Seis dias após entrar em vigor o aumento nos preços dos derivados de petróleo, muitos revendedores de gás de cozinha em Londrina ainda não repassaram integralmente a alta aos seus clientes. Na última sexta-feira (11), a Petrobras reajustou o GLP em 16%, mas os preços dos botijões de 13 quilos na cidade subiram entre 10% e 13%, segundo cotação feita pela reportagem da FOLHA junto a estabelecimentos comerciais. Para não afugentar os consumidores, em um primeiro momento a estratégia foi segurar um pouco o aumento. Mas economista alerta para o impacto que o aumento de um item essencial à sobrevivência terá na vida da população, especialmente a de baixa renda.

Imagem ilustrativa da imagem Revendedores seguram alta do gás, mas reajuste impacta os mais pobres
| Foto: iStock

Uma revendedora de gás de cozinha em Londrina reajustou o preço do produto em 13%, pouco abaixo do anunciado pela Petrobras. Um botijão, que antes do aumento era vendido a R$ 110, agora sai por R$ 125. Apesar da alta, as vendas cresceram. “Os clientes estão comprando mais porque estão com medo de desabastecimento caso haja uma greve dos caminhoneiros”, disse a proprietária do estabelecimento, Maria Cristina Delcolli.

Na semana passada, nos dias que antecederam o reajuste, contou Delcolli, muitos consumidores correram à loja para comprar dois ou três botijões de uma só vez como forma de garantir o preço antigo. Agora, após o aumento, há clientes pedindo para parcelar. “Não são muitos, mas alguns pedem e a gente divide o pagamento em duas vezes”, comentou.

Mesmo repassando o aumento do gás aos clientes, Delcolli conta que manter a empresa funcionando está cada vez mais difícil porque embutir os outros custos no preço final do produto encareceria demais o valor do botijão. Ela se queixa que tudo aumentou. As taxas bancárias, o aluguel da máquina do cartão, as taxas do cartão, luz, manutenção e o combustível usado para abastecer os veículos que fazem as entregas. “Metade das nossas vendas são feitas no cartão, então a gente só recebe o que vendeu 30 dias depois, o que não cobre os custos que tivemos ao longo do mês que passou”, disse a proprietária da revendedora, mostrando os efeitos da inflação no caixa da empresa.

Em outra revendedora da cidade, o proprietário Márcio Maciel disse que tenta, “por uma semana”, trabalhar com valores abaixo do reajuste das distribuidoras. No estabelecimento, o preço do botijão passou de R$ 95 para R$ 105 – alta de 10,52%. “A gente segurou por uma semana, mas vai ter que reajustar”, adiantou.

Segundo Maciel, após o reajuste da semana passada ainda não foi possível observar uma mudança no comportamento dos clientes, mas desde que os aumentos passaram a ocorrer com uma certa constância, os hábitos de consumo foram alterados. “Tem períodos em que os clientes deixam de comprar. Quando tem uma alta, já tem uma diminuição nas vendas. E os clientes reclamam muito do preço.”

IMPACTO

Com o valor médio do botijão de R$ 120 e o salário mínimo no país fixado em R$ 1.212, o gás de cozinha tem uma participação de quase 10% no orçamento das famílias. Comprometer 10% da renda familiar com a compra de um item essencial significa ter de fazer remanejamentos e cortes em outros gastos, destacou o economista e professor da Pitágoras/Unopar Elcio Cordeiro. “O problema, quando se observa o aumento, não é só pagar mais caro. Isso reduz o padrão de consumo de outros bens para poder fazer frente a esses aumentos.”

Para a população que tem uma renda mais baixa, ressaltou Cordeiro, as altas em itens essenciais, como gás e combustível, produzem um efeito cascata, elevando o risco de inadimplência. Com o orçamento mais apertado, essas famílias também ficam sem recursos para gastar com roupas, lazer e entretenimento, prejudicando o comércio e toda a economia local. “Elas direcionam para o gás e o combustível o dinheiro que iriam gastar com um tênis, um cinema. Isso fica em segundo plano ou é cortado do orçamento”, disse o economista.

Dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) apontam que no período de 12 meses, entre março de 2021 e março de 2022, o gás de cozinha acumulou alta de 23,2%, bem acima da inflação de 2021, que ficou em 10,06%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O índice de inflação tem como base uma cesta média de bens de consumo e, a partir do momento que a renda do trabalhador diminui, aumenta o foco nos produtos essenciais. Assim, a inflação média não reflete a realidade das famílias de classe mais baixa. “A inflação que elas sentem tem um índice muito maior do que os índices oficiais mostram, o que compromete demais a renda dessas famílias”, explicou Cordeiro. “A inflação sobe e pega o dinheiro das pessoas, que vão para o crédito, mas o parcelamento está com juros altos e vai virando uma bola de neve, as pessoas vão ficando sem saída.”

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