Com o fim do governo de Jair Bolsonaro (PL) encerra também o ciclo de Paulo Guedes à frente do Ministério da Economia. Para alguns considerado um dos melhores ministros da história do país, para outros o responsável por uma "herança maldita" nas contas públicas. A FOLHA conversou com dois especialistas em economia para saber qual o legado deixado por Guedes após quatro anos de gestão.

Guedes é conhecido pelo perfil da política econômica liberal, ou seja, defende que o maior número possível de decisões econômicas devem ser tomadas por empresas e indivíduos, e não pelo estado, como explica o economista Marcos Rambalducci.

"A ideia que prevalece neste entendimento é que empresas geridas pela iniciativa privada são mais assertivas em atender à sociedade do que aquelas que desempenham um papel de assegurar compromisso político a partir da indicação de nomes aos postos chaves. A política econômica liberal está associada às medidas voltadas a fomentar a participação privada no sistema produtivo. Dentre elas, a transferência do controle das estatais para a iniciativa privada; criação de ambiente propício ao empreendedorismo e ao investimento produtivo; garantia de solvência do Estado permitindo que este não se aproprie de renda que deveria ser utilizada em investimentos para tentar cobrir déficits fiscais do estado", detalha à FOLHA.

Para Lucas Moratto, sócio da Real Investor, Guedes deixará ao sucessor uma situação mais confortável do que a encontrada em 2019, e muito disso se deve ao fato de o ministro ter uma postura mais técnica.

"O Paulo Guedes é uma pessoa que tem uma formação técnica muito boa e isso traz um diferencial positivo do que se ter um ministro político. A parte ruim de ter uma pessoa política é que ela não tem convicção para defender alguma coisa mais extrema como, por exemplo, a Reforma da Previdência", considera.

A Reforma da Previdência é, inclusive, um dos principais pontos positivos da era Guedes, na avaliação dos dois especialistas. "Entre as vitórias de Guedes está a aprovação da Reforma da Previdência no Congresso, com uma economia de cerca de R$ 800 bilhões ao longo de dez anos, buscando garantir a solvência do Estado", cita Rambalducci à FOLHA.

Além disso, os economistas destacam a aprovação da lei que garante a autonomia relativa do Banco Central do Brasil e que permite ao órgão a liberdade para executar as políticas monetárias sem interferência do governo.

Conforme Moratto, Guedes também manteve projetos iniciados pela gestão anterior. “Ele não descontinuou nenhuma medida que foi feita pelo Governo Temer. Por exemplo, o Banco Central tinha a 'Agenda BC Mais', que começou a ser implantada no Governo Temer. Guedes apoiou essa agenda com o Open Banking e o Pix. São aspectos que estão relacionados à agenda de desenvolvimento do mercado de capitais, de aumentar a competição e diminuir o custo", afirma à FOLHA.

Ainda, são citadas como vitórias a Lei da Liberdade Econômica; os marcos regulatórios das ferrovias, da cabotagem e do saneamento; e a desalavancagem do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Em meio aos pontos positivos, o economista Marcos Rambalducci pontua algumas situações que chama de “fragorosas derrotas” de Guedes.

“Perdeu fragorosamente em dois quesitos: em manter o teto de gastos dentro dos limites pré-estabelecidos, e não conseguiu aprovar uma reforma tributária que permitisse ao setor privado sair deste emaranhado de impostos com que tem que conviver o setor produtivo”, finaliza.

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