Imagem ilustrativa da imagem Rotas estratégicas irão guiar ações do setor têxtil nos próximos dez anos
| Foto: iStock

O Paraná abriga o quinto maior parque industrial do setor têxtil, vestuário e de artefatos em couro do País. São 5.076 estabelecimentos e 69.845 trabalhadores formais, com um faturamento de R$ 6,99 bilhões computados em 2018. A produção corresponde a 5,2% do total nacional, colocando o Estado como o sexto maior do Brasil. Os números que dão a dimensão da importância deste setor para a economia paranaense são tão expressivos quanto as dificuldades enfrentadas pelas indústrias. A concorrência com os produtos importados, o crescimento dos custos de produção, a competição desleal com outros estados brasileiros, a escassez de matéria-prima, a falta de mão de obra capacitada, a mudança no perfil de consumo e a dificuldade de posicionamento no mercado virtual são apenas algumas delas.

Entre as mais de cinco mil indústrias do setor em atividade no Paraná, somente 11 são de grande porte, o que corresponde a 0,2% do total. A grande maioria, 83,5%, são microempresas e boa parte delas carece de recursos humanos e tecnológicos para ultrapassar as barreiras que impedem o avanço da produtividade.

Nos anos 1990 e 2000, o Estado chegou a ocupar a segunda colocação em produção de vestuário e manteve o posto até 2015. Mas a entrada massiva de produtos importados no mercado interno, especialmente os chineses, e o fortalecimento de outros polos no País, como Goiânia (GO) e Toritama e Caruaru, em Pernambuco, fizeram o Estado cair no ranking nacional. Devolver o protagonismo às indústrias paranaenses do setor é o objetivo de um esforço coletivo entre 156 especialistas de instituições públicas e privadas, responsáveis pela elaboração de um estudo que elenca os fatores críticos e lista ações de curto, médio e longo prazo para que o Paraná se torne referência em moda sustentável, inovadora, competitiva e reconhecida internacionalmente.

Rota estratégica

Encabeçado pela Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), o estudo deu origem à Rota Estratégica para o Futuro da Indústria do Paraná - 2031. Dentro de seis áreas críticas - recursos humanos, sustentabilidade, tecnologia e inovação, mercado, associativismo e política de Estado - o trabalho aponta 324 ações para serem executadas ao longo dos próximos dez anos. A coordenação da execução do plano estratégico ficará a cargo do Convest (Conselho Setorial da Indústria Têxtil, Vestuário e de Artefatos de Couro), do Sistema Fiep.

Diretor do Convest e presidente do Sindvest Maringá (Sindicato da Indústria do Vestuário de Maringá), Valdir Scalon ressaltou a importância de haver um planejamento detalhado para o setor, preparando as empresas para os novos rumos surgidos com as mudanças no perfil do consumidor e nas relações de consumo, observadas com maior nitidez durante o período da pandemia do novo coronavírus. “As pequenas e médias empresas ainda não estão preparadas para o comércio virtual, falta muita coisa. Tem que preparar o chão de fábrica. Nos últimos anos, a capacitação de pessoas ficou muito aquém. E quando o mercado está difícil, as empresas precisam da ajuda dos órgãos governamentais para a capacitação. Muitas regiões do Brasil estão vindo para o Paraná procurar mão de obra, mas não estamos preparados para oferecer isso a curto prazo”, disse Scalon, citando um dos gargalos do setor.

Há muitos outros desafios, como aqueles relacionados à competitividade e às questões tributárias. “Uma das visões que devem ser criadas para o industrial é a de que temos condições de atender outros mercados, como Estados Unidos, Europa, mas temos que ter um apoio governamental na reforma tributária para criar condições de competir”, afirmou Scalon.

Direcionamento

Dentro das 324 ações propostas na rota estratégica, 212 são de curto prazo, com foco em mercado e recursos humanos. Outras 97 são propostas de médio prazo, focadas em tecnologia e sustentabilidade, e 15 ações são de longo prazo, direcionadas à tecnologia e inovação.

O Paraná de volta às primeiras posições na classificação nacional do setor têxtil e de vestuário será apenas uma consequência de um trabalho de fortalecimento da cadeia produtiva, mas não é o principal objetivo da rota estratégica, destacou o gerente de Assuntos Estratégicos do Sistema Fiep, João Arthur Mohr. “Queremos atrair indústrias. Outros estados acabaram passando o Paraná por questões tributárias, com incentivos fiscais, e por isso temos uma versão de política de Estado. Queremos, sim, retomar, crescer, mas não nos preocupa ser o primeiro ou segundo. O setor deve estar trabalhando de forma adequada, gerando empregos e bons resultados operacionais.” O setor de vestuário, pontuou Mohr, é o terceiro mais importante do Estado, atrás do agroalimentar, o maior em geração de empregos, e do automotivo, o mais expressivo em arrecadação.

Associativismo garantiu produção durante a pandemia

Com o início da pandemia do novo coronavírus, no ano passado, a produção de vestuário caiu drasticamente nas indústrias e os empresários tiveram de se reinventar para evitar demissões e falência. Nesse novo cenário, o associativismo surgiu como um meio de manter ao menos parte das atividades e do faturamento.

Nos primeiros meses da pandemia, quando as atividades consideradas não essenciais foram suspensas para evitar a propagação da Covid-19, Cláudio Delmasquio, sócio-proprietário da Braço Forte Uniformes Profissionais, em Apucarana, se juntou a outros empresários do município para produzir máscaras e aventais cirúrgicos. Com o apoio da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), que negociou a compra do tecido para a fabricação dos equipamentos de segurança, as indústrias apucaranenses puderam manter as atividades com a produção voltada a um novo nicho de mercado.

Para as indústrias, foi um enorme desafio porque tiveram de se adaptar à nova realidade, mas na empresa de Delmasquio, nenhum dos 60 funcionários perdeu o emprego. “Nossa demanda caiu quase 60%, mas nos mantivemos com os aventais e as máscaras e tivemos faturamento. Isso foi o associativismo. Foram 60 empresas produzindo juntas e hoje os concorrentes estão mais próximos. As empresas do setor têm que conversar, trocar informação”, destacou o empresário.

“Muitas das indústrias iriam fechar, mas por meio de um desses fatores críticos (associativismo), conseguiram fazer um trabalho de reinvenção desse mercado. Foi feita a capacitação de funcionários, investiram em tecnologia e passaram a produzir máscaras cirúrgicas. Teve capacitação, tecnologia, inovação e associativismo. A rota estratégica foi lançada agora, mas os itens já estão acontecendo e isso criou sustentabilidade para o setor”, analisou o gerente de Assuntos Estratégicos do Sistema Fiep, João Arthur Mohr.

Apucarana é o município que mais emprega no setor de vestuário no Estado, com 7.118 postos de trabalho formais. Na sequência, estão Maringá (4.644), Cianorte (4.250), Londrina (3.915) e Curitiba (3.639). Juntas, essas cinco cidades empregam 23.556 profissionais, o que corresponde a 33,7% do total de trabalhadores do setor no Estado.

Para que essas indústrias possam expandir ainda mais sua produção, gerando empregos e inclusão, destacou Delmasquio, é urgente a ação do Estado na revisão das taxas tributárias. Os empresários acreditam que essa medida aliviaria os encargos das empresas e permitiria uma concorrência menos desigual. “Em Minas Gerais, a carga tributária é muito menor”, comparou.

Somada aos impostos, o empresário ressaltou ainda a escassez de matéria-prima, que elevou os custos de alguns insumos e encareceu a produção. Os preços das caixas de papelão, segundo Delmasquio, sofreram reajuste de 100% nos últimos quatro meses e o tecido subiu 14%.

O empresário também pontuou a necessidade de se investir na capacitação de mão de obra. “Qualquer jovem que se destacar hoje na profissão está tranquilo porque faltam profissionais qualificados no mercado. Temos pessoas desempregadas e há vagas disponíveis, mas os profissionais disponíveis são totalmente despreparados.”