Setor produtivo vê ambiente desfavorável para queda da Selic
Indústrias aguardam redução da taxa básica de juros, mas defendem que a medida seja feita com responsabilidade fiscal
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 01 de fevereiro de 2023
Indústrias aguardam redução da taxa básica de juros, mas defendem que a medida seja feita com responsabilidade fiscal
Simoni Saris - Grupo Folha
A alta taxa de juros praticada hoje no Brasil, em 13,75% ao ano, impacta diretamente o setor produtivo, mas entidades representativas dessa cadeia entendem que uma redução significativa e repentina da Selic poderia desequilibrar o mercado. Após 12 reuniões elevando gradualmente a taxa básica, em agosto de 2022 o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, fixou o percentual em 13,75% e o manteve nas outras quatro sessões seguintes, atingindo o maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75%. Juros altos travam o consumo e inibem os investimentos, mas a prioridade, afirma o setor produtivo, deve ser a responsabilidade fiscal.
Na última terça-feira (31), véspera da primeira reunião do Copom na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, questionou o alto patamar dos juros no Brasil e defendeu ações no sentido de reduzir o custo de capital no país. "Precisamos verificar por que o Brasil tem juros tão altos. O que justificaria? É imposto? É cunha fiscal? Para reduzir custo de capital. É falta de concorrência? Nos Estados Unidos tem dois mil bancos. É insegurança econômica? Questão fiscal? Insegurança política? Dificuldade de reaver o crédito? Spread alto? O bom pagador paga pelo mau pagador?", questionou Alckmin.
"É preciso agir no sentido de ter custo de capital mais barato, desburocratização, digitalização, acordos internacionais que podem ocorrer para crescer mais, poder criar mais empregos, logística melhor, tudo para reduzir custos e melhorar a competitividade", acrescentou o ministro, durante solenidade de posse da nova diretoria da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), em Brasília.
Em sua fala, Alckmin demonstra alinhamento com os anseios da classe produtiva que ainda amarga os efeitos negativos da crise sanitária que eclodiu em 2020. Três anos depois, alguns setores fortemente impactados pela pandemia de Covid-19, como o automotivo, não se recuperaram totalmente. Além do novo coronavírus, outros fatores interferiram na disposição de investimentos das empresas, como o alto custo energético e o período eleitoral, que sempre traz incertezas em relação aos rumos políticos e econômicos do país.
Em um contexto pontuado por tantas adversidades, a redução da taxa Selic torna-se um clamor e é apontada como uma das medidas que poderiam trazer mais fôlego para as indústrias. Um percentual abaixo dos 10% seria ideal, mas neste momento, reconhecem especialistas, torna-se inviável. “É importante baixar, a expectativa no médio prazo é que isso venha a acontecer. Mas entendemos também que agora é um pouco complicado. Não se espera uma redução neste momento. O ideal é que tenhamos uma queda no futuro. O setor produtivo espera a queda, mas com equilíbrio e responsabilidade”, disse o economista da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Marcelo Alves.
Taxas de juros elevadas desaceleram a atividade industrial, desestimulam os gastos das famílias e fazem crescer a dívida pública, uma vez que o governo regula seus títulos pela taxa Selic. Mas Alves destacou que antes da redução, é fundamental uma maior clareza de propostas para a área econômica por parte do governo federal. “A gente espera uma queda gradual e espera-se que as propostas do novo governo estejam mais claras na questão fiscal, tributária e monetária”, defendeu o economista.
Um entendimento maior sobre os objetivos e metas econômicos e fiscais do novo governo, ressaltou Alves, desencadearão uma reação do mercado e o setor produtivo está atento a esse movimento. Mas o economista chama a atenção para a sondagem industrial divulgada pela federação paranaense em dezembro passado, segundo a qual, 42% dos empresários entrevistados acreditam que a economia vai melhorar em 2023 e 80% deles confirmaram a intenção de fazer novos investimentos neste ano. Destes, 20% adiantaram a disposição de fazerem “mais” ou “muito mais” do que foi realizado em 2022. “Isso está ligado à expectativa positiva em relação à economia e ao custo do dinheiro e isso faz toda a diferença”, avaliou Alves.
Entre entidades representativas do setor produtivo parece haver um consenso sobre a relação entre a preservação do investimento, do emprego e da renda com uma política monetária bem calibrada, associada a medidas fiscais responsáveis e uma agenda bem definida acerca das reformas estruturais. Há alguns meses, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) chegou a defender a necessidade de juros altos como medida para conter a inflação e controlar os preços, mas reconheceu que o Brasil tem um dos maiores juros reais do mundo e disse que é preciso equilibrar os gastos públicos para que os juros possam cair. (Com agências)
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