O primeiro investimento mundial da aliança Renault-Nissan, que foi formalizada em março do ano passado, será paranaense. Ontem, em São Paulo, as direções das indústrias francesa e japonesa anunciaram o projeto de compartilhar a unidade de produção de uma nova indústria que será construída em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. A pedra fundamental da fábrica será lançada hoje, às 15h30. A unidade será anexa ao complexo do grupo francês no município.
A Nissan pretende ingressar no Mercosul usando a Renault como plataforma. Carlos Ghosn, vice-presidente executivo da Nissan, e Pierre-Alain De Smedt, vice-presidente da Renault, informaram que o investimento de US$ 90 milhões será rateado. Em projetos comuns das duas empresas, como o que já existe no México, há uso conjunto de plataformas de produção e redes de comercialização, mas até agora as parceiras ainda não haviam unido forças para erguer novas unidades de produção, como vai ocorrer pela no Brasil.
Na unidade paranaense, a Nissan planeja montar inicialmente o utilitário Frontier, que ainda não chegou ao mercado latino-americano e já estará disponível para os norte-americanos nos próximos meses. Em seguida, o projeto é produzir a picape X-Terra, modelo fabricado nos Estados Unidos e que teve rápido sucesso de vendas: a produção de 55 mil unidades registrada no ano passado será duplicada este ano. A produção do X-Terra só deverá ser iniciada em 2003 no Brasil.
Ghosn disse que a empresa japonesa confirma, com esse projeto, a aposta no Mercosul, hoje o quarto mercado mundial, atrás do Nafta, Europa Ocidental e Japão. Até 2005, Renault e Nissan devem investir conjuntamente US$ 300 milhões (incluindo o projeto da unidade paranaense) na ‘‘aliança estratégica’’, que visa reduzir custos e otimizar estruturas de produção, tornando os seus veículos mais competitivos no mercado mundial. ‘‘A Nissan tem excelência técnica e produtividade, mas quer lucratividade e competitividade. Trunfos que a Renault pode lhe fornecer’’, disse Smedt.
Ghosn calcula que, até 2010, a Nissan deverá vender no Mercosul e Chile três milhões de veículos, um salto em comparação ao volume atual de 1,7 milhão. Reduzindo custos a partir da parceria, a empresa vai centrar esforços nos lançamentos, diz. ‘‘Não há nenhum problema em uma indústria automobilística que bons produtos não possam resolver’’, acrescenta, referindo-se ao alto nível de endividamento do grupo, que adota no Japão radical programa de redução de custos e venda de ativos.
A boa notícia para a rede de fornecedores que atende as montadoras no pólo automotivo paranaense é que os produtos da Nissan terão índice de nacionalização de 64%, segundo o vice-presidente. Um terço das empresas que hoje abastecem a Renault é do Paraná, segundo a direção da empresa francesa no Brasil. Na área comercial, a sinergia franco-japonesa também estará presente. A rede revendedora da Renault será ‘‘reforçada’’ pelo grupo asiático, que espera elevar o número de concessionárias da marca de 42, em 2001, para 120 em 2003, somente no Brasil. As duas empresas pretendem compartilhar a logística, pós-venda, assistência 24 horas e serviços financeiros no País.
Com a nova unidade de produção Renault-Nissan, serão criados 600 empregos diretos e três mil indiretos, na previsão dos dois grupos.