O selo “Soja Baixo Carbono”, resultado de um projeto da Embrapa Soja (Centro Nacional de Pesquisa de Soja), está sendo validado em 67 propriedades rurais em todo o Brasil. As diretrizes serão estabelecidas visando a colocação do selo no mercado em 2026.

A pesquisadora Roberta Carnevalli Monteiro explica que está sendo feito um “ajuste fino” no protocolo, com trabalho em campo. As fazendas variam de 30 hectares a mais de 20 mil hectares. “São bastante diversas e vão do Rio Grande do Sul ao Maranhão, em todos os estados que são produtores de soja”, explica.

Se por um lado o protocolo está sendo testado na prática, por outro a Embrapa já está em diálogo com as certificadoras que atuarão com o selo. Além disso, uma plataforma está sendo desenvolvida para fazer a contabilidade de emissões com o agricultor.

“O produtor não vai ficar fazendo planilha, essas coisas na mão. Ele vai entrar com os dados em uma plataforma e isso vai calcular, vai comparar com o modal, com o referencial dele”, pontuando que o intuito é fazer a comparação “mais justa possível”.

A soja baixo carbono está ligada às boas práticas que o produtor rural precisa adotar. Um sistema plantio direto bem feito - mantendo as premissas de revolvimento mínimo do solo, formação de palhada e diversificação e rotação de culturas -, uso de insumos inoculantes e redução da aplicação de nitrogênio, além da utilização racional de fertilizantes são algumas das ações recomendadas.

“Essas boas práticas tanto aumentam a produtividade e a resiliência do sistema quanto reduzem custos. Isso é bom para o produtor”, afirma a pesquisadora, citando ainda a integração lavoura-pecuária e manejo integrado de pragas. “Ele escolhe à medida que isso encaixa no sistema de produção. Mas, quanto mais práticas ele adotar, maior é o impacto sobre o índice que a gente calcula para dizer se é baixo carbono ou não.”

MELHORA NO MERCADO

A pesquisadora explica que, além de garantir um produto com maior valor agregado, outro ponto importante é o aumento da resistência do sistema de produção. As alterações climáticas são melhor suportadas, aponta.

“Uma área de soja com uma boa palhada, que foi feita antes, nessas ondas de calor ficavam em torno de 37° C a 38° C no solo. Nas áreas que estavam descobertas, a temperatura do solo chegou a mais de 54° C. Isso mata planta, aborta vagem e dá uma série de problemas, que o produtor evita simplesmente fazendo o manejo”, diz.

O chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, ressalta que o programa mostra em números a sustentabilidade do agronegócio brasileiro, sequestrando o carbono e produzindo alimentos. “O sistema plantio direto aumenta o sequestro de carbono e protege o solo da perda de água. A rotação [de culturas] ajuda a aprofundar raízes e fazer como se o solo fosse uma esponja, para absorver mais água”, exemplifica. “Nosso papel na Embrapa é trazer e mostrar essas tecnologias para o produtor, e fazer com que eles usem na maior intensidade possível.”

CRITÉRIOS

O agricultor que desejar o selo de soja baixo carbono será comparado a outros produtores da sua região, justamente para identificar quais práticas ele adota. Monteiro cita que na região de Londrina o modal acaba sendo soja e milho.

“Mas, esse produtor, por ser baixo carbono, faz soja e milho com braquiária. Em um ano ele planta o milheto, faz uma planta de cobertura. Ele vai adotando um modelo diferenciado, adota todas as práticas de inoculação recomendadas, e isso entra nos cálculos”, citando que, lado a lado com o agricultor tradicional, percebe-se o diferencial nas emissões.

“Quando se faz a análise do solo, a gente enxerga, pela análise, se o produtor teve boas práticas e adicionou carbono ao solo como matéria orgânica, ou se fez tudo errado e queimou essa matéria orgânica”, completa a pesquisadora.

A soja baixo carbono foi um dos temas do Dia de Campo realizado pela Embrapa e pela Fundação Meridional na sexta-feira, 23 de fevereiro.