A rotina universitária em Dracena, na Alta Paulista, cerca de 270 quilômetros de Londrina, nunca esteve nos planos de Marlon Henrique de Lima Barrantes, do 2º ano do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina.

Imagem ilustrativa da imagem Retorno de alunos às universidades deve movimentar economia a partir de dezembro
| Foto: Roberto Custódio

Em 2018, ele desembarcou no Norte do Paraná, fez cursinho preparatório e, em 2019, celebrou seu ingresso no ensino superior público e gratuito. Tudo corria bem até março do ano passado, quando a Terra parou por causa de um tal coronavírus. Sem condições de ingressar num estágio e custear parte de suas despesas na cidade, Barrantes retornou ao interior paulista. Deixou a república que dividia com outro dracenense, o transporte coletivo que usava todos os dias, as festas universitárias, os pedidos de refeição nos aplicativos de entrega e as eventuais idas a restaurantes.

A história de Marlon foi multiplicada milhares de vezes no contexto de uma economia dependente da permanência e do modo de vida de estudantes universitários. Em 2020 e 2021, muitos setores sentiram a falta destes jovens e agora vivem uma expectativa de recuperação forte em 2022.

Nas últimas semanas, o anúncio de que estudantes e professores da Universidade Estadual de Londrina voltarão necessariamente às salas de aula no próximo dia 24 de janeiro foi o suficiente para dar um choque de confiança em muitas empresas.

“A estimativa é que haja entre 40 mil e 50 mil estudantes de ensino superior em Londrina e uma parcela deles deixou a cidade neste período, afetando especialmente o transporte coletivo, o setor de alimentação, a movimentação dos bares, o aluguel de chácaras para festas”, explica o consultor da ACIL e colunista da Folha, Marcos Rambalducci.

Enquanto a UEL funcionou apenas no modelo do ensino à distância desde o início da pandemia, as grandes universidades privadas já incorporaram atividades presenciais desde o início do ano, com as restrições que marcaram muitas atividades durante a pandemia. A última a retornar deve ser a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), com previsão de retorno dos alunos em março.

A reportagem apurou que a movimentação nos campi da Unopar, Unifil, PUC e Unicesumar estão muito abaixo do normal, com a grande maioria dos estudantes e professores optando pelas atividades remotas.

Comerciantes que dependem da movimentação dos estudantes tiveram que se adaptar durante a pandemia. A reportagem percorreu regiões próximas aos campi e constatou a cautela que vem marcando a retomada. De acordo com funcionários destes estabelecimentos, a presença deles sempre foi assídua em bares e lanchonetes, mas que hoje se tornaram muito esporádicas. As lojas ligadas a alimentação reforçaram o mercado de delivery e hoje dão descontos para grupos de estudantes que se juntam para atividades esporádicas.

Nas imediações da UEL, alguns bairros estão com cerca de 80% de imóveis vazios, de acordo com fontes do mercado imobiliário, e outros estabelecimentos decidiram reduzir a operação e entregar parte do ponto para enxugar custos.

Com o anúncio do retorno das presenciais na UEL em janeiro, o mercado voltou a se animar, com o aumento da procura de imóveis de um ou dois quartos para locação. Os corretores imobiliários dizem que o volume mais alto de consulta neste mês deve se converter em um volume de fechamento de contratos bem maior já em dezembro.

Estudo da UTFPR

Um pesquisa feita com estudantes da UTFPR coordenada pelo economista Marcos Rambalducci, que é professor da instituição, aponta que o gasto médio anual por aluno que tem residência em outro município é de cerca de R$ 15 mil, valor 10 vezes maior que os alunos que vivem com a família na cidade.