O movimento de passageiros no Aeroporto Governador José Richa, em Londrina, vem crescendo mês a mês desde maio, com a volta gradual de alguns voos comerciais. Mas apesar da retomada, o retorno das atividades segue um ritmo lento e os proprietários de lojas instaladas no terminal se queixam da dificuldade de negociar com a Infraero os valores dos alugueis. O faturamento no período mais crítico, caiu para zero e hoje, a queda chega a 75% em relação aos meses anteriores à pandemia.

Imagem ilustrativa da imagem Retomada gradual dos voos em Londrina não reverte perdas dos concessionários
| Foto: Gustavo Carneiro/17-8-2020

Dados da Infraero mostram que o número de pessoas que embarcaram e desembarcaram no terminal de Londrina começou a diminuir em fevereiro, com o pico de queda em abril, quando apenas 63 usuários passaram pelo local, uma redução de mais de 99% na comparação com igual mês de 2019. Em maio, é possível observar uma reação, ainda que muito tímida, com o registro de 3.028 passageiros contra 83.621 no ano passado, diferença de 96%. O último balanço disponibilizado pela Infraero, em agosto, aponta 12.267 embarques e desembarques, ainda bem distante dos 86.333 de agosto de 2019.

Nos oito primeiros meses deste ano, 219.959 passageiros passaram pelo Aeroporto de Londrina. No mesmo período do ano passado, foram 672.265 pessoas - baixa de 67%. “Os voos ainda não voltaram todos e aqueles que voltaram não estão com a lotação máxima. Por isso, não abrimos o dia todo. Não tem como. Das 11h30 às 15 horas, não tem chegada nem saída de nenhum voo”, disse o proprietário de uma confeitaria, Sergio Antonio Abrão.

Para conter os custos e evitar demissões, além de aderir à MP 936, que regulamenta a redução da jornada de trabalho e dos salários, os funcionários da confeitaria estão trabalhando por escala. Nos períodos do dia em que não há movimento de passageiros no aeroporto, o estabelecimento fica fechado. A loja opera atualmente com 25% de sua capacidade.

Até março, o terminal em Londrina mantinha entre 14 e 15 voos diários. Hoje, não passam de cinco. Além dos longos períodos sem pousos e decolagens durante a semana, nos finais de semana a circulação de pessoas pelo aeroporto caiu drasticamente em relação ao que era registrado antes da pandemia. Por enquanto, há apenas um voo aos sábados e um aos domingos. “E durante a semana, o melhor voo do dia ainda não voltou, que era às 5h35, com destino a Congonhas (SP). Era o horário de maior movimento na confeitaria, onde o pessoal passava para tomar o café da manhã antes de viajar”, destacou Abrão.

Acordos

Há meses, os concessionários tentam acordo com a Infraero. Eles querem que a estatal reveja os valores previstos nos contratos e considere que a queda no movimento de clientes e, consequentemente, no faturamento, foi uma condição imposta por um fator externo e imprevisto na época da assinatura dos contratos de concessão. Até o momento, a única oferta da Infraero foi postergar o pagamento integral dos alugueis de março para setembro e redução de 50% dos valores a partir de abril, mas o percentual abatido deverá começar a ser pago em outubro, juntamente com o valor integral do mês de setembro. “Provavelmente não vamos ter caixa para pagar um aluguel e meio. Não temos renda para isso. O que mais me espanta é a Infraero não querer fazer acordo, um órgão federal ser tão intransigente assim”, declarou Abrão.

Os concessionários também reclamam que a partir de setembro, quando os concessionários tiveram de efetuar os pagamentos dos valores postergados, houve cobrança de juros.

Em uma nova oferta de acordo, feita recentemente, a Infraero propôs reduzir em 30% os alugueis de setembro e outubro e em 20% os alugueis de novembro e dezembro.

Durante a pandemia, três lojistas decidiram fechar permanentemente seus estabelecimentos e agora, dez se mantêm ativos, mas dizem não ter meios de arcar com os custos. Um deles, com três pontos comerciais no local, paga quase R$ 30 mil mensais de aluguel. Nesta quinta-feira (24), os lojistas encaminharam um ofício à Infraero pedindo maior flexibilidade nas negociações. “O governo fala de manter as empresas ativas durante a pandemia, mas ele mesmo está nos matando. E se a gente quiser entregar o ponto, a multa é absurda. Eu investi cerca de R$ 50 mil em uma das minhas lojas. Se eu quiser fechar agora, a multa chega perto de R$ 100 mil. Não compensa”, disse a proprietária de uma loja de semi joias e de uma chocolateria no terminal, Rosemara de Oliveira Santos.

Segundo ela, a Infraero chegou a sugerir que os lojistas adotassem o modelo de vendas por delivery para contornar a queda no faturamento, mas a medida não seria viável, avalia. “Para mim não compensa pagar um aluguel para vender por delivery. A Infraero tinha que entender que a gente não está conseguindo cumprir os valores dos contratos por uma situação que não foi provocada por nós, não é resultado de uma má gestão”, comentou.

Por meio de nota, a Infraero reiterou reconhecer a excepcionalidade da situação atual, mas que “não se pode atribuir unicamente à Infraero o suporte financeiro de todo prejuízo causado pela pandemia”.