Desde o último dia 30 de julho, em razão de decreto estadual, os eventos sociais e corporativos voltaram a ser liberados no Paraná e profissionais do setor começam a respirar aliviados. Para eles, o ano de 2020 foi de prejuízos, com muitos cancelamentos e remarcações de datas, e agora, com uma maior flexibilização das normas sanitárias, a agenda volta a ficar movimentada. Com a suspensão dos eventos, a Abeoc-PR (Associação Brasileira de Empresas de Eventos no Paraná) estima que o Estado deixou de faturar R$ 25 bilhões na pandemia.

Imagem ilustrativa da imagem Retomada de eventos sociais traz alívio a profissionais do setor
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Conforme os últimos decretos, voltaram a ser permitidos eventos sociais e empresariais, mas com restrição de público entre 50% e 60% da capacidade do espaço, desde que não exceda o limite de 500 participantes para eventos em locais abertos e 400 pessoas em ambientes fechados. Algumas medidas restritivas ainda são exigidas, como a proibição de pista de dança e toque de recolher à meia-noite, mas a possibilidade de retomar as atividades deixa nos profissionais do setor a sensação de início de retorno à normalidade e de que o pior já passou. Eles estão ansiosos para voltar à ativa com força total.

Dos contratos fechados pelo fotógrafo Marcos Guira no ano passado, nenhum foi cancelado, mas 27 clientes pediram para remarcar a data para este ano. Em 2021, três noivas desistiram da celebração e cancelaram o contrato em razão das incertezas sobre a liberação dos eventos. “Já temos agenda de novos clientes para 2022 e já abri agenda para 2023”, comemora.

Para contornar a escassez de trabalho, no ano passado Guira sustentou seus ganhos com o registro fotográfico de pequenos eventos e ensaios. Ele também ingressou em um novo nicho de mercado, a fotografia de produtos para comércio eletrônico. Mesmo assim, conta que o volume de trabalho em 2020 não chegou a 1% do que costumava realizar antes da pandemia. A renda caiu, ajustes no orçamento foram necessários, mas agora a expectativa é de recuperação de prejuízos. “O maior prejuízo seria a perda de familiares. Consegui manter a casa, as contas, não fiz empréstimos nem dívidas. Cortei muita coisa, mas não passei necessidade”, comentou.

Para os próximos meses de 2021, o fotógrafo tem agendados 14 eventos e espera “voltar com tudo” em 2022. “As datas para o ano que vem começam a ficar disputadas.”

A organizadora de eventos Claudia Andrade disse que desde 2020 tem feito remarcações e cancelamentos e que as desistências foram maiores do que os reagendamentos. “É complicado porque implica devolução do dinheiro. Houve muito prejuízo para o setor”, avaliou.

A suspensão dos eventos por mais de um ano acarretou um deficit de três anos, calcula Andrade. “O cliente de 2019 que faria a festa em 2020 cancelou ou remarcou. O que faria em 2020 remarcou para 2021. O ano de 2021 está começando agora. É um prejuízo de três anos. O prejuízo, nesse um ano e três meses, foi total. Houve muita demissão, foi bem caótico.”

Andrade acredita que vá levar um tempo até a volta total à normalidade. “Temos que ter consciência de que teremos pequenas e médias comemorações, estamos conscientizando o cliente, incentivando os eventos ao ar livre.”

Do início da pandemia até junho de 2021, o setor de eventos deixou de faturar quase R$ 25 bilhões no Paraná, estima um levantamento feito pela Abeoc-PR (Associação Brasileira de Empresas de Eventos no Paraná). Nos momentos mais críticos da crise sanitária, afirma a entidade, grande parte das empresas do setor fechou, resultando em demissões em massa.

Com a flexibilização das normas de distanciamento e isolamento social e a liberação gradativa dos eventos, a Abeoc-PR projeta que as empresas do setor começarão a ter um fôlego ao final de 2021, mas desenha um cenário pouco otimista a curto prazo. Segundo a entidade, o retorno à normalidade econômica deverá acontecer somente ao final de 2024. “Os anos de 2022 e 2023 não devem chegar perto do que foi antes da pandemia. Em 2024, porém, os resultados devem se aproximar ou superar 2019”, calcula o presidente da associação, Fabio Skraba.

Segundo a Abeoc-PR, apenas 40% das empresas que fecharam durante a pandemia conseguirão voltar com suas atividades. Daquelas que reduziram o quadro funcional durante o período de restrições, 70% devem começar a contratar já no início de 2022. “Um dos maiores desafios será a contratação de mão de obra especializada, pois os trabalhadores do setor de eventos que migraram para outras áreas retornarão somente quando existir uma estabilidade de mercado”, prevê Skraba.

Outro desafio, apontou ele, será a confiança dos patrocinadores, expositores e participantes, mas este deve ser rapidamente superado com a evolução da vacinação. “O setor de eventos está com uma demanda reprimida, o que deverá acelerar a economia para o segundo semestre de 2022.”

Casamentos voltam a acontecer, mas cerimônias têm novo perfil

O celebrante social de casamentos Edson Ferreira tinha mais de 30 contratos assinados para cerimônias agendadas para 2020. Destes, apenas um casamento foi realizado. Diante da situação imprevista, Ferreira procurou cada um de seus clientes para discutir como seria resolvida a questão. Dez por cento deles já haviam pagado integralmente pelo serviço e receberam de volta a parcela prevista em contrato. Uma boa parte adiou a data do casamento e para alguns o celebrante ainda tenta encaixes na agenda. “De outubro em diante até o ano que vem, vou fazer cerimônias que foram adiadas. Mas alguns não vão mais casar. Decidiram oficializar no civil ou fizeram só uma viagem. Teve gente que adiou a cerimônia sem data e outras pessoas eu não vou conseguir atender porque não encontro data”, contou.

As cerimônias de formaturas e os eventos corporativos, segmento no qual Ferreira também atua, não pararam durante a pandemia, mas mudaram de formato, migrando do ambiente presencial para o meio virtual. “No meu caso, como comunicador, tem possibilidades, mas eu via nesses eventos a ausência de muitos outros profissionais, como bufê, segurança, aluguel de cadeiras.”

Se há um prejuízo que possa ser contabilizado, diz Ferreira, é aquele decorrente da decisão dele de manter em 2022 os valores previstos nos contratos assinados em 2020. “Tudo subiu, mas não estou aplicando um novo orçamento.”

Para os próximos meses, o celebrante está bem otimista. Ele já fechou contratos para 2022 e tem procura para 2023. “A demanda está aparecendo. Tenho muitos pedidos de orçamento, mas em um formato diferente. Quem planejava casamento para 150, 200, 300 pessoas está reduzindo esse número para se encaixar em futuras possíveis restrições. Mudou o perfil de cerimônia.”

A consultora de vendas Izabela Giacoia adiou duas vezes o casamento por causa da pandemia. A primeira data escolhida era 4 de abril de 2020, mas no dia 23 de março veio um decreto suspendendo todas as atividades econômicas e eventos sociais e ela teve de cancelar a celebração para 180 convidados. A cerimônia foi remarcada para o meio do ano, mas a pandemia, novamente, obrigou Giacoia e o noivo, Anderson Belmaia, a cancelarem o evento. A nova data está marcada para fevereiro de 2022.

A remarcação de um casamento está longe de ser uma tarefa simples porque envolve a conciliação de datas de uma vasta cadeia de fornecedores. “Chegou um momento em que a gente pensou em desistir, deu uma desanimada. Não tinha mais o entusiasmo e a empolgação”, conta Giacoia.

O casal decidiu dar sequência ao plano porque cancelar o evento representaria um grande prejuízo, já que todos os serviços estavam pagos e nenhum contrato prevê a devolução de 100% do valor. “Consegui remarcar tudo. Falei com o bufê primeiro, que me deu a opção de três datas e joguei as três datas para todos os fornecedores”, disse a noiva.

Mas adequações tiveram de ser feitas. Uma delas, na lista de convidados, reduzida de 180 para cem nomes. “O bufê eu havia pagado para cem pessoas e estou mantendo. Se eu aumentar, vou ter que pagar a mais com reajuste e aí eu entraria no prejuízo. A gente justifica o corte na lista com a pandemia e todo mundo tem que entender.”