O empresário paranaense continua mantendo seu otimismo para 2020, acreditando que a economia do estado e também a brasileira irão se recuperar. Segundo a 24ª edição da Sondagem Industrial, realizada pelo Sistema Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) entre 28 de outubro e 27 de novembro, 79% das empresas estão otimistas ou muito otimistas em relação ao desempenho de suas empresas no próximo ano. O resultado ficou praticamente estável em relação ao ano passado, quando 81% dos consultados tinham uma percepção positiva com relação a 2019. A amostra coletada representa 50,8 mil estabelecimentos industriais de todos os portes (micro, pequena, média e grande) e de 37 segmentos, que geram 765 mil empregos no estado.

O presidente da Fiep, Carlos Valter, entre os economistas Marcelo Alves (esquerda) e Evânio Felippe (direita), divulgou o resultado da 24ª edição da Sondagem Industrial
O presidente da Fiep, Carlos Valter, entre os economistas Marcelo Alves (esquerda) e Evânio Felippe (direita), divulgou o resultado da 24ª edição da Sondagem Industrial | Foto: Gelson Bampi/Sistema Fiep

Para o presidente da Fiep, Carlos Valter Martins Pedro, o alto nível de otimismo se deve às mudanças de rumo na condução da política econômica do país, que abrem espaço para uma retomada do crescimento. “O Brasil tem um grande mercado e nós, da indústria, estamos sempre dispostos a explorar cada vez melhor e de forma mais efetiva esse mercado”, afirma. “A indústria do Paraná é forte, diversificada, com indústrias em todo o Estado, e a nossa esperança é bastante boa com as ações do novo governo. Isso tem se refletido em otimismo para investimentos, renovação de equipamentos e processos produtivos mais eficazes”, completa.

O aumento das vendas e a melhoria da conjuntura econômica são os principais fatores apontados por empresários que justificam esse otimismo. A pesquisa aponta que 70% dos empresários acredita no aumento das vendas, 57% acredita na melhora da conjuntura econômica, 49% aposta na abertura de novos mercados, 30% acredita na melhora do cenário político.

Refletindo esse otimismo, mais de 82% dos empresários pretendem realizar investimentos. O percentual de empresas que pretendem investir em 2020 é quase 20% maior que o percentual de empresas que realizaram investimentos em 2019. As prioridades serão em aumento de capacidade produtiva e em máquinas e equipamentos. Os empresários ouvidos pela pesquisa apontam que 54% dos investimentos serão realizados no aumento da capacidade produtiva, 46% na aquisição de máquinas e equipamentos, 42% no desenvolvimento de produtos, 34% em melhoria de processo, 32% em capacitação e treinamento e 18% em marketing e propaganda.

Ao serem questionados sobre as estratégias mais relevantes para suas empresas, 52% dos respondentes apontaram que o desenvolvimento de novos negócios será a prioridade em 2020. Outros 42% pretendem aumentar o foco no cliente, e, 39% têm planos de incorporar novos produtos ao seu portfólio.

“A crescente alta da produção industrial paranaense, que este ano liderou o ranking nacional até o momento atual, a aprovação da Reforma da Previdência, a queda nos juros e a perspectiva de uma recuperação no mercado de trabalho e na economia como um todo em 2019 mantiveram o otimismo do industrial e tudo isso converge para uma melhoria no ambiente de negócios também para o ano que vem”, comenta o economista da Fiep, Marcelo Alves, um dos responsáveis pela pesquisa.

RECURSOS PRÓPRIOS

Assim como em 2019, a principal fonte de financiamento do investimento para 2020 será o uso de recursos próprios, com 75% dos empresários ouvidos manifestando esse desejo, enquanto 38% pretende usar bancos de fomento/desenvolvimento, 36% irá recorrer a bancos tradicionais, 25% devem utilizar recursos obtidos junto a cooperativas de crédito, 7% devem utilizar recursos de fundos de investimento, FDICs (fundos de investimento em direitos creditórios) e 2% pretende obter recursos de fintechs, que possuem custos operacionais muito menores comparadas às instituições tradicionais do setor. “Um ponto que chama a atenção foi que pela primeira vez apareceram as fintechs na pesquisa. É uma modalidade nova que apareceu que oferece serviços financeiros virtuais com riscos menores para o financiamento produtivo. Proporciona mais facilidade a um custo menor que os bancos tradicionais, que não acompanharam a queda da inflação e mantêm um financiamento a um custo alto. Já a tomada de crédito dos bancos de desenvolvimento possuem uma burocracia muito grande”, aponta o economista.

Sobre a alta do dólar, Alves afirma que no ano de 2019 três setores puxaram fortemente os índices da produção industrial paranaense: o automotivo, o da indústria de alimentos e a indústria metal-mecânica. “A alta do dólar tem impacto em todos os setores. Ela facilita a exportação, tornando os produtos competitivos internacionalmente, mas ao mesmo tempo encarece os insumos importados. Isso tem impacto na produção, mas a indústria tem estrutura e consegue superar as dificuldades”, analisa Alves.

PROBLEMAS

Questionado sobre os impactos que o aumento da tarifa de importação do alumínio e aço do Brasil imposto pelo presidente norte-americano Donald Trump, Alves afirma que qualquer aumento nos custos dos insumos tem impacto no mercado e alteração na estrutura, encarecendo o produto no mercado externo. “Mas a pesquisa aponta que só uma pequena parte acessa o mercado externo para exportação”, destaca. O estudo apontou que apenas 27% das empresas exportaram seus produtos em 2019. As empresas exportadoras paranaenses apontaram os custos de transporte doméstico, os custos dos insumos e os custos portuários como os principais fatores de dificuldade na competitividade internacional.Entre os fatores que afetam a competitividade internacional, os empresários apontam o custo dos insumos (59%), custos portuários (57%), custo do transporte doméstico (50%) e a burocracia administrativa (50%) como alguns dos pontos que interferem na exportação dos produtos.

Os entrevistados demonstraram alto grau de insatisfação com relação aos pedágios do Paraná, à estrutura tributária e aos incentivos fiscais, fatores que impedem o desenvolvimento e a competitividade das indústrias do estado dentro e fora do país. “A questão dos pedágios aparece forte para 98% dos empresários. É quase uma unanimidade. Ele é caro tanto para pessoas físicas como para as empresas. Isso encarece o custo logístico e reduz competitividade. É um entrave que precisa ser resolvido”, destaca Alves.

A segurança pública foi outro ponto de atenção. É um problema sério apontado por 63% dos respondentes. Em contrapartida, 63% declararam estarem satisfeitos com seus fornecedores locais, e, 49% avaliaram de forma positiva a oferta de mão-de-obra especializada no Paraná.

INFRAESTRUTURA

Cinquenta e cinco por centro dos industriais afirmaram que as rodovias do Paraná são o principal problema de infraestrutura no estado. “As rodovias são ruins comparadas com outros estados. Existem vários trechos a serem melhorados”, aponta Alves.

O economista ressalta que 43% dos pesquisados apontaram que o custo alto da energia também prejudica o desenvolvimento do setor industrial. “O Paraná é produtor de energia elétrica limpa e deveria ter um resultado melhor, porque temos abundância de energia. O empresário localizado em fim de linha (de transmissão) também enfrenta queda constante de energia. São problemas que precisam ser resolvidos”, aponta Alves.