A análise feita aqui é puramente econômica e não um juízo de valor em relação a retaliação comercial imposta à Rússia pela guerra deflagrada contra a Ucrânia.

É importante sim, que tenhamos a real noção do impacto provocado na economia para que possamos nos preparar para os desafios que advirão ao longo dos próximos meses.

A atenção aqui está voltada para o grupo de alimentos que compõe a cesta básica nacional e o efeito sobre eles, resultado da alta no preço de 3 commodities: petróleo, oleaginosas e fertilizantes.

A ausência do petróleo russo ...

A Rússia é o 3º maior produtor de petróleo do mundo. Em 2020 produziu 10,7 milhões de barris por dia, atras dos EUA com 16,5 milhões, e Arábia Saudita com 11 milhões. O Brasil, em 9º lugar respondeu com 3 milhões de barris por dia neste período.

... impacta o preço dos combustíveis ...

Em função do embargo dos EUA sobre o petróleo russo, o preço internacional do barril está em disparada, o que levou a Petrobras a praticar um forte aumento dos preços de seus derivados: 18,8% na gasolina, 24,9% do diesel e 16,1% no gás de cozinha.

... e encarece a oferta de alimentos.

Além do aumento para quem vai abastecer seu carro, teremos um efeito em cascata que se alastrará por toda a economia uma vez que temos uma alta dependência do transporte rodoviário para o deslocamento de mercadorias, especialmente as perecíveis como o tomate, a banana e a batata.

Nossa dependência de fertilizantes ...

Embora os combustíveis sejam o principal canal para o aumento dos custos no Brasil, não são o único. Se olhar nossa pauta de importações veremos que 85% dos fertilizantes utilizados em nossa agricultura vem de fora e a Rússia é nossa principal fornecedora.

... é perceptível na pauta de importações ...

O Comex Stat - sistema para consultas e extração de dados do comércio exterior brasileiro, revela que em 2021 o Brasil importou US$ 3,5 milhões em adubos e fertilizantes da Rússia, representando 62% de tudo o que importamos deles.

... e não temos grandes reservas.

Nossos estoques duram até junho e o governo russo recomendou a suspensão de exportações do produto, o que significa menor oferta e elevação nos preços, com potencial de afetar a produção agrícola, e consequente repasse do aumento de custos para o produto.

Restrições na oferta de trigo e milho ...

E não é só isso. Rússia e Ucrânia atendem 30% das exportações globais de trigo e praticamente 20% do milho. A falta desta produção eleva o preço no mercado internacional, e afeta também o preço da soja - substituto eventual do milho na produção de óleo vegetal e ração animal.

... encarecem a proteína animal...

Como consequência natural, veremos a elevação no preço do óleo de soja, da margarina, da farinha de trilho e do pão. Com o custo mais elevado para alimentar o gado, teremos também mais elevação no preço da carne, tanto da vermelha quanto de aves.

... em um momento já delicado.

Dos 13 produtos que compõe a cesta básica de alimentos, 9 sofrerão impacto direto e significativo em seus preços justamente quando o salário-mínimo atinge seu pior poder de compra em número de cestas básicas dos últimos 15 anos.

A situação é preocupante...

Em fevereiro, portanto antes dos impactos da guerra, o salário-mínimo em Londrina adquiria 2,09 cestas, que é 9,1% menos poder de compra que o 2º pior fevereiro do período que foi em 2015, quando o salário-mínimo comprou 2,3 cestas.

... e deve ficar ainda mais desafiadora.

Teremos uma percepção melhor do drama vivido pelas pessoas de menor renda no final deste mês quando o NuPEA – Núcleo de Pesquisas Econômicas Aplicadas da UTFPR, trouxer o valor médio da cesta básica aqui em nossa cidade.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina

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