa, estudos feitos pelo Ippul mostram que ''as poucas áreas desocupadas na cidade já pertencem a alguns especuladores, alguns supermercados que seriam os mais beneficiados'' se a lei caísse. Para o prefeito, manter a legislação é ''cumprir'' o Estatuto da Cidade. ''Londrina tem essa lei moderna. A cidade sempre saiu na frente e é por isso que nós mantivemos a qualidade de vida aqui'', considerou. Ele ainda atacou a ''sanha imobiliária'' da cidade. ''Não podemos nos curvar diante disso. A Prefeitura tem a obrigação de regulamentar'', discursou.
Barbosa disse haver ''muitos interesses comerciais'' na tentativa de revogar a Muralha. ''São donos de imobiliárias, donos de hipermercados que querem ficar perto de uma maior concentração de pessoas.'' De acordo com o prefeito, sua administração pretende levar desenvolvimento para outras áreas da cidade, pensando na qualidade de vida da população.
O quadrilátero definido pela lei envolve boa parte de Londrina: todo o Centro, quase a totalidade das Zonas Sul e Oeste e um pedaço da Zona Norte. ''Nós queremos que esses empreendimentos possam ir para a periferia'', ressaltou. Apesar de sua intenção de incluir os shoppings nas restrições da lei, ele disse que os que já estão em construção, ou com projetos aprovados na Prefeitura, não vão sofrer prejuízo.
Transtornos
Durante a coletiva, Barbosa Neto também disse ter recebido reclamações de moradores vizinhos de grandes supermercados. E deu um exemplo: ''Na Rua Quintino Bocaiúva, tem muitos que estão com depressão. Pessoas mudaram-se de lá. Outros perderam recursos porque seus imóveis foram desvalorizados (por causa dos supermercados da região)''. Segundo ele, o descarregamento dos caminhões durante a madrugada incomoda os moradores.