Registro de IG garante maior competitividade à produção do Paraná
Indicação Geográfica está presente em dez itens produzidos no Estado e outros quatro aguardam certificação
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 17 de outubro de 2022
Indicação Geográfica está presente em dez itens produzidos no Estado e outros quatro aguardam certificação
Simoni Saris - Grupo Folha
Em meados da década passada, produtores rurais do Norte Pioneiro se uniram em um trabalho coletivo e adotaram o associativismo como formas de desenvolver a produção dos pequenos agricultores daquela região do Paraná e torná-la uma referência em produtos que se destacam pela alta qualidade. Como resultado desse esforço conjunto, alguns itens produzidos na região conquistaram o registro de IG (Indicação Geográfica). A certificação é uma garantia de procedência aos consumidores e um meio de agregar valor a quem produz e aumentar a competitividade no mercado.

Os primeiros a obterem o selo foram os produtores de café de 45 municípios do Norte Pioneiro, em 2012. Cinco anos depois, foi a vez do reconhecimento da goiaba de Carlópolis. E agora, no último dia 4 de outubro, produtores de morango de Jaboti, Japira, Pinhalão e Tomazina obtiveram o diferencial competitivo. Os fruticultores receberam a certificação na modalidade Indicação de Procedência, conferida pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).
A obtenção da IG é um processo longo que exige dedicação e trabalho intensos. No caso do morango, é a conclusão de um caminho que começou a ser percorrido em 2019, com a criação da associação de produtores. “Para ter uma IG, são necessários vários aspectos, mas é preciso que o produto já seja reconhecido, tenha notoriedade. Esse é o principal aspecto”, explicou o consultor do Sebrae no Norte Pioneiro, Odemir Capello. “O INPI não confere um selo para um produto de má reputação. Tem que trabalhar para melhorar a reputação, a sustentabilidade da produção, sem trabalho escravo, e a parte de defensivo tem que estar de acordo com o que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) preconiza.”
MAIS VISIBILIDADE
Capello destacou que a concessão da IG confere maior visibilidade ao produto porque sinaliza que há uma organização em torno da produção, um manejo diferente e mais responsável do produto e uma história por trás da produção. “Há uma valorização do produtor, uma melhoria das condições de vida desses produtores, que são todos pequenos.”
Para produções em menor escala, como é o caso da fruticultura, há uma oscilação maior do mercado consumidor e, com uma certificação que ateste a qualidade superior de um determinado produto, a IG surge como uma grande vantagem no processo de comercialização, afirmou Oriel Tiago Kölln, professor doutor do curso de agronomia e coordenador do programa de mestrado em agronomia da Uenp (Universidade Estadual do Norte Pioneiro). “O selo é uma grande conquista. Quando se unem os produtores e alguns setores produtivos e conseguem concentrar esforços sobre um objetivo (associativismo ou cooperativismo), é o que de melhor a agricultura tem feito. O selo é uma grande conquista e terem se unido é outra grande conquista. Todos ganham em relação aos lucros dessa venda”, ressaltou.”
Na outra ponta, destacou Kölln, ganham também os consumidores. Quem leva um produto com IG para casa leva também a garantia de padronização do cultivo e de produção. “É um ganha-ganha coletivo”, definiu.
OUTROS REGISTROS
Além do café, da goiaba e do morango cultivados no Norte Pioneiro, o Paraná tem outros sete produtos com o registro de IG. A bala de banana de Antonina, o melado de Capanema, o queijo de Witmarsum, as uvas de Marialva, o mel do Oeste, o mel de Ortigueira e a erva-mate de São Mateus do Sul. Outros quatro produtos aguardam a certificação do INPI: os vinhos de Bituruna, o barreado e a mandioca do Litoral e a cachaça de Morretes.
Na região do Norte Pioneiro, Capello aponta outros dois produtos com potencial para requererem a certificação. São eles o açúcar mascavo produzido em alguns municípios e a pamonha de Siqueira Campos. “Estamos ainda prospectando, conhecendo o terreno”, disse ele.
Certificação deve dobrar o preço da comercialização, prevê produtor
Nascido em Pinhalão, Carlos Inácio trabalhava na construção civil quando jovem, mas diante da dificuldade de conseguir um emprego no setor, mudou-se para Atibaia (SP) e foi lá que aprendeu os segredos do cultivo do morango. De volta ao Paraná, instalou-se em Jaboti e desde 1994, ele e a família dedicam-se integralmente à produção da fruta. Inácio foi o pioneiro na produção de morango no Norte Pioneiro e é o presidente da Associação Norte Velho.
Se hoje a capital paranaense do morango fica no Norte Pioneiro, foi graças ao trabalho realizado pelos agricultores de Jaboti, Pinhalão, Japira e Tomazina. O clima da região, comentou Inácio, favorece a produção. O inverno seco e de temperaturas mais amenas e o verão quente e chuvoso beneficia a produção, além da introdução de novas variedades e a adoção de tecnologias e técnicas de cultivo. “Estamos mudando o perfil que a gente vinha trabalhando, de plantio convencional, no solo, para o semi-hidropônico. Assim, conseguimos produzir o ano todo”, contou.
Somente da sua propriedade, Inácio colhe dez toneladas de morango por ano. Mas os quatro municípios concentram mais de 500 pequenos fruticultores, com cerca de oito milhões de plantas cultivadas em quase 200 hectares. Somado, o volume de produção anual chega perto de sete mil toneladas da fruta.
“Mantemos a associação para atender e competir com os grandes centros de produção e colocar um produto diferenciado no mercado, que também quer entrega constante. A Indicação Geográfica é importante para a gente conseguir se manter no mercado”, avaliou Inácio. “A certificação geográfica é uma garantia de agregar um maior valor ao produto, oferecer ao consumidor um produto com garantia de rastreabilidade, isento de agrotóxico, com sustentabilidade, preservando o meio ambiente. No Brasil, nosso morango é o único com a IG.” O produtor calcula que a certificação possibilitará aos agricultores obter o dobro do valor na comercialização da fruta.(S.S.)
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