O trabalho e a geração de renda como antídotos para a vulnerabilidade social. Esse é o principal mote da economia solidária que, devido ao desemprego em alta, vem ganhando mais espaço no Brasil. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, existem 20.529 empreendimentos registrados no Cadsol (Cadastro Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários), sendo 1.002 no Paraná. Na fila para entrar no Cadsol, há outros 4.154. Como o cadastro não é obrigatório, o ministério estima que existe muito mais gente vivendo de economia solidária no Brasil.

Para integrar o cadastro, os empreendimentos passam pela análise de uma comissão local e, se aprovados, recebem a Declaração de Empreendimento Econômico Solidário (DCSOL), documento emitido via internet que facilita o acesso às políticas de apoio à economia solidária, como programas públicos de financiamento, compras governamentais, comercialização de produtos e serviços e assessoria.

Segundo o subsecretário da Senaes (Subsecretaria Nacional de Economia Solidária), Natalino Oldakoski, o governo tem lançado mão de editais de apoio à atividade. "Em 2017, tivemos um visando o novo marco regulatório de Redes de Economia Solidária e outros contemplando os projetos acadêmicos via edital CNPQ Incubação (Conselho Nacional de Desenvolvimentos Científico e Tecnológico)", destaca.

Por meio de convênio com a Senaes, Londrina conta com um aporte mensal de R$ 40 mil para as ações de capacitação e desenvolvimentos de 53 empreendimentos solidários que garantem geração de renda para aproximadamente 200 pessoas. A maioria delas desenvolve trabalhos de artesanato ou alimentação. "Esse recurso também serve para capacitação das pessoas. Na nossa área de atuação, são 120 mil cadastrados recebendo benefícios do governo federal por estarem em situação de vulnerabilidade", explica o gerente de Inclusão Produtiva da Secretaria de Assistência Social de Londrina, Rodrigo Eduardo Zambon.

Ele conta que a equipe que trabalha com os grupos de economia solidária na cidade busca a autogestão dos empreendimentos, mas que, devido à baixa escolaridade e qualificação do público atendido, o tempo para esse ganho de autonomia por vezes é longo. "Temos grupos que ainda contam com o nosso monitoramento ou apoio financeiro até mesmo para a compra de matéria-prima há mais de 10 anos. Em compensação, há quem conseguiu progredir e até deixar o Cadsol para transformar o negócio em MEI (Microempreendedor Individual)", afirma.

Além da capacitação e apoio para o desenvolvimento das atividades, o Município disponibiliza à economia solidária três espaços para a venda de produtos, além de feiras em determinadas épocas do ano como Páscoa e Natal.
Em Curitiba, há 125 empreendimentos no Cadsol, que geram renda para aproximadamente 700 pessoas. Artesanato e alimentação predominam entre as atividades realizadas pelos grupos. "Existe também panificação e, quando englobamos a região metropolitana, há também empreendimentos bem interessantes da agricultura familiar, que fornecem produtos para a merenda escolar", conta o diretor de Qualificação para o Trabalho da Superintendência do Trabalho da Fundação de Ação Social (FAS), Fabiano Vilaruel.
De acordo com ele, o trabalho tem apoio de universidades e outros agentes. "Essas parcerias ajudam a otimizar os recursos disponíveis, que diminuíram drasticamente com a crise", ressalta.

Imagem ilustrativa da imagem Renda a quem não tem emprego



DEMANDAS DA SOCIEDADE
A economia solidária é o que existe de mais moderno para atender as demandas da sociedade. A opinião é do professor de empreendedorismo do curso de empreendedorismo e negócios sociais da FAE Business School, de Curitiba, Alexandre Wolf. "Existe muito investidor buscando exatamente esse tipo de negócio para aplicar o seu capital. O que trabalho com meus alunos é justamente a necessidade de mudança do pensamento convencional para empreender em um mundo diferente, em prol de um bem-estar coletivo", explica.

Para ele, os empreendimentos de economia solidária devem ser caracterizados pela real percepção da demanda social, precisam ser "altamente inovadores, ancorados em tecnologia e sustentabilidade; e criativos, poupando recursos, usando formas diferentes de produção".

Artesã chega a ganhar R$ 3 mil no Natal

Érica Satie Enomoto Ribeiro aprendeu a calcular preço e gerir o negócio no Centro de Economia Solidária
Érica Satie Enomoto Ribeiro aprendeu a calcular preço e gerir o negócio no Centro de Economia Solidária | Foto: Gustavo Carneiro



Érica Satie Enomoto Ribeiro é filha e neta de artesãs. Ela integra o grupo Uniarts, de economia solidária, que teve início em Londrina há 10 anos. "Brincava de artesanato desde muito nova. Mas só quando fui trabalhar com minha mãe Cleusa, que já participava da economia solidária, que aprendi que o artesanato pode ser fonte de renda. Aprendi a calcular o preço de cada item produzido e a gerir o negócio", conta.

A família tem a produção direcionada a enxoval de bebês, mas Érika está diversificando o trabalho com feltro para produzir bichos de pelúcia. Trabalhando em um grupo de quatro pessoas, elas conseguem se revezar entre produção e venda. "Cada uma tem uma escala, assim todas conseguem ter dias para produzir em casa e outros para vender", comenta. Ela conta que cada artesã consegue uma renda entre R$ 500 e R$ 700 por mês, chegando a R$ 2 mil e R$ 3 mil no Natal.

A artesã Suzete de Jesus Soares da Silva, 47 anos, do grupo Crochê Ideal, também aprendeu o ofício ainda criança, mas a arte só virou negócio após passar por capacitação na economia solidária. "A gestão, até para organizar um negócio entre minha mãe, irmã e sobrinha, mais a formação de preço e as técnicas de vendas, são frutos dos cursos e encontros com os técnicos do Centro de Economia Solidária", aponta.

Apesar de uma participação expressiva de mulheres nos grupos, segundo pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) publicada em 2016, a maioria do quadro social dos empreendimentos no Brasil é composta por homens (56,4%) contra 43,6% de mulheres.