Imagem ilustrativa da imagem Renault anuncia 747 demissões e trabalhadores entram em greve

Funcionários da fábrica da Renault em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, iniciaram esta quarta-feira (22) em estado de greve por tempo indeterminado. A paralisação ocorre em protesto contra as 747 demissões e o encerramento do terceiro turno de trabalho, anunciados pela empresa no dia anterior. Segundo o Simec (Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba e Região), os trabalhadores permanecerão de braços cruzados até que a direção da fábrica concorde em negociar a reintegração dos funcionários desligados e apresente nova proposta de acordo salarial. A fábrica afirma não ter sido notificada sobre a greve e que os trabalhadores estariam de licença remunerada até sexta-feira (24).

O Simec alega que a empresa rompeu as negociações sem cumprir o prazo de 72 horas que a entidade havia oferecido para buscar alternativas de acordo que evitassem os desligamentos. “A empresa foi radical na sua postura e obrigou os trabalhadores em assembleia a decidir pelo estado de greve até que a empresa sente para renegociar as readmissões e os encaminhamentos de trabalho que estavam sendo negociados”, disse o presidente do sindicato, Sérgio Butka.

Segundo o sindicalista, houve acordos de férias coletivas e para adesão à Medida Provisória 936, do governo federal, que possibilitou a redução de 25% da jornada de trabalho e de salários, mas em junho a empresa apresentou uma proposta de celebração de acordo com prazo de vigência de cinco anos que previa o congelamento dos salários e a redução de jornada de 25% em caráter permanente e sem garantia de estabilidade.

A oferta foi recusada e, em 15 de julho, a empresa apresentou uma proposta de PDV (Plano de Demissão Voluntária) para desligamento de 800 trabalhadores e caso o número projetado não fosse alcançado, seria implantado o PDI (Plano de Demissão Incentivada). De acordo com o sindicato, a empresa queria ter o direito de indicar e vetar nomes para o PDV. A proposta também trazia outros pontos que previam a flexibilização das normas de trabalho - o que seria uma exigência da matriz, na França, para início da fabricação de um novo produto na planta de São José dos Pinhais -, terceirização de 1.050 operários, sendo 350 por turno a partir de 2022, e redução da tabela de salários em 20% a partir de 2022. Diante de nova recusa da categoria, a Renault teria decidido promover as demissões. "Além dos 800 que seriam demitidos agora, eles falaram em terceirizar mais 1.050 trabalhadores. Até 2022, seriam dois mil funcionários a menos. A empresa insistia na flexibilização e em outras propostas que eram muito difíceis de serem encaminhadas", avaliou Butka.

Antes das demissões desta terça-feira, a unidade de São José dos Pinhais contava com 7,3 mil trabalhadores. Entre 5% e 6% desse total estão afastados por problemas de saúde, incluindo os casos de suspeita ou confirmação de contaminação pela Covid-19. Butka acredita que a empresa reavaliou o número de desligamentos e por isso não dispensou os 800 inicialmente previstos.

As demissões, segundo a fábrica, foram resultado do agravamento da crise decorrente do novo coronavírus. Desde março a empresa vinha aplicando medidas para tentar reverter o impacto da doença no setor automotivo. Funcionários de dois turnos entraram em férias coletivas e a empresa aderiu por 60 dias à MP 936. Mesmo com as medidas de enfrentamento à crise, informou a Renault por meio de sua assessoria de imprensa, a situação complicou-se e a empresa registrou queda de 47% nas vendas no primeiro semestre na comparação com o mesmo período de 2019.

No final de maio, o Grupo Renault já havia apresentado um plano global de redução de custos fixos de mais de dois bilhões de euros em três anos com o objetivo de restabelecer a competitividade e assegurar o desenvolvimento de longo prazo. O projeto previa a simplificação dos processos, reduzindo a diversidade de componentes dos veículos, e ajuste da capacidade industrial.

Diante da dificuldade de acordo com a categoria e da necessidade de redução de custos conforme previsto no plano global, justificou a Renault, só restou a alternativa de fechar o terceiro turno de produção e demitir 747 funcionários do complexo em São José dos Pinhais. A empresa informou que irá pagar as verbas rescisórias legais, incluindo a indenização prevista na MP 936, e os funcionários desligados terão garantidos o vale-refeição até outubro, o plano de saúde até dezembro, extensivo aos dependentes, e orientação para recolocação no mercado de trabalho.

A empresa informou ainda que os trabalhadores foram notificados das demissões por meio dos canais internos de comunicação às 16h30 de terça-feira e comunicados de que nesta quarta-feira não haveria produção e todos teriam licença remunerada. A Renault informou ainda que até o início da tarde não havia sido comunicada oficialmente sobre a greve.

Até o momento, não há nenhuma nova reunião agendada entre as partes para que se reiniciem as negociações.