Sem 'teto', dólar sobe e bate o 4º recorde seguido de alta
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quarta-feira, 25 de abril de 2001
Das agênciasDe São Paulo
O dólar bateu pela quarta vez seguida o recorde de cotação no Real. Com a atenção do mercado voltada para os desdobramentos das crises no governo brasileiro e na economia argentina, a moeda dos EUA encerrou os negócios vendida a R$ 2,289. O Banco Central não voltou a agir no mercado para tentar conter a valorização, que foi constante durante todo o dia. No fim da manhã, o dólar chegou a ser negociado a R$ 2,312, alta de 2,03%.
Vender dólares agora, mesmo com a cotação alta, pode não ser um bom negócio. Ninguém sabe quando vai parar essa trajetória de valorização, diz João Medeiros, diretor da corretora Pioneer.
Com a alta de 1,02% ontem, o preço do dólar passou a acumular valorização de 17,6% neste ano. No início do ano, apostávamos que o dólar estaria em R$ 2,05 em dezembro. Mas, do jeito que está o mercado, cada vez é mais difícil projetar em quanto estará a cotação no fim do ano, afirma Maurício Zanella, diretor de derivativos do banco Lloyds TSB.
O fato de o mercado estar com um volume menor de negócios tem feito a cotação da moeda subir mais facilmente. Segundo operadores, os US$ 4 bilhões que o mercado interbancário gira por dia normalmente caíram para R$ 2,6 bilhões.
A proximidade do vencimento dos contratos futuros de dólar na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) também começa a pressionar o câmbio. Como o Ptax (preço médio do dólar medido pelo BC diariamente) é referência para a liquidação desses contratos, quando os vencimentos se aproximam, há uma intensificação da queda-de-braço entre comprados que apostaram na valorização e os vendidos que são beneficiados com a queda do dólar, o que acaba também fazendo a cotação oscilar mais.
Na semana passada, o Banco Central vendeu títulos cambiais (NBC-Es, papéis que pagam a oscilação do câmbio mais juros prefixados) duas vezes para tentar diminuir a pressão sobre o dólar. Os títulos cambiais são comprados pelas instituições financeiras e empresas que querem se proteger da alta do dólar, pois esses papéis pagam a variação cambial até o período de resgate.
Corrida da BolsaOs investidores estrangeiros continuaram a tirar dinheiro da Bolsa de Valores de São Paulo neste mês. Até o último dia 20, R$ 1,143 bilhão deixou o mercado acionário paulista. Isso se forem desconsiderados os R$ 2,275 bilhões que o Santander trouxe no início deste mês para a Bovespa para realizar a operação de recompra das ações do Banespa. Se o negócio do banco espanhol for levado em conta, o fluxo fica positivo em R$ 1,003 bilhão. O saldo é a diferença entre as compras e vendas feitas por investidores estrangeiros na Bolsa paulista. Se deixarmos a operação do Santander de lado, veremos que a Bolsa continua perdendo os recursos dos estrangeiros. E o desgaste político e a crise argentina prejudicam um possível retorno desses recursos, diz o analista da corretora Socopa, Michel Campanella.