Atendimentos médicos e hospitalares, a serviços de assistência a idosos e pessoas com deficiência e a assistência social responderam por mais da metade dos empregos formais em Serviços
Atendimentos médicos e hospitalares, a serviços de assistência a idosos e pessoas com deficiência e a assistência social responderam por mais da metade dos empregos formais em Serviços | Foto: iStock

Mais da metade dos empregos formais criados no setor de serviços em abril deste ano vieram de trabalhos ligados a atendimentos médicos e hospitalares, a serviços de assistência a idosos e pessoas com deficiência e a assistência social.

Abril foi o mês que registrou o maior número de mortes por Covid-19 desde o início da pandemia, em março de 2020. Foram mais de 82 mil óbitos em decorrência da doença.

Dos 57.610 postos de trabalho mantidos no setor de serviços naquele mês, 30.259 vieram do subgrupo saúde humana e serviços sociais, segundo dados do novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

O número corresponde a 52,52% dos empregos em serviços e um quarto (25%) do saldo total para o mês. Segundo o economista e professor da UTFPR (Universidade Federal Tecnológica do Paraná), Marcos Rambalducci, essa situação é percebida no estado do Paraná e em Londrina seguem a tendência dos dados nacionais.

"Em Londrina, de janeiro a abril o setor de Serviços abriu 1.068 sendo que somente a área de Saúde e Assistência Social foi responsável por 291 destas vagas (27,2%) e em abril, enquanto Serviços fechou com saldo negativo de 356 postos de trabalho, Saúde e Assistência Social encerraram o mês com saldo positivo de 52 postos de trabalho.", apontou.

No emprego, os serviços sociais e de saúde no Brasil tiveram o segundo mês com o melhor saldo de vagas pelo menos desde janeiro de 2020, quando começa a série histórica do novo Caged.

O pico na abertura de vagas em saúde foi em março, quando esse segmento chegou a 41.863 novos postos de trabalho. No mês em que a pandemia de Covid-19 completou um ano, 66.868 mortes pela doença foram registradas no Brasil.

Rambalducci ressalta que no Paraná, do saldo positivo de 10.019 empregos formais abertos, 1.303 foram na Saúde e Assistência Social. “No ano foram gerados 5.204 empregos com carteira assinada somente neste segmento de Serviços. É natural que, em meio a um processo pandêmico que se agrava, redunde na contratação de mais mão de obra no segmento de saúde."

O descontrole da crise sanitária a partir do início do ano intensificou o volume de contratações no setor. O saldo de vagas - a diferença entre as demissões e as contratações - nessa área supera, de janeiro a abril, o total registrado ao longo do ano passado.

Ao todo, no primeiro quadrimestre deste ano, esse segmento da economia gerou 120.244 vagas de emprego com carteira assinada. De janeiro a dezembro de 2020, o saldo é de 110.542 postos de trabalho.

Segundo o Caged, o emprego formal vem em recuperação no Brasil. Os primeiros quatro meses deste ano foram todos de resultados positivos, com mais contratações do que demissões. O saldo total do quadrimestre, com ajustes, é de 957.889 novos postos de trabalho.

Um dado fornecido pelo Caged que dá a dimensão do crescimento no número de vagas no setor de saúde, ocorrido ao mesmo tempo em que o Brasil viveu o repique da pandemia de Covid-19, é o da variação relativa, que mostra o quanto os novos empregos representam sobre o estoque de postos de trabalho.

De janeiro a abril deste ano, a variação relativa do saldo de vagas geral foi de 2,43%. Entre os serviços, que acumularam 400.455 empregos criados no período, a variação foi de 2,16%. Para o mesmo intervalo de quatro meses, os postos de trabalho em serviços sociais e de saúde representaram 4,88%.

Estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) feito com base na Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) aponta um crescimento de 3,3% no número de ocupados em atividades de atenção à saúde humana durante a pandemia, ao mesmo tempo em que outras ocupações registraram queda de 8,9%.

A análise considera dados coletados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) até o fim de 2020. Diferentemente do Caged, que monitora somente os empregos com carteira assinada, a pesquisa do IBGE acompanha também as flutuações de outros tipos de relação de trabalho, como os por conta própria ou informais.

O crescimento entre os ocupados aparece principalmente entre médicos (18,7%) e profissionais de enfermagem (18,5%), mas também entre profissionais de nível médio da enfermagem (1%).

Nesse segmento, o Dieese constatou um aumento no número de profissionais com ensino superior completo, mesmo em funções que só exigiam nível médio e técnico. No último trimestre de 2020, 19% tinham formação universitária, levando a 32,3% o número de ocupados com ensino superior.

Essa movimentação resultou em uma redução de 4,3% no número de profissionais com ensino médio completo, o equivalente a 37,5 mil trabalhadores. “Também é fato que a carência de profissionais técnicos levou a liberação de estudantes da área de saúde do ensino superior a atuarem como profissionais na área. A média de profissionais de cursos superiores naturalmente se eleva”, apontou Rambalducci.

Para os técnicos do departamento de estudos, o aumento de ocupados com ensino superior pode ter relação com a autorização para que estudantes de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia antecipassem colação de grau para que pudessem trabalhar em ações de combate à pandemia.

A melhora no nível de emprego durante a pandemia não trouxe junto aumento salarial, segundo o Dieese. Entre o último trimestre de 2019 e o mesmo período em 2020, o rendimento médio real para profissionais da enfermagem caiu 11,8%. Para médicos, a redução foi de 12,3%.

“Em relação aos salários, também é fato que, como são entrantes no mercado de trabalho, seus salários são inferiores àqueles que já estão há mais tempo atuando. A média salarial tenderia sim, a cair em relação à média em situações de normalidade”, enalteceu o professor da UTFPR.

“É de se observar que todos os setores, indistintamente, estão se preparando para este momento. O grande problema agora é conter a ansiedade e não permitir que queimem a largada”, apontou Rambalducci.

Questionado se uma eventual retração do dólar pode ajudar a melhorar esses números, ele é categórico em dizer que sim. “Especialmente no que se refere a colaborar na contenção do processo inflacionário. Na medida que o dólar se desvaloriza frente ao Real, deixamos de ser tão competitivos no mercado externo e isso significa que, especialmente o produtor rural, voltará sua atenção ao mercado interno, aumentando a oferta e reduzindo preços. Também os insumos importados passam a ficar mais baratos, ajudando a conter a inflação de custos.”

No entanto, ele afirma que o cenário de inflação ainda é delicado em função de dois fatores: o preço do petróleo, que voltou ao patamar de U$$ 73 de antes do início da pandemia; e o fato do Real estar mais fraco em relação ao dólar que naquela época. “E o estresse hídrico por que passamos, obrigando o Operador Nacional a incluir na planta de geração usinas à carvão e diesel, significativamente mais caras, continuará pressionando”, destacou Rambalducci. (Com Fernanda Brigatti/Folhapress)